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02/08/15 às 21:40

ENTREVISTA: UFMT se equilibra apesar de cortes

Reitora Maria Lucia Cavalli Neder diz que contingenciamento não afetou programas essenciais, se mostra otimista com novo hospital e fala de política partidária

MARCOS LEMOS

Diário de Cuiabá

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ENTREVISTA: UFMT se equilibra apesar de cortes

A reitora da Universidade Federal de Mato Grosso Maria Lúcia Cavalli Neder (PCdoB) é um dos nomes cotados para disputar as eleições de 2016

Com um currículo profissional invejável na área educacional e próxima de completar em 2016 oito anos à frente da reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) - que tem o terceiro maior orçamento público do Estado e um universo todo próprio que reúne 23 mil alunos, 1.660 professores e 1.500 servidores, além de sete campi e presença na quase totalidade dos municípios -, Maria Lucia Cavalli Neder (PCdoB) é a entrevistada especial do DIÁRIO deste domingo.

Ela se coloca como uma otimista e aponta tanto os acertos como as falhas decorrentes do sistema de ensino e assegura que o grande problema está na falta de integração de todas as fases do ensino para a formação de profissionais de nível.

Defensora do ensino público, ela estima que só de jovens entre 18 e 25 anos que deveriam ter acesso ao ensino de terceiro grau, a um curso universitário são mais de 5 milhões, o que exige do poder público ações como os financiamentos públicos em entidades privadas para suprir a falta de vagas, mas acredita que houve avanços, como no caso do Enem, que elevou o número de participantes para as vagas de graduação existentes de 57 mil para 107 mil, sendo que 80% deste total são do próprio Estado.

Filiada ao PCdoB, Maria Lúcia Cavalli Neder não nega a vontade de ingressar na carreira política eleitoral, lembrando que participou de duas eleições diretas para a Reitoria da UFMT, mas ressalta que suas convicções e metas estão ligadas ao ensino, carreira à qual já dedicou mais de 50 anos.

DIÁRIO – A senhora sempre foi assediada e teve seu nome especulado para disputar cargos eletivos. Existe essa vontade?

MARIA LÚCIA CAVALLI NEDER – Tenho uma causa pública que é a educação. Meu envolvimento, dedicação e luta sempre foram em defesa da educação superior e dos ensinos fundamental e básico. Isto, no entanto, não implica que havendo possibilidade eu possa pensar em disputar algum cargo partidariamente. Dedico minha vida e energia à educação.

DIÁRIO – Mas a educação sempre despertou candidaturas importantes e até mesmo potencializou candidatos. Isto estimula a senhora?

MARIA LÚCIA – Primeiro entendo a educação como um direito inalienável e constitucional de todos e para todos. A educação é o eixo, o suporte de qualquer política de desenvolvimento. Não existe possibilidade de desenvolvimento social, econômico, político ou cultura sem que a educação seja suporte ou alicerce para esta construção. Isto acaba levando para a política partidária, mas de forma saudável, sem comprometimento, voltado para uma política mais realista e que atenda aos anseios do país, do Estado, dos municípios e da sociedade.

DIÁRIO - Como a senhora resumiria a UFMT?

MARIA LÚCIA – Temos que olhar as universidades para além da formação profissional, para além de apenas um espaço. A universidade tem que ser vista como uma instituição social, com responsabilidade no desenvolvimento e crescimento da nação. A inserção de uma unidade de ensino vai além do ensino e das teses. Temos uma atuação tanto política quanto técnica.

DIÁRIO – Para a senhora a educação tem uma dimensão social?

MARIA LÚCIA – Óbvio que sim. Em cada ação, seja ela educacional, de pesquisas ou mesmo de obras, pois já tivemos mais de 120 obras em andamento, obras essas que beneficiam a população, tem a inserção da educação na sociedade, na política, na economia, enfim no dia a dia de todos.

DIÁRIO – A UFMT fomenta o desenvolvimento além do ensino?

MARIA LÚCIA – Um exemplo: toda a estrutura da UFMT paga R$ 1 milhão todos os meses de energia elétrica. Então ela participa ativamente da vida do Estado, dos municípios e do cidadão. Nós somos o terceiro maior orçamento público de Mato Grosso. Estamos presentes em sete campi, crescendo e atendendo a todos.

DIÁRIO – O que a UFMT oferece em termos de ensino?

MARIA LÚCIA – Temos 106 cursos de graduação que atingem a 18 mil alunos na graduação presencial. Também são 59 cursos de pós-graduação com mais de 3 mil graduandos, fora a educação a distância que atinge a 17 polos regionais com 30 municípios e sua população. Podemos afirmar que estamos presentes em todos os municípios de Mato Grosso e isto foi conseguido com muito trabalho, investimento, dedicação e otimismo no futuro. Um exemplo da nossa atuação e amplitude pode ser medida pelos dois hospitais universitários, o Júlio Müller, e o Veterinário, além das três fazendas experimentais.

DIÁRIO – Quais os números da UFMT?

MARIA LÚCIA – São 23 mil alunos, 1.660 professores, 1.500 servidores e nos últimos anos realizamos mais de 120 obras graças ao programa de ampliação de cursos e campus.

