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25/05/16 às 16:05 / Atualizada: 25/05/16 às 16:16

Indígenas Kisêdjê concluem o plantio de 60 hectares de pequi

Rafael Govari – ISA

AGUA BOA NEWS

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Indígenas Kisêdjê concluem o plantio de 60 hectares de pequi

Área da foto é um plantio de pequi em consórcio com frutas e capim braquiária feito em 2006.

Foto: Luciano Langmantel Eichholz – ISA

Pequi foi plantado em consórcio com pastagem, sistema conhecido como Silvipastoril, e será usado em pastejo rotacionado para o maior aproveitamento do capim. Objetivo é produzir óleo de pequi e carne de gado para consumo interno e fomentar venda externa para custear despesas básicas dos Kisêdjê

No primeiro semestre deste ano, os indígenas da etnia Kisêdjê (Suya), estabelecidos na Terra Indígena (TI) Wawi, vizinha ao Parque Indígena do Xingu (PIX), no Mato Grosso, concluíram o plantio de 60 hectares de pequi consorciado com capim, uma das ações do Projeto Sociobiodiversidade Produtiva no Xingu, que tem financiamento do Fundo Amazônia/BNDES. Os indígenas acessaram o Projeto através da Associação Indígena Kisêdjê (AIK), com apoio do Instituto Socioambiental (ISA).
O pequi faz parte da cultura Kisêdjê. Além do uso culinário, o óleo tem várias funções, como hidratante corporal, remédio para problemas respiratórios e repelente de insetos. A frase bem difundida na região é que “roupa de índio era o óleo de pequi”.

Como tudo começou

Pensando em criar um nova fonte de renda, os indígenas começaram o plantio do pequi em larga escala no ano de 2006, utilizando três hectares de uma área degradada, totalizando 263 pés. Em 2011, começou a extração do óleo, trabalho coordenada pela AIK, com apoio técnico do ISA e financeiro e organizacional do Instituto Bacuri e do Grupo Rezek. E em 2014, iniciou a ampliação do pequizal com mais 60 hectares financiados pelo Fundo Amazônia/BNDES.

O óleo é vendido para famosos chefs de cozinha do Brasil, como Alex Atala. Em 2014, foram produzidos 65 litros de óleo e 3 kg de castanha de pequi, rendendo R$ 4.000,00. Em 2015, a produção cresceu para 340 litros de óleo e 21 kg de castanha. Cerca de metade da produção do ano passado de óleo já foi vendida, rendendo até agora R$ 5.000,00.

Luciano Langmantel Eichholz, consultor da Associação Indígena Kisêdjê, disse que os 60 hectares foram plantados em consórcio com capim braquiária e algumas espécies de árvores frutíferas nativas. Ao todo foram 2.709 covas de pequi plantadas, por meio de sementes, e a taxa de sucesso foi de mais de 70% das covas com pequi nascido.

Para o plantio do pequizal e outros usos, em 2014 a AIK adquiriu com recursos do Fundo Amazônia, um trator e implementos agrícolas. A área toda foi gradeada utilizando o trator, o que descompactou o solo. Com uso do furador hidráulico acoplado ao trator, foram feitos buracos de 60 cm de fundura por 40 cm de largura para o plantio das sementes de pequi. “Devido a terra ter sido descompactada, acredito que em seis anos já inicie a produção de pequi”, falou Luciano.

Um dos manejos que será feito, antes do gado entrar na área, é a roçagem do capim e enleiramento dessa palhada nos pés de pequi em forma de ninhos. A decomposição dessa palhada irá aumentar a matéria orgânica e também umidade do solo nas covas, favorecendo o crescimento dos pés de pequi.
Antes, ainda, de colher os primeiros frutos, com cerca de quatro anos, o gado será solto em cima da área para pastar a braquiária, no que é chamado de Sistema Silvipastoril. O Projeto apoiado pelo Fundo Amazônia possibilitou, também, a construção de 6 km de cerca nova e a reforma de 1 km. A sede da Fazenda Comunitária Ronkhô, pertencente aos Kisêdjê, também foi reformada para abrigar o vaqueiro e a produção. Os Kisêdjê possuem, atualmente, cerca de 10 cabeças de gado.

A área de 60 hectares foi dividida em três piquetes de mais ou menos 20 hectares cada, para o gado fazer pastejo rotacionado. Enquanto o gado pasteja em um piquete, os outros dois estão em repouso para a recuperação da pastagem e, assim, a área comporta maior número de cabeças de gado por hectare. A pastagem vai ser sombreada pelos pés de pequi, aumentando o conforto animal e, consequentemente, aumentando o ganho de peso.

