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08/08/16 às 08:13

BR-153: nova rota do contrabando

Deslocamento de parte dos efetivos das polícias Federal e Rodoviária Federal em Goiás para a segurança dos Jogos Olímpicos é fator de facilitação da ação de traficantes, com a diminuição das ações de rotina de fiscalização ao longo da rodo

 
O aumento da fiscalização policial na fronteira do Brasil, em particular com o Paraguai, Bolívia e Colômbia, agora intensificada por conta dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, pode ter desenhado uma nova rota do contrabando de armas, cigarros e entorpecentes. Ao invés de rotas tradicionais, como as de cidades de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a BR-153, no trecho entre Tocantins a Goiás, estaria se tornando um novo corredor de “escoamento” de armamentos e drogas para centros como Rio e São Paulo.

A travessia, partindo da Colômbia, passaria pelo Suriname e Guiana Francesa, até chegar ao Amapá, Pará e Maranhão, seguindo o curso da rodovia também conhecida como Belém-Brasília. Saindo de Marabá, no Pará, a BR cruza, além de Tocantins e Goiás, os Estados do Maranhão, Minas Gerais São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, totalizando 4.355 quilômetros.

Ao longo do trecho goiano e tocantinense, traficantes fazem a distribuição sistemática de drogas, cuja ação vem sendo comprovada por apreensões feitas pela polícia. Trata-se do abastecimento de bocas de fumo ao longo da via, até chegar aos grandes centros de consumo.

Em maio, um casal foi preso em Uruaçu, quando viajavam de ônibus de Goiânia a Teresina (PI), com 40 quilos de drogas análogas a metanfetamina e anfetamina, avaliadas em R$ 1 milhão.

Em junho, uma operação deflagrada pela Delegacia Especializada na Repressão a Narcóticos (Denarc), apreendeu, em Paraíso do Tocantins, 15 quilos de maconha, e prendeu um traficante. O carregamento da droga estava indo de Goiânia para ser vendida nas cidades tocantinenses de Miranorte, Miracema e Pedro Afonso.

Também no mês de julho, a polícia apreendeu, em Araguaína, 611 quilos de maconha, que estavam sendo transportados de Goiânia para São Luís do Maranhão. Dois homens foram presos e dois veículos apreendidos. Dias depois, duas mulheres foram presas com 50 quilos de maconha e porções de cocaína.

Com pista única, rodovia vira armadilha

Com pista única, de Goiânia a Aguiarnópolis (TO), a BR-153 é considerada uma das mais perigosas do país. A reportagem do O HOJE não obteve relatório oficial sobre o número de acidentes ocorridos este ano, mas os casos mais graves registrados pela imprensa dos dois estados dão a dimensão do perigo para quem transita pela rodovia.

O problema já deveria ter sido resolvido. Em 2014, a Galvão Engenharia venceu leilão de concessão de parte do trecho da rodovia, entre Goiás e Tocantins, dentro do Programa de Investimentos em Logística (PIL), totalizando 624,8 quilômetros, de Anápolis e a Aliança do Tocantins.

O processo, ocorrido na BM&F Bovespa, registrou deságio de 45,99% sobre o valor-teto estabelecido pelo governo federal, de R$ 9,22 para o pedágio a cada 100 quilômetros. A previsão era de investimentos de R$ 4,31 bilhões, segundo estimativa da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A concessionária deveria duplicar 589,3 quilômetros em até cinco anos. Hoje, há apenas algumas placas fincadas às margens da BR.

Tudo indica que a obra não será levada à diante, pelo menos por agora. É que a Galvão Engenharia está no furacão da Operação Lava Jato, e pode ser considerada inidônea. O juiz federal Sérgio Moro está de olho no caso, depois de ter condenado o ex-presidente da empresa Dario de Queiroz Galvão e outros dois executivos.

Por conta da investigação, a empresa, em recuperação judicial desde 2015, não conseguiu até agora sequer financiamento para iniciar ao menos os 10% iniciais da duplicação. Por outro lado, já foi autuada 28 vezes pela ANTT por descumprimento de contrato. Por isso, ela corre o risco de perder a concessão.

Radares

O risco de acidentes também aumenta com a desativação de radares. Nos 1,3 quilômetros, de Goiânia a Aguiarnópolis na divisa com o Estado do Maranhão, são poucos os equipamentos que funcionam, ou seja, as luzes piscam, mas não registram a velocidade dos veículos.no valor de R$ 74,6 milhões para garantir a continuidade dos serviços. Ao longo do trecho, as balanças de pesagem de veículos estão desativadas, o que aumenta o perigo. A fiscalização é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) foi retomada.

