As ligações entre o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e as igrejas evangélicas, cujos fiéis formam grande parte do seu eleitorado, são objeto de análise da denúncia criminal apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira. Conforme os procuradores, o parlamentar fluminense — atual presidente da Câmara Federal — teria repassado a templos evangélicos parte da propina recebida com desvios em contratos da Petrobras.
Conforme relata o doleiro Alberto Youssef em delação premiada à PGR, ele transferiu a empresas de fachada mantidas pelo lobista Fernando Soares, o Baiano, ligado ao PMDB. Baiano, por sua vez, ficou encarregado de indicar a outros lobistas mais valores que deveriam ser pagos como propina — desta vez, ao deputado Eduardo Cunha.
Conforme a investigação da PGR, Baiano indicou ao lobista Júlio Camargo (que trabalhava para a multinacional coreana Samsung na venda de sondas de perfuração de óleo à Petrobras) que fizesse pagamento de alguns valores à Igreja Evangélica Assembleia de Deus.
— Pessoal dessa igreja vai entrar em contato com o senhor — teria avisado Baiano a Camargo.
Isso realmente ocorreu, asseguram os procuradores da República. Foram repassados dados bancários da igreja a Camargo, que repassou valores à Assembleia de Deus: duas parcelas de R$ 125 mil, em 31 de agosto de 2012.
O templo fica no Rio de Janeiro. Metade do dinheiro saiu da empresa Treviso, a outra metade da Piemonte. As duas são firmas de fachada mantidas por Camargo para pagamento de propinas, simulando serviços não realizados efetivamente.
A denúncia da PGR fala que "é notória a vinculação de Eduardo Cunha com a referida igreja", dando detalhes de contato dele com pastores da Assembleia de Deus. Os investigadores ressaltam também o fato de Julio Camargo nunca ter feito antes doações à igreja e a palavra dele, na delação, de que fez isso apenas como parte do pagamento de propina devida a Cunha.