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15/05/17 às 17:01

O que falta à indústria brasileira

Stefan Ketter, Presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para a América Latina

AguaBoaNews

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Em 2013, quando retornei ao Brasil depois de anos trabalhando no exterior, fiz uma constatação preocupante: a indústria brasileira estava menor e menos diversificada do que fora dez anos antes, quando eu estava no país. Isto era particularmente visível para mim na cadeia automotiva, à qual me dedico desde os anos 1980, mas intuía que este fenômeno estava disseminado por todos os setores e ramos da indústria.

De fato, alguns números e estudos, confirmaram minhas piores suspeitas. A indústria brasileira, promissora e diversificada naqueles anos 1980, entrou em declínio e perdeu peso precocemente no conjunto da economia. Depois de chegar a responder por cerca de 27% do Produto Interno Bruto (PIB), sua participação na geração de riquezas reduziu-se a cerca de 10% do PIB, nível em que nos encontramos hoje.

Uma longa cadeia de acontecimentos explica este processo – os choques econômicos dos anos 1980, a abertura comercial da década seguinte, taxas de câmbio desfavoráveis e ênfase na exportação de commodities, entre outros. O resultado foi a antecipação do processo de desindustrialização, através da redução precoce do peso do setor manufatureiro na agregação de valor à economia nacional, antes que seu potencial máximo de geração de riqueza fosse alcançado. Nos países mais ricos, o acúmulo de riqueza decorrente da produção manufatureira permite investir na educação e capacitação da população, gerando condições para uma mudança natural de patamar produtivo, com a geração de empregos de maior complexidade intelectual no setor de serviços.

Estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que entre os países mais ricos o processo de desindustrialização aconteceu quando a renda per capita ultrapassou o patamar de US$ 20 mil, havendo uma transição natural e virtuosa para o setor de serviços impulsionado pela inovação tecnológica. No Brasil, a desindustrialização começou quando a renda ainda estava abaixo de US$ 8 mil. A consequência não é o salto em direção a uma rica sociedade pós-industrial, mas o recuo a uma sociedade pré-industrial dependente da exportação de commodities minerais e agrícolas.

Tenho convicção de que a retomada do crescimento brasileiro depende de um esforço conjunto e contínuo de reindustrialização do país. Este é um processo com muitas etapas, que abrange recuperar as grandes cadeias produtivas da indústria brasileira, estimular a adoção de novas tecnologias e sistemas de gestão, dar prioridade à educação e capacitação da população, além de estimular a instalação de novas indústrias que adensem as cadeias produtivas existentes e criem novas cadeias. Isto não significa desprezar a relevância do setor primário na economia nacional nem reduzir a importância da expansão e sofisticação do setor de serviços. Trata-se de recuperar uma tradição e capacidade manufatureira que desenvolvemos com grande custo e voltá-lo para a inserção competitiva do Brasil no cenário econômico mundial.

Recentemente, a indústria automobilística apresentou às autoridades brasileiras uma visão estruturada deste processo, sintetizada em plano denominado “Agenda Automotiva Brasil”, contendo uma visão sobre os pilares necessários para um desenvolvimento sustentável de longo prazo. Um importante diálogo entre os setores privado e público se abre com esta iniciativa, na perspectiva de dotar o país de uma política industrial de longo prazo.

O momento em que este diálogo se estabelece é o mais adequado possível, considerando a evolução das reformas institucionais que estão ocorrendo e que tem potencial para constituir uma base sustentável para a retomada do investimento e aceleração da atividade produtiva. O novo ciclo econômico de expansão do Brasil será uma obra coletiva, em que governo, empresários e sociedade estejam orientados para uma mesma agenda estratégica.

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