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29/06/15 às 22:46

O Remendão do Araguaia

Além do governo federal não conseguir concluir o asfalto na BR-158, o que já foi feito está cheio de buracos, que precisam ser tapados a cada ano, um remendo sem fim que consome recursos públicos para um serviço temporário

Rafael Govari

Jornal O Pioneiro

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O Remendão do Araguaia

Situação no trecho entre Ribeirão Cascalheira e a Matinha

Foto: Rafael Govari / Jornal O Pioneiro

CANARANA - A única via de ligação de todo o Vale do Araguaia continua um caos. Depois que foi criada a Terra Indígena Marãiwatsédé, a BR-158 espichou mais 60 km entre Barra do Garças e Vila Rica, na divisa com o Pará. São mais de 800 km. Desse total, ainda faltam ser asfaltados 180 km no contorno da TI e vários trechos já asfaltados estão esburacados.

No trecho da BR-158 entre o entroncamento com a MT-326 e o distrito da Matinha, município de Canarana, na beira da estrada estava um Fiat Uno queimado na semana passada. Já no trecho entre o distrito da Matinha e a cidade de Ribeirão Cascalheira, o que estava todo destruído por causa de um incêndio era uma carreta com cavalinho e caçamba.

Na quarta-feira da semana passada, 17, um caminhão carregado com bebidas tombou ao tentar passar por uma buraqueira no trecho entre Ribeirão Cascalheira e a Matinha. Alguns dias antes, dois caminhões carregados com calcário de uma mesma empresa bateram no mesmo ponto. O da frente tentou frear por causa dos buracos e o que vinha atrás bateu na traseira. Os dois foram parar fora da pista.

No último sábado, 20, a reportagem do J. O Pioneiro encontrou no mesmo trecho o caminhoneiro Mario Henrique, 40 anos, de Maringá-PR. Ele estava com sua carreta cheia de soja fazendo o trajeto entre Querência-MT e Goiânia-GO. Caiu em um buraco e quebrou uma roda, parando na beira da rodovia. “Estou no meio do nada, sem assistência, sem sinal de celular com meu caminhão quebrado”, contou.

Mario estava tentando arrumar seu caminhão por conta própria. Recebia a ajuda de outro caminhoneiro que fazia o mesmo trajeto, Igor Schubert, 35 anos, também de Maringá. “Nós rodamos por todo o Brasil e as piores estradas estão no Mato Grosso, sendo uma delas a BR-158 nesse trecho”, falou.

No trecho da BR-158 depois do entroncamento com a BR-242 (Querência) e a localidade do Alô Brasil, os buracos da rodovia foram tapados mais uma vez. Não é a primeira vez. O trecho entre Ribeirão Cascalheira e a Matinha também receberá a operação em breve. Mas ninguém duvida que daqui a um ano a rodovia estará novamente deteriorada.

Os buracos trazem perda de tempo para todos que trafegam pela estrada. São mais de 300 mil habitantes na região do Vale do Araguaia espalhados por 30 municípios. A região plantou mais de um milhão de hectares na última safra e até 2022 serão mais de dois milhões, conforme dados do IMEA. População e produção passam por esta rodovia.

Mas a perda de tempo é a menor das perdas. Todos os dias não é raro ver veículos e caminhões quebrados, ou envolvidos em acidentes, o que traz prejuízos financeiros. Ou pior, é quando vem as notícias de que vidas foram ceifadas nessa estrada.

A criação da TI atrasou a conclusão do asfaltamento. Mas o que foi feito, todo ano fica esburacado, o que leva a algumas conclusões: o serviço foi mal feito e caminhões trefegam acima do peso porque não há fiscalização. E se o serviço foi mal feito, as suposições vão desde desvio de parte do dinheiro da obra pela corrupção, à incapacidade de execução pelas empreiteiras.

No ano de 2006, na cidade de Água Boa, políticos estaduais anunciaram que haviam angariado o recurso para a conclusão da BR-158. Já se passou quase uma década e a BR-158 não foi concluída. E o que foi concluído está esburacado. Será preciso um século para concluir a obra? Quando o último trecho estiver pronto, o primeiro trecho feito ainda estará inteiro?

Em contato com o deputado estadual Baiano Filho (PMDB), parlamentar atuante em defesa do Vale do Araguaia, ele disse que o Ibama não está liberando as licenças ambientais de várias rodovias no Araguaia, entre elas a BR-158, porque a Funai não concede as licenças de sua competência. No mês de julho, ele deve participar de uma audiência com a ministra da Agricultura Katia Abreu. Após, ele deve participar de uma audiência com a Funai para pedir um posicionamento. “Se não houver entendimento ou os prazos não forem cumpridos, iremos fazer um grande protesto na região”, informou o deputado. O trecho da BR-158 não asfaltado ainda não tem projeto pronto por falta de licença ambiental.

Os fatos mostram que o problema não é dinheiro, mas sim capacidade. Se existe burocracia, se existe terra indígena, se existem empreiteiras sem capacidade, se existe corrupção, então são fatores que obviamente atrasam uma obra. Entretanto, nossas autoridades lá estão para resolver questões como essas e entregar uma obra decente para a população, não um remendão, que ainda levou décadas para ficar pronto.

 
Uno queimado na BR-158
 
Igor Schubert, 35 anos
 
Caminhão destruído pelo fogo na beira da BR-158. Buracos esquentam os freios que provocam incêndios nos veículos
 
Mario Henrique, 40 anos
 
O que o leitor acha que acontece se um carro pequeno cai em um buraco desses?
 
Depois que foi criada a Terra Indígena Marãiwatsédé, a BR-158 espichou mais 60 km entre Barra do Garças e Vila Rica, na divisa com o Pará. São mais de 800 km. Desse total, ainda faltam ser asfaltados 180 km no contorno da TI e vários trechos já asfaltados estão esburacados. A montagem mostra o desvio da TI, ainda não asfaltado.
 
Na quarta-feira da semana passada, 17, um caminhão carregado com bebidas tombou ao tentar passar por uma buraqueira no trecho entre Ribeirão Cascalheira e a Matinha. Alguns dias antes, dois caminhões carregados com calcário de uma mesma empresa bateram no mesmo ponto. O da frente tentou frear por causa dos buracos e o que vinha atrás bateu na traseira. Os dois foram parar fora da pista.

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