Notícias / Agricultura

26/04/17 às 19:17

Circuito do Milho faz raio-X da produção em MT

Em cinco dias, expedição percorre quase 6.000 km e dá diagnóstico da produção. Pesquisadores apontam questões-chave de cada região

Marina Salles, DBO

Edição para ÁguaBoaNews, Clodoeste Kassu

Imprimir Enviar para um amigo
Circuito do Milho faz raio-X da produção em MT

Lavoura do médio norte matogrossense

Foto: Juliano Manhaguanha

Até sexta-feira, 28 de abril, o Circuito Tecnológico do Milho deve rodar quase seis mil quilômetros de norte a sul de Mato Grosso. O objetivo é avaliar as condições do milho segunda safra e fazer um raio-X do que pode ser melhorado na produção daqui para frente. Realizada pela Embrapa e Aprosoja, com apoio do Imea, a expedição deixou Cuiabá na última segunda-feira, 24, e já traz dados relevantes sobre o estado das lavouras visitadas. A amostragem é feita com base em um questionário respondido pelos produtores ou gerentes que recebem as equipes, e em avaliações a campo conduzidas por pesquisadores. 

Médio norte - De acordo com Alexandre Ferreira da Silva, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, a constatação de problemas de plantabilidade – que vêm a ser a variância na distância entre plantas na linha – foi o que mais chamou a atenção na região de Sorriso e Ipiranga do Norte, onde a equipe do Circuito visitou 12 propriedades. “Esse tem sido um problema generalizado, observado em todas as fazendas”, diz o pesquisador. O fato, segundo ele, pode estar relacionado à velocidade de plantio. “No anseio de plantar no menor intervalo possível, para diminuir a porcentagem de lavouras fora da janela ideal, muitos produtores acabam trabalhando com a velocidade acima do recomendado, e isso gera falhas”, explica.

Na lavoura, o que se vê são plantas muito próximas umas das outras ou muito distantes. “Uma situação real foi ter duas plantas a 10 centímetros uma da outra espaçadas de 60 cm da seguinte. Quando o ideal seria que a distância entre elas fosse de 30 cm”, afirma Silva. Anderson Ferreira, da Embrapa Agrossilvipastoril, lembra que as falhas aumentam a competição por nutrientes absorvidos pelas raízes, além de desperdiçar parte do nitrogênio aplicado na linha ou a lanço, em função da configuração de espaços vazios. Segundo Ferreira, além da velocidade inadequada das máquinas, sua precisão e regulagem também podem interferir na plantabilidade.

Na região do médio Norte, Silva também observou que os produtores não têm variado a taxa de adubação nitrogenada em função do nível tecnológico das sementes. “Eles estão utilizando doses abaixo do que poderia ser aplicado em lavouras de alto investimento” diz. De todas as propriedades visitadas até esta terça-feira, 25,  somente uma variou a adubação em função do nível de tecnologia. A média de adubação têm sido de 40 a 60 pontos de N. “A maioria das lavouras na zona está em processo de final do ciclo, com as plantas já secando e os grãos com característica de leitoso para farináceo”, completa o pesquisador.

Sul - Na área que compreende os municípios de Santo Antônio do leverger, Jaciara, Itiquira, Ouro Branco e Rondonópolis, os pesquisadores Eduardo Matos, da Embrapa Agrossilvipastoril, e Emerson Borghi, da Embrapa Milho e Sorgo, destacam que as lavouras estão em estado bastante satisfatório em termos de sanidade e porte, precisando apenas de alguma chuva para garantir boa produtividade. Segundo Borghi, das 12 propriedades visitadas nos últimos dois dias, apenas em duas foi observado maior ataque de pragas e doenças. A principal praga encontrada foi a lagarta spodoptera e a principal doença a mancha branca (embora seu grau de severidade fosse baixo).

O alerta para a região, segundo Matos, fica por conta da palhada, sendo que nem todas as áreas apresentaram boa condição. “Mesmo quando a gente observou uma quantidade razoável, ela era basicamente composta por milho e soja”, afirma o pesquisador. As fazendas que se destacaram positivamente nesse quesito foram as lideradas por jovens empreendedores. “Nas propriedades em que eles estão assumindo a gestão da lavoura, vimos mais consórcio de milho com braquiária. Muito bem informados, esses jovens têm dado atenção especial a pontos estudados pela comunidade científica”, acrescenta Matos.