DIÁRIO – Mas e os cortes nos orçamentos, inclusive de R$ 11 bilhões na educação?

MARIA LUCIA – As universidades estão em processo de consolidação de crescimento, de investimentos em pesquisas, em profissionais. Conseguimos evitar que os programas e ações em andamento não sofram qualquer tipo de solução de continuidade. O custeio cai 10% e vamos compatibilizar as despesas, para se evitar paralisar principalmente as obras.

DIÁRIO – Quando a senhora fala em obras, remete a questão do novo Hospital Universitário Júlio Müller, que não conseguiu prosseguir com suas obras e acabou gerando uma dúvida quanto à sua conclusão. Como está essa pendência?

MARIA LUCIA – A unidade hospitalar é tão importante que desde o princípio o governo federal aportou os R$ 60 milhões iniciais de sua parte que estão depositados em conta especial em nome do governo do Estado e rendendo juros e correção. Por problemas técnicos, o consórcio vencedor da licitação em comum acordo acabou desistindo da obra, que será novamente licitada, desta vez via Regime Diferenciado de Contratação (RDC).

DIÁRIO – Mas houve percalços nessas obras?

MARIA LÚCIA – Sim. São comuns em obras de grande envergadura. O problema foi ter se arrastado por dois anos. Acreditamos que pela modalidade RDC as coisas vão andar mais rápido e de forma eficiente, além de ter ainda uma empresa especializada para fiscalizar quem vencer a licitação pelo RDC, pois nosso interesse é concluir e colocar a obra para funcionar, pois serão 300 leitos totalmente financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para atender a população que precisa e reforçar a nosso curso de Medicina, que está entre os melhores avaliados do Brasil.

DIÁRIO – E com relação a atual estrutura do Hospital Júlio Muller?

MARIA LÚCIA – Queremos continuar com o atual espaço também, por isso, estamos em tratativa com o governo do Estado e o governo federal para retomarmos as obras da ala nefrológica para tratamento de doentes renais e melhorar a unidade para disponibilizar outros 200 leitos que ampliarão para 500 o número disponível pelo SUS. O esqueleto que está ali parado há uma década é uma obra do Estado de Mato Grosso que a UFMT quer retomar, assumir as mesmas recebendo recursos do Estado e da União para ampliar a oferta de leitos e serviços médicos em duas unidades diante da falta de oferta pública, sem custos para o cidadão de saúde pública na Grande Cuiabá. Em até 3 anos temos chances de colocar mais 500 leitos para atender a demanda pelo SUS nas duas unidades hospitalares da UFMT.

DIÁRIO – A senhora foi eleita presidente da Andifes [A Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições de Ensino Superior]. O que representa isto?

MARIA LÚCIA – A Andifes representa 63 universidades federais, dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) e dois Institutos Federais e ela discute de igual para igual as políticas públicas para a educação. Na minha compreensão, a UFMT pelos resultados dos últimos anos ganhou a respeitabilidade através da escolha de nosso nome para conduzir a entidade que trabalha com metas ousadas como elevar para 30% o número de jovens entre 18 e 25 anos, para que estes ingressem em cursos superiores. Estamos distante da realidade mundial, onde alguns países já têm 70% destes jovens no ensino superior e nós atingimos menos de 30%, estamos em 18%. É uma meta ousada que exige dedicação e empenho redobrado, além é claro de investimentos em estrutura e pessoal.

DIÁRIO – E a questão da formação de professores?

MARIA LÚCIA – É outra preocupação. Existem hoje no Brasil 500 mil professores sem formação superior atuando na educação básica. Precisamos atuar na educação continuada, com mestrados para aqueles já com curso superiores. Essas são metas da Andifes que tem criticidade e possibilidade de implantar a excelência das universidades com a mais alta capacitação que exige recursos financeiros, estrutura como equipamentos, laboratórios e pessoal.

DIÁRIO – Nos últimos anos, o sistema de ingresso de acadêmicos na UFMT ganhou um novo componente, o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. O que isto representou?

MARIA LÚCIA – No último vestibular realizado pela UFMT, nós tivemos 57 mil candidatos. No primeiro Enem, foram 107 mil candidatos, sendo que 80% deles eram de Mato Grosso. Abriu-se a perspectiva para que, independente de condição financeira, de simplesmente não poder viajar para fazer provas, os candidatos pudessem participar e disputar vagas em todo o Brasil.

DIÁRIO – Em resumo, nos quase 50 anos de dedicação a educação, como a senhora avaliaria o atual momento, até por que continuamos enfrentando greves, falta de recursos e outros problemas?

MARIA LÚCIA – Em princípio, a educação básica deveria ser básica em sua essência. A Finlândia, que tem o melhor ensino do mundo, é todo ele gratuito, isto é princípio. Não existe diversidade no ensino praticado, o que não acontece no Brasil, até mesmo por sua dimensão e população. Sou uma otimista e acredito que a Educação avançou muito, mas pode avançar mais. Problemas são para ser vencidos e a crise ela existe para ser superada e nós vamos superá-la como sempre aconteceu na história do Brasil.

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