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24/10/18 às 19:32 | Atualizada: 24/10/18 às 19:50

Qual a idade certa para começar a trabalhar?

O trabalho na infância e adolescência é um tema que sempre vem à tona. A Constituição Federal Brasileira de 1988 defende como prioridade a proteção na infância e garantia dos direitos colocando em vigor a lei Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nº 8.069 que existe desde 1990.

Conforme a lei, o trabalho infantil de 0 aos 13 anos é proibido, a partir dos 14 é liberado atividade aos menores aprendizes. Aos 16 há a possibilidade do trabalho formal com horários e condições adequadas.

No entanto, recentemente a revista Vogue obteve posicionamento contrário na contratação de menores de 18 anos, o que gerou polêmica por ser uma empresa referência no mundo da moda que conta em massa com a participação de adolescentes nas passarelas.

Sabemos que na infância o trabalho é proibido, o que é compreensível, pois é nessa fase em que as brincadeiras, a descoberta e o apoio dos pais, fará toda a diferença para o desenvolvimento físico e psicológico da criança.

Mas na adolescência com certo grau de desenvolvimento, atividades com carga horária que não atrapalhem os estudos e o desenvolvimento psíquico do jovem, é saudável ou prejudicial? Ajuda a desenvolver a responsabilidade e amadurecimento ou pelo contrário, causa sobrecarga, ansiedade e frustração?

Confira os prós e contras do trabalho na adolescência, compreenda o posicionamento da Vogue e o que pode mudar nos próximos anos sobre o trabalho entre adolescentes menores de 18 anos.

Combate ao assédio na adolescência
No último estudo do DataFolha de 2017 56% das mulheres entre os 16 e 24 anos já sofreram assédio sexual no Brasil. Seja no transporte público, instituições educacionais (escolas e universidades), trabalho e até em casa.

Outro dado que chama muito a atenção é que quanto mais nova a brasileira, maior é a possibilidade de sofrer violência, sobretudo na fase entre os 16 e 24 anos. No mundo conforme o levantamento realizado pelo Kering Foundation 15 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos já sofreram abuso sexual.

A partir desses dados e da realidade do abuso infantil e na adolescência não só no Brasil, mas no mundo, compreende-se o posicionamento da revista Vogue frente a essa situação.

O combate ao assédio – principalmente na infância e adolescência – é uma das causas para o posicionamento da empresa no combate ao trabalho infantil. Esse ano houve um movimento muito importante para discutir o assédio contra a mulher no mundo da moda chamado #Metoo.

No desfile em Nova York Fashion Week (NYFW) trouxe a tona histórias reais e a voz de mulheres que já passaram por abusos enquanto trabalhavam como modelos ou na vida pessoal.

Crianças e adolescentes com transtorno de imagem
No mundo da arte e moda a discussão sobre o trabalho infantil gera polêmica. Por um lado juristas conscientizam a sociedade pelos prejuízos psíquicos causados por esse exercício, principalmente a pressão para seguir padrões de beleza impostos. Já por outro, a população costuma enxergar o exercício com glamour e fama.

Um estudo realizado nos EUA pela North University divulga que 3% dos adolescentes americanos entre os 13 e 18 anos sofrem de transtornos alimentares.

Vale lembrar que esses dados são retirados de diagnósticos clínicos, porém milhares de adolescentes sofrem por transtornos de imagem silenciosamente, já que é uma doença que pode passar despercebida pelos mais próximos.

Os transtornos alimentares afetam em sua maioria artistas, modelos e ginastas, as razões são óbvias, e se limitam a pressão pelo corpo ideal exigido por essas atividades.

A partir de dados mundiais sobre o transtorno de imagem que atinge principalmente o adolescente, é compreensível a tomada de decisão da Vogue que inclui como um dos argumentos sobre proibição de trabalhos infantis e na adolescência a suscetibilidade a esses tipos de transtornos.

Proposta da Vogue e agências americanas
A Council of Fashion Designers of America (CFDA), uma associação comercial responsável pelas 350 agências mais importantes dos EUA apoia a restrição de trabalho para jovens adolescentes, portanto essa medida não será uma adesão somente da Vogue, mas futuramente por toda a indústria da moda.

Os trabalhos serão permitidos somente em situações em que a modelo seja a entrevistada da matéria. Nesse caso pais ou responsáveis legais devem estar presentes no estúdio acompanhando todo o processo. Vestimentas serão selecionadas conforme a idade da modelo, prevenindo assim qualquer tipo de erotização precoce inadequada para a fase.

Rever conceitos de glamour na moda é essencial para conscientização da sociedade
Nos últimos anos houve diversas campanhas com a participação de modelos renomadas sobre a real perspectiva do mundo da moda. Ao contrário do que a sociedade muitas vezes enxerga por trás dos bastidores existe a ausência de limites e muita pressão psicológica que fica camuflada pelo glamour que o efeito ‘passarela’ apresenta e convence milhares de jovens no mundo inteiro que sonham em adentrar na profissão.

Pensar em maioridade para o exercício de modelo é uma medida responsável e atenta das agências que visam reformular esses conceitos prejudiciais.

Adolescentes estão numa fase delicada na formação de valores, na construção psicológica e precisam de maturidade para enxergar o exercício como ele realmente é, do viés positivo ao negativo, e conscientes do estabelecimento de limites e condutas que terão de seguir.

 A colunista da revista Vogue Maya Singer diz que é urgente rever o conceito de contratar modelos muito jovens, pois houve falhas no apoio psicológico, o que gerou principalmente o acesso indevido ao álcool e outras drogas numa fase extremamente delicada para a formação de conduta e valores.

Além das longas jornadas de trabalho e pressão para manter o corpo conforme os padrões, adolescentes podem ser facilmente manipulados por conta da inexperiência e até ingenuidade. As famílias, muitas vezes encantadas com o sucesso, mal sabem o que de fato está acontecendo por trás dos bastidores.

A Vogue já esteve envolvida em polêmicas na imprensa mundial nos anos 80 ao apresentar Brooks Shields na capa da revista quando tinha apenas 14 anos. A cerca dos movimentos atuais a revista deseja se posicionar contra o trabalho infantil, prevenção de transtornos psicológicos e responsabilidade necessária das agências frente a esses problemas.
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