O ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP) cancelou a licença de 10 dias, publicada ontem (16), em decorrência da operação Carne Fraca, deflagrada hoje (17) pela Polícia Federal. Em nota, Blairo diz que as apurações indicam crimes contra a população brasileira e que merece ser punido com todo o rigor.
“Neste momento, toda a atenção é necessária para separarmos o joio do trigo. Muitas ações já foram implementadas para corrigir distorções e combater a corrupção e os desvios de conduta, e novas medidas serão tomadas. Estou coordenando as ações, já determinei o afastamento imediato de todos os envolvidos, e a instauração de procedimentos administrativos”, diz trecho da nota.
A operação apura o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. São cumpridos 309 mandados judiciais em seis estados e no Distrito Federal.
Segundo a polícia, a operação é a maior já realizada pela PF no país. Pela manhã, funcionários do ministério foram detidos. Segundo o site G1, sabe-se até o momento que agentes do governo teriam recebido propina para liberar licenças de frigoríficos; maiores empresas do setor são investigadas no esquema; ministro foi gravado em conversas com um dos líderes do esquema; e frigoríficos vendiam carne vencida no mercado interno e no exterior.
A operação envolve grandes empresas do setor, como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas, mas também frigoríficos menores, como Mastercarnes, Souza Ramos e Peccin, do Paraná, e Larissa, que têm unidades no Paraná e em São Paulo.
A reportagem do G1 ressalta ainda que em sua decisão, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, diz que o envolvimento do Ministério da Agricultura é "estarrecedor".
"(O ministério) foi tomado de assalto - em ambos os sentidos da palavra - por um grupo de indivíduos que traem reiteramente a obrigação de efetivamente servir à coletividade", afirmou.
Licença e coincidência
O ministro Blairo Maggi havia tirado licença ontem (17). Curiosamente, a saída ocorreu após o procurador-geral da República Rodrigo Janot apresentar inquérito ao Supremo Tribunal Federal, em razão da delação premiada da empreiteira Odebrecht, com uma lista de ministros, deputados e senadores.
Apesar da coincidência, Blairo nega que deixar a pasta tenha relação com a investigação. O progressista explica que tinha uma viagem programada ao exterior a partir de domingo, por 10 dias, mas foi cancelada em razão da secretaria de Pesca ter sido desvinculada do ministério da Agricultura e passado para o ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
“Cancelei a viagem porque eu iria justamente com o pessoal da pesca visitar feiras e essas coisas todas. Como já tinha a agenda bloqueada aqui, aproveitei para pedir uma licença e ficar no Estado durante esses dias”, argumenta Blairo.
Nesse período, o ministro diz que vai aproveitar para renovar carteira de motorista, porte de arma e uma série de licenças que estão vencendo. “Então aproveitei algumas coisas para eu fazer, mas não tem nada a ver com a Odebresch não.” E reforça também que é muito coincidência.