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17/03/17 às 14:47

Carne Fraca: Parte da propina de frigoríficos abastecia PMDB e PP

Segundo PF, dinheiro de propina paga a fiscais do Ministério da Agricultura era destinada a partidos. JBS, BRF e Seara estão entre os alvos

Estadão Conteúdo e Reuters

Edição para Água Boa News, Clodoeste Kassu

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Curitiba – A JBS e a BRF, duas das maiores companhias globais da indústria de carnes, articulavam fraudes em fiscalizações do Ministério da Agricultura com um esquema de pagamento de propina, de acordo com investigação da operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira pela Polícia Federal.

O delegado federal Maurício Moscardi Grillo afirmou nesta sexta-feira, 17, que parte do dinheiro arrecadado pelo esquema de corrupção envolvendo fiscais e maiores frigoríficos do País, descoberto pela Operação Carne Fraca, era abastecia o PMDB e o PP.

“Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era, sim, revertido para partido político. Caracteristicamente, já foi falado ao longo da investigação dois partidos que ficavam claros: o PP e o PMDB”, afirmou.

Executivos do frigorífico JBS e da empresa BRF Brasil foram presos. O esquema seria liderado por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio. Segundo a PF, a operação detectou em quase dois anos de investigação que as Superintendências Regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás “atuavam diretamente para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público”.

“Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva”, diz PF.

O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, aparece em grampo telefônico capturado pela Polícia Federal durante as investigações.  Na conversa interceptada, o ministro chama o fiscal apontado como líder de esquema de “grande chefe” e questiona sobre problemas em um frigorífico no Paraná.

Defesas

A JBS divulgou nota sobre o assunto: “Em relação a operação realizada pela Polícia Federal na manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação”, diz o texto.

“A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas em várias regiões do país, ocorreu também em três unidades produtivas da Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas”.

“A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos (…) e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos.
O espaço está aberto para manifestações dos partidos citados pelo delegado Maurício Moscardi Grillo.

Nota Oficial da CNTA
 
A Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins) representante de 110 mil trabalhadores da BRF (Sadia, Perdigão e Qualy) e de 130 mil trabalhadores da JBS (Seara e Friboi), vem por meio desta, manifestar sua preocupação com os resultados da operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal.
 
Os fatos resultantes da referida investigação sobre esquema de propina de empresários ao Ministério da Pesca e Agricultura, e quanto à venda de carnes impróprias para o consumo são lamentáveis. Saber que empresas líderes de mercado e com forte atuação no exterior são protagonistas de uma prática perversa que coloca em xeque a saúde humana em detrimento da ganância nos causa indignação.
 
Este tipo de prática ilícita e antiética não é diferente para com os trabalhadores que, por muitas vezes, são submetidos a pressões psicológicas e ritmos frenéticos de trabalho, com grande número de adoecimentos e acidentes, em detrimento do lucro da empresa. O possível envolvimento do governo neste esquema nos traz insegurança e falta de credibilidade quanto a outros tipos de fiscalizações muito importante para nós, como as do Ministério do Trabalho, órgão sucateado há muitos governos. Na categoria da Alimentação, o setor que lidera o número de acidentes de trabalho é o de frigoríficos. Entre 2012 e 2014, o número de acidentes de trabalho cresceu de 18.226 em 2012 para 19.821 em 2014 (alta de 8,7%).
 
Temos cobrado constantemente dos órgãos competentes a fiscalização das condições de trabalho, que são muito difíceis de acontecer pelo fato de o Ministério do Trabalho alegar não ter estrutura para atender a demanda necessária para que trabalhadores possam desempenhar suas funções com saúde e segurança. Então, nosso manifesto não só aborda a preocupação com o que é repassado aos consumidores, mas também aos trabalhadores, que estão expostos diretamente às consequências da busca pelo lucro a qualquer preço, evidenciadas nesta operação.
 
Para finalizar, acreditamos que o melhor combate a esse tipo de procedimento é a transparência e a fiscalização eficiente, com investimento de estrutura por parte dos órgãos competentes.
 
 
Artur Bueno de Camargo
Presidente da CNTA Afins

 

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