Borghi afirma que, considerando todas as áreas avaliadas, no geral as lavouras estão em fase de início de polinização e enchimento de grãos. A expectativa entre os produtores da região sul é colher, em média, de 100 a 120 sacas de milho por hectare; o que, para o pesquisador, deve se concretizar desde que haja chuva.

Leste -  Na região de Nova Xavantina, Água Boa e Canarana, chamou a atenção, segundo o pesquisador Álvaro Vilela de Resende, da Embrapa Milho e Sorgo, o desapontamento dos produtores com a última safra de milho, o que reduziu a área cultivada em algumas propriedades. O receio de plantar, de acordo com Resende, veio da falta de chuvas que ocorreu na região na safra 2015/2016. Neste ciclo, o clima já traz reflexos para a cultura em desenvolvimento. “Na região de Nova Xavantina, temos lavouras sofrendo um pouco mais com a escassez de água, enquanto que em Canarana a distribuição de chuvas é melhor e as lavouras estão com um potencial produtivo maior”.

Assim como na região Norte, outro ponto que pode afetar a produtividade das lavouras é a plantabilidade. “Generalizado no leste, esse problema mostra que a gente ainda tem muita dificuldade de obter estande e distribuição adequada de plantas nas lavouras, o que certamente interfere no potencial produtivo independentemente do cultivar utilizado”, afirma o pesquisador. Nesta região, ele diz que observou muitas plantas duplas e falhas de germinação, que deixam a lavoura desuniforme, com altura de plantas diferente. Também foi notado um baixo investimento em adubação, com várias lavouras apresentando deficiência de N ainda no florescimento, com folhas baixeiras amareladas e secando. “Isso preocupa porque vai comprometer o enchimento de grãos”, pontua Resende.

Com relação a pragas, foram encontradas lavouras com níveis variados de danos por lagartas. “Em algumas áreas, o nível é mais preocupante, com grande desfolha pegando a fase de enchimento de grãos; lagartas atacando as espigas e perfurando sua ponta”, diz. Com relação aos milhos Bt, ele afirma que, aparentemente, somente as tecnologias Viptera e Leptra ainda têm uma boa efetividade no controle de lagartas, havendo relatos de quebra de resistência com outros materiais. Para evitar as infestações, ele recomenda que o produtor entre com pulverizações de inseticida na lavoura na hora certa e faça uso, inclusive, de produtos biológicos. “Nas lavouras da região leste vimos uma grande variação, com cultivares transgênicas sendo atacadas por alta infestação de lagartas, e áreas de milho convencional bem tratadas relativamente limpas e isentas de danos. Isso mostra que fazendo o controle é possível lidar bem com as lagartas”.

De acordo com de Resende, a maioria das lavouras de milho da região está em fase de polinização e enchimento de grãos, com o potencial produtivo variando bastante conforme a propriedade.

Oeste - Com relação à região oeste, foram visitadas até o momento fazendas em Nobres, Diamantino e Campo Novo dos Parecis. Miguel Marques Gontijo Neto, da Embrapa Milho e Sorgo, afirma que grande parte das lavouras avaliadas apresentam excelentes condições fitossanitárias. “É pouca a presença de plantas daninhas e, mesmo em lavouras em estádios vegetativos mais avançados (R3 , R4), não encontramos níveis elevados de doenças. Também não foi observado dano significativo, decorrente de ataque de pragas, nas folhas e colmos das plantas. Porém verificou-se entre 10 e 20 % das espigas com danos ocasionados por lagartas”, diz.

Segundo ele, as condições de água no solo e chuvas estão favoráveis para boas produtividades na região, sendo o preço do grão de milho o grande motivo de apreensão dos produtores.

Assim como na região leste, foi observado baixo nível de adubação nas propriedades visitadas. “Com uma ou outra utilizando fósforo e níveis de N entre 50 e 60 kg/ha”, afirma o pesquisador. Para ele, as chuvas muito frequentes até o momento podem estar mascarando alguma deficiência de nitrogênio ou potássio no solo.

comentar  Nenhum comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Agua Boa News. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Agua Boa News poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
 
 
Sitevip Internet