Diminuição da caça e da pesca

Culturalmente o pequi não tinha como destino o mercado externo e os indígenas nunca criaram gado. Yaiku Suya, diretor executivo da Associação Indígena Kisêdjê, disse que a criação de gado teve por principal motivo a preocupação cada vez maior com a diminuição da caça e da pesca, servindo como um complemento alimentar. “Pelo que a gente vê, no território Xingu vai faltar peixe, vai faltar caça, por isso surgiu a ideia de criar um pequeno rebanho para consumo próprio. Não é da nossa cultura, mas estamos experimentando isso”.

Futuramente, a ideia é que, assim como o óleo de pequi, o gado também gere renda, além do consumo próprio. Hoje os indígenas usam carro, barco movido a motor, gerador, o que gera despesas, ainda mais por conta das longas distâncias. Assim o gado e o óleo para venda gerarão recursos para custear essas despesas, principalmente de combustível.

A Fazenda Comunitária Ronkhô é a mais próxima da Aldeia Nghôjhwêrê, dos Kisêdjê. No total são seis fazendas que foram homologadas como Terra Indígena em 1.999, criando a T. I. Wawi. Algumas áreas estavam desmatadas e com pastagens. Essa condição desfavorável está sendo revertida com a implantação do Sistema Silvipastoril, que consorcia gado e pequi e que possibilitará a ampliação de outra cultura que os Kisêdjê trabalham há 20 anos, a apicultura. O famoso Mel do Xingu é vendido pelo Pão de Açúcar. Pequi é excelente para produção de mel.

Consolidação das cadeias produtivas

Pasi Suya, presidente da AIK, enfatizou que a comunidade precisa de apoio para dar continuidade aos projetos. “Estamos lutando para ver se a gente consegue apoio para dar continuidade. Por exemplo, precisamos de apoio para a manutenção do pequi e também para cuidar o gado”, disse o presidente.

Um desafio a ser enfrentado pelos Suya é a contratação de um vaqueiro. Isso porque o Projeto Sociobiodiversidade Produtiva no Xingu encerra este ano, quando termina também o recurso para pagar o peão. Se os indígenas sabem trabalhar com mel e pequi, fazendo isso sem interferir no seu calendário cultural, como já explicado, não possuem prática em criar gado. Eles já chegaram a ter um rebanho de 70 cabeças, mas foi justamente a falta de um vaqueiro o principal motivo que fez com que o número reduzisse para 10.

O Projeto Sociobiodiversidade Produtiva no Xingu possibilitou o plantio de 60 hectares de pequi com capim, a construção de cercas, a reforma da sede da fazenda, o melhoramento do equipamento da fábrica de extração de óleo, a reforma do curral, instalação de três bebedouros e uma roda d’água e aquisição do trator e implementos.

Os indígenas Kisêdjê são grandes empreendedores e criaram uma cesta de produtos, alguns típicos de sua cultura e outros não, para suprir com produtos a própria comunidade e custear despesas básicas vendendo externamente. Recebem o apoio de várias organizações em um esforço para a implantação e consolidação dessas cadeias produtivas. Mesmo com os enormes desafios e muito trabalho ainda a ser feito, vem dando certo.

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Com uso do furador hidráulico acoplado ao trator, foram feitos buracos de 60 cm de fundura por 40 cm de largura para o plantio das mudas. Foto Luciano Langmantel Eichholz – ISA

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Foram plantadas 2.709 covas por meio de sementes de pequi. Foto Luciano Langmantel Eichholz – ISA

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Com recursos do FAM foi adquirido um trator e implementos agrícolas. Os indígenas também participaram de treinamentos do SENAR para uso do maquinário. Foto Luciano Langmantel Eichholz – ISA

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O projeto FAM possibilitou a construção de 6 km de cerca nova e a reforma de 1 km.
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Luciano Langmantel Eichholz – ISA

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Em 2015 foram produzidos 340 litros de óleo de pequi e 21 kg de castanha de pequi.
Foto
Luciano Langmantel Eichholz – ISA

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Da E para D: Luciano, Yaiku e Pasi. Foto Rafael Govari – ISA

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  • por oleo, em 26/05/16 às 15:24

    que coisa boa colocar estes povo para trabalhar! só quero ver se vai trabalhar mesmo ou e uma estrategia das ONGs.

 
 
 
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