Em abril, o Dnit chegou a anunciar a volta da fiscalização do excesso de peso de caminhões, fato que, além de aumentar o risco de acidentes, causa danos às estradas. A reabertura se daria em praças de Mato Grosso, Santa Catarina e Goiás. Pelo menos em Goiás e Tocantins não se ver o funcionamento desses postos.

Em 2015, a Polícia Rodoviária Federal flagrou quase 18 mil caminhões com carga acima do peso permitido.

Olímpiadas ‘esvaziam’ policiamento

Desde o início da movimentação em torno dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, de preparação do esquema de segurança, reduziu o movimento de fiscalização de rotina nos postos da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Eles estão localizados nas cidades tocantinenses de Aguiarnópolis, Araguaína, Guaraí, Paraíso e Gurupi; e nas goianas Porangatu, Uruaçu, Jaraguá, Goiânia, Hidrolândia, Morrinhos e Itumbiara, na divisa com Minas Gerais.

O presidente do Sindicato dos Policiais Federais em Goiás, Paulo Afonso, credita a ausência de homens da corporação na pista em razão do deslocamento de parte deles para reforço da segurança dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, como também em outros estados onde acontecerão eventos esportivos. Afonso disse que não há em curso nenhum movimento grevista da categoria, explicando que no final do ano passado, após uma paralisação, foi feito acordo com o governo federal para a reposição de perdas salarias.

O Núcleo de Comunicação da PRG, em Goiás, não soube informar o número exato de policiais deslocados para o esquema de segurança da Olimpíada. Por conta da Olimpíada, o Ministério da Defesa recrutou aos menos 20 mil policias. 

Araguaína pede socorro por segurança

 Cidades como Uruaçu e Porangatu, em Goiás; e Gurupi e Paraíso do Norte, no Tocantins, têm registrado prisões de traficantes e de contrabandistas. Mas o caso mais preocupante vem ocorrendo em Araguaína (TO), ao ponto de o prefeito da cidade ter pedido diretamente ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, intervenção da Força Nacional de Segurança, por 90 dias.

Na semana passada, o prefeito Ronaldo Dimas (PR) entregou o documento pessoalmente ao ministro, mesmo depois de o governo do Tocantins anunciar a implantação de uma força tática estadual. Como forma de reforçar a necessidade de que a cidade precisa de seguranças, Dimas levou a Moraes estatísticas que mostram o registro de 54 homicídios e 3.519 ocorrências de outras naturezas de janeiro a julho deste ano.

Além do reforço policial, o prefeito solicitou a liberação de R$ 4,9 milhões para a implantação do sistema de videomonitoramento na cidade. No documento entregue ao ministro da Justiça, o prefeito republicano sintetiza o sentimento de insegurança e medo da população tocantinense. “Está se instalando o caos na segurança pública de nossa cidade e, porque não dizer, no Estado.”

Análise da notícia - Venceslau Pimentel

Em julho, percorri de carro cerca de 2,3 quilômetros (ida e volta) da BR-153, de Goiânia a Aguiarnópolis (TO), já na divisa com o Estado do Maranhão. Ao longo do trecho, não vi nenhum policial rodoviário federal na pista. Nem durante o dia e nem à noite. São pelo menos nove postos da PRF ao longo do trecho entre Goiás e Tocantins.

Os radares para controle de velocidade estão desligados. Alguns poucos ainda acendem a luz amarela na passagem de veículos, mas não registram a velocidade. Muitos estão danificados pela ação da chuva e do sol e não foram consertados ou substituídos. Sem fiscalização, o que se vê são motoristas abusando da velocidade.  Ao longo da viagem, presenciei tombamento de caminhões e acidentes com veículos menores.

O risco aumenta ainda mais porque a pista não é duplicada. A empresa Galvão Engenharia, que arrematou a concessão do trecho da rodovia, de Anápolis a Aliança do Tocantins, de 625 quilômetros, praticamente não executou nenhum tipo de serviços. E já se vão dois anos sem nenhuma benfeitoria. Com rara exceção, alguns trechos estão sendo recuperados, mas em muitos deles não há acostamento.

Mas a situação pode piorar, diante da possibilidade de o contrato com a Galvão ser suspenso, já que a empresa está envolvida na Lava Jato. Em 2015, o juiz federal Sérgio Moro condenou executivos, sendo que o ex-presidente recebeu pena de 13 anos e dois meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. De acordo com Moro, a empresa estaria envolvida no cartel de licitações da Petrobras.

No entanto, os problemas na BR-153 não param por aí. As balanças de pesagem de caminhões com cargas estão desativadas. Além de danificar a malha rodoviária, são uma ameaça à segurança de quem transita pela rodovia, também conhecida por Belém-Brasília. 

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