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17/06/18 às 15:06

Sem água, tomada, wi-fi e até banheiro: a aventura de viajar pela Rússia de trem

O relógio aponta vinte e uma horas e trinta e nova minutos do dia 17 de junho em Sochi, a Miami russa. A plataforma um da bela estação de trem da cidade está lotada de brasileiros e portugueses ainda extasiados com a atuação de Cristiano Ronaldo na noite anterior. Uma viagem de mais de 13 horas e 565 quilômetros de distância separam os torcedores de Rostov-no-Don, cidade onde a seleção de Tite inicia o sonho do hexa.

Uma forte luz amarela ao fundo se aproxima da plataforma provocando um certo alvoroço entre os turistas. Rangendo os trilhos aparece um trem soviético que fez a sua viagem inicial no dia primeiro de janeiro de 1978. Aos gritos de “Vai, Brasil” e “Cristiano Ronaldo” as pessoas entram nos vagões apertados e a realidade aparece.

Uma tripulação nada sutil recebe as pessoas sem um sorriso sequer. Água, wi-fi ou tomadas são desejos longínquos para os passageiros que pagaram cerca de 80 reais no bilhete do trecho. As reclamações consomem o ambiente. A situação mais inusitada da noite, ao menos para os turistas, surge quando todos percebem que o banheiro só poderá ser usado entre meia noite e seis da manhã. O motivo nada peculiar se dá pelo fato do início e do fim da viagem serem próximos da costa e dentro das grandes cidades, sendo que não há qualquer tipo de compartimento que retenha as necessidades fisiológicas dos passageiros entre os trilhos e a privada.

Os russos presentes se encantam com a surpresa dos turistas diante da situação e não conseguem segurar as risadas. “É muito engraçado vê-los tentando falar com a gente em inglês e não entendendo absolutamente nada do que falamos com vocês”, disse aos risos Irina Filatova, que viaja ao lado do seu amigo Bogdan Babaev, os únicos dois russos que falam inglês no vagão dois do trem que levava 48 pessoas, algumas delas crianças que completamente adaptadas a situação, se aventuravam brincando e pulando de uma cama para a outra.

De férias para assistir a Copa do Mundo, as jornalistas Maria Carolina de Oliveira e Grasielle Castro admitem o espanto ao descobrir as condições da viagem “que bom ver outro brasileiro neste vagão, esse cara aqui do meu lado deu boa noite e com um inglês macarrônico veio falar que Rostov é conhecida como a ‘cidade da morte’ na Rússia. Estamos com um certo medo”.

Por volta da uma da manhã muitos já estão dormindo, entre roncos e odores nada agradáveis, um casal peruano segue lamentando o pênalti perdido por Christian Cueva contra a Dinamarca e algumas pessoas negociam ingressos para os próximos jogos da Copa.

O trem para quase que a cada 30 minutos. Descem alguns, sobem outros, mas as pessoas de certa forma já se acostumaram com o ambiente. Durante a madrugada de fato, o trajeto é tranquilo.

Passadas 13 horas, o trem se aproxima de Rostov-no-Don, as pessoas levantam, se espreguiçam, mas ainda não conseguem lavar o rosto, tampouco usar o banheiro. Ao menos o clima mudou, afinal: é dia de estreia do Brasil na Copa.

Arrastando malas pela estação, alguns brasileiros começam a puxar gritos de incentivo para a seleção de Tite. “Uma das maiores aventuras aqui na Rússia, viajar com os locais nessas condições. É o ano do hexa! Vai, Brasil!”
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