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11/05/18 às 10:24

O adeus do ex-deputado Jota Barreto

Um dos protagonistas da passagem em ainda em curso do ciclo dos grandes caciques políticos para a transparência e a rotatividade mais ampla do poder em Mato Grosso foi Barreto. No palanque desde 1982, exerceu vários cargos. Saiu de cena na noite da quarta-feira (09) num acidente envolvendo 12 veículos na BR-364, imediações de Jaciara, quando seguia de Cuiabá para Rondonópolis, sua cidade. Foi mais uma vítima do chamado “Corredor da Morte” – a BR-364, cujo projeto de duplicação ora em execução foi uma de suas bandeiras parlamentares.

Hermínio Barreto, o Jota Barreto ou Barreto, morreu aos 69 anos num acidente que também custou à vida de seu cunhado Ailton Pereira dos Santos, o Ita, que dirigia o Jeep Renegade em que viajava. O acidente aconteceu por volta de 18 horas, no KM 278. Três pessoas sofreram algum tipo de ferimento e foram encaminhadas para atendimento em Jaciara. A Polícia Civil investiga as causas e preliminarmente a informação da Polícia Rodoviária Federal é a de que uma carreta teria perdido o freio e atingido os demais carros.

Os corpos de Barreto e Ita foram velados ontem na Câmara Municipal de Rondonópolis e sepultados no Cemitério de Vila Aurora, naquela cidade. O prefeito Zé Carlos do Pátio decretou luto oficial por três dias. O Governo de Mato Grosso e o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho, distribuíram nota de pesar.

Apaixonado por esporte e política, Barreto deixa a viúva professora Olinda e um casal de filhos. A moça recebeu o nome de Laura; é a Laurinha. O rapaz nasceu em 19 de agosto de 1982, logo após o Mundial daquele ano, em que o Brasil encantou o mundo com seu futebol alegre, que mesmo sem levantar o título recebia elogios de todos; fã do jogador Éder Aleixo, Barreto não vacilou na escolha do nome do herdeiro: Éder. Olinda, Laurinha e Éder estão enlutados.

No final dos anos 1960 Barreto bateu às portas de Rondonópolis em busca de um microfone. Foi contratado para a Rádio Branife AM. Repórter habilidoso caiu nas graças do deputado estadual Afro Stefanini, que o indicou para o cargo de Agente de Fiscalização e Arrecadação (AFA) da Secretaria de Fazenda de Mato Grosso.

Narrador esportivo, Barreto conquistou fãs em Rondonópolis. Na eleição de 1982 ganhou mandato de vereador. Naquele mesmo ano Carlos Bezerra foi eleito prefeito da cidade. Quatro anos depois os dois voltaram às urnas. Barreto elegeu-se para a Assembleia Legislativa enquanto deputado constituinte e Bezerra virou governador, mas em campos opostos.

Em 1988 Barreto ganhou a prefeitura e após a vitória correu para abraçar Daniel Moura, o primeiro prefeito eleito de Rondonópolis e no qual se inspirava. Para exercer o novo cargo renunciou ao mandato de deputado. Em janeiro de 1993, ao entregar o município ao sucessor Carlos Bezerra mergulhou em novas campanhas para a Assembleia onde permaneceu enquanto titular e suplente até janeiro de 2015.

Deputado constituinte, sim, mas signatário da Constituição, não, pois em 05 de outubro de 1989 – data de sua promulgação pelo presidente da Assembleia, Antônio Amaral – era prefeito da sua Rondonópolis.

Colecionou vitórias e derrotas. Erros e acertos foram bem mais, porém não devem ser citados, pois ele não se encontra entre nós para se defender nem para comemorar. Política é um caminho espinhoso, sombrio, traiçoeiro, misterioso que costuma macular indistintamente, mas essa mesma trilha proporcionou a Barreto imensa felicidade e muita luz em sua vida, principalmente na esfera familiar.

A infância de Barreto foi muito difícil. Aos três meses, no colo da mãe, Maria Cândida, pegou a estrada em sua terra, Ibitiara, na mística Chapada Diamantina, na Boa Terra, e desembarcou em Campo Grande (à época Mato Grosso), onde dona Maria Cândida começou nova fase de sua vida deixando para trás o ex-marido e filhos. Nem registro de nascimento ele tinha. Sua mãe foi ao cartório e em nome do recomeço o registrou dando-lhe a naturalidade campo-grandense. Foi baiano de berço e sul-mato-grossense na documentação.

Um ano após a posse na prefeitura Barreto foi a São Paulo participar de um encontro nacional de prefeitos e aquele evento marcou sua vida para sempre. O som ambiente citava os nomes dos participantes. Enquanto tomava café ele ouviu, “Presente aqui o prefeito de Ibitiara, Bahia, senhor Juarez Marcelino da Silva”. A palavra ‘Ibitiara’ tocou seu coração e ele pediu na organização que localizassem Juarez, pois queria conhece-lo.

Os olhares de Barreto e Juarez se cruzaram, se atracaram num abraço sem fim, banhado em lágrimas. A longa viagem que o isolou de suas origens baianas não conseguiu mantê-lo distante dos seus. São Paulo os reaproximou – ou aproximou, afinal ele ainda estava no colo quando deixou a Boa Terra. Eram irmãos. Juarez e Barreto, separados pela distância e unidos pela paixão em comum: a política que os elegeu para o mesmo cargo, no mesmo ano.

O Barreto narrador esportivo e político não está entre nós. Partiu. Com seus defeitos e virtudes deixou um dos capítulos da nova política mato-grossense que é escrita por muitas mãos, em busca de novos horizontes, de aprimoramento e em nome da verdadeira democracia. Descanse em paz!
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