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08/04/17 às 14:59

Autismo: tratamento adequado é fundamental

Lígia Saito

AguaBoaNews

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Autismo: tratamento adequado é fundamental

Foto: Otmar Oliveira (F5)

Com longos cabelos cacheados, traços delicados e muita energia, a pequena Ana Alice, de cinco anos, adora correr e assistir a desenhos da Patrulha Canina e da Dora Aventureira. Fã de brincadeiras, ao vê-la correndo ao lado do irmão mais velho é praticamente impossível perceber que a pequena se encaixa no chamado Transtorno de Espectro Autista (TEA). Isso porque os cuidados adotados por seus pais desde quando o autismo foi diagnosticado permitiram que o grau do transtorno, atualmente, seja considerado leve. Mas, para alcançar esse nível de evolução, o processo foi árduo.
 
Mãe de Ana, Kelly Viegas percebeu que ela não estava se desenvolvendo normalmente quando a menina tinha um ano e meio. “Ela apresentou fala tardia, só falava números e ‘mã’ e ‘pá’. Também tinha fixação em objetos, girava muito, não interagia com as crianças, não respondia ao chamados... Com dois anos fui atrás de orientação médica e quando recebi o diagnóstico do psiquiatra foi bem difícil. Ela tinha grau moderado. Chorei bastante dois dias seguintes, já pensando no preconceito. Mas depois pensei ‘vou lutar por ela, para que ela tenha a melhor qualidade de vida possível’. Hoje, após dois anos e meio de tratamento, ela já conversa e interage com as pessoas. Repete palavras, mas forma frases”, conta.
 
Fonoaudiologia, terapia ocupacional, consultas com psicóloga e psiquiatra fazem parte do tratamento dela, que já recebeu alta da equoterapia e hoje apresenta aptidão para matemática, letras e inglês. Ana Alice já consegue frequentar festas de aniversário, o que antes não conseguia, frequenta o shopping e melhorou significativamente seu rendimento escolar.
 
Segundo Kelly, que é presidente da Associação dos Amigos do Autista de Cuiabá (@amacuiaba) desde agosto de 2016, não foi só a filha que evoluiu ao longo dos últimos anos. “Eu melhorei muito como pessoa, comecei a ver o mundo de outra forma. Era muito egoísta, reclamava de tudo e agora dou valor às pequenas coisas. Sei que é uma dificuldade, mas também é um privilégio aprender a cada dia com ela”. Ela enfatizou a importância de os pais se atentarem para o diagnóstico precoce. “Até os três anos, a possibilidade de vida com mais independência é de quase 100%. Quanto antes, melhor”. Ana Alice estuda numa escola municipal e tem assegurado o direito a uma cuidadora exclusiva, garantida pela Lei 12.764/2012 (Lei Berenice Piana).
 
A AMA conta atualmente com 120 integrantes e cerca de 300 pessoas envolvidas na associação. “Além de apoio aos pais, buscamos ressaltar os direitos dos autistas na questão da educação das crianças. A gente direciona os novos pais. Fazemos reuniões e arteterapia a cada 15 dias, e tentamos ajudar de toda forma possível. Não recebemos apoio financeiro do poder público, então contamos com a contribuição financeira dos associados ou trabalho voluntário”, assinala a presidente, que estima a existência de 11 mil casos de autismo apenas em Mato Grosso. Kelly contou que está buscando apoio do poder público para a implantação da chamada clínica-escola, que ofereça capacitação para jovens e adultos autistas.
 
Para os interessados, a página da AMA - Associação de Amigos do Autista de Cuiabá está disponível no Facebook.
 
Tratamentos – Mãe de João Carlos, de três anos, a servidora do Tribunal de Justiça Jane Barbosa descobriu há aproximadamente seis meses que seu único filho também se encaixa no Transtorno de Espectro Autista. De início, a notícia lhe tirou o chão. “Ele estava com agitação no sono e demora para falar, mas não tínhamos nenhuma suspeita de autismo. Mas na semana da consulta com a especialista ele começou com os movimentos repetitivos, parece que foi um sinal de Deus. Quando a especialista disse que havia um nítido atraso, eu fiquei arrasada porque a gente não percebia. Meu mundo desabou. No início foi bem complicado, pois não é algo que a gente aceita fácil. Eu me dei uma semana, tirei licença, fui ao fundo do poço, mas depois fui estudar o assunto. Tenho um modo de vida que acho que a melhor forma de tratar uma situação é enfrentando-a”, assinala.
 
Jane e o esposo, o policial civil Carlos Roberto Lira, contam que após a confirmação do diagnóstico a situação de João começou a piorar, pois ele passou a regredir. Diminuiu a fala, parou de cantar e de responder aos chamados dos pais, e os movimentos repetitivos se intensificaram. “Foi um baque, desesperador. A gente fica no fundo do poço e ficamos sem saber o que fazer. Pensamos o que vai ser do futuro dele, se vai ser independente... É muito difícil. Acabamos indo buscar ajuda de outras pessoas que passam pela mesma situação, que acabam nos ajudando”, diz o pai de João. “Graças a Deus tivemos uns anjos em nossas vidas e logo começamos as terapias”, complementa Jane, explicando que hoje o grau dele é de leve a moderado.
 
É nítida a preocupação da família com a saúde e bem-estar do menino, tanto que os olhos dos pais chegam a marejar quando eles falam da situação. Cursos e visitas a especialistas de outros Estados, como São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, em busca dos tratamentos de ponta também fazem parte da rotina da família. “Hoje temos prevalência alta de casos, mas poucos profissionais habilitados para atendê-los. João melhorou bastante com o tratamento em conjunto envolvendo psicólogo, terapeuta ocupacional, equoterapia, tratamento homeopático e escola especializada. Em breve, vai começar um tratamento com suplementação. Os resultados são os melhores possíveis. Nós estamos há quatro meses com o tratamento e ele já voltou a cantar. Nós sabemos que estamos só começando, é um tratamento longo, mas eu acredito na possibilidade da cura”, pontua.
 
Um dos maiores problemas envolvendo o TEA, além da falta de profissionais habilitados para o atendimento, é o elevado custo dos tratamentos. “Infelizmente o tratamento é caro e nem todos têm acesso. Além disso, muitos outros ainda não foram regulamentados no Brasil. Nossa luta é nesse sentido, a fim que todos tenham acesso ao tratamento adequado e que conheçam seus direitos”.
 
E para discutir o assunto, o Programa Bem Viver do Poder Judiciário de Mato Grosso, em parceria com a Associação de Amigos do Autista de Cuiabá, está realizando na tarde desta sexta-feira (7 de abril) o evento “Autismo – O poder da família, os tratamentos integrativos e a inclusão escolar”. A ação ocorre no auditório Gervásio Leite, na sede do Tribunal de Justiça, das 13h às 19h.
 

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