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30/04/16 às 07:29

ENTREVISTA WELLINGTON FAGUNDES - “Quero discutir os detalhes da denúncia”

Senador mato-grossense diz que votará pela continuidade da investigação contra Dilma Rousseff (PT)

Kamila Arruda - Diério de Cuiabá

Edição para Agua Boa News, Clodoeste Kassu

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Um dos líderes do governo Dilma Rousseff (PT) no Senado Federal e até então considerado como um dos fiéis aliados da presidente, o senador Wellington Fagundes (PR) decidiu votar pela admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma. Um dos membros da Comissão que votarão o parecer no Senado, Fagundes explica o porquê desta decisão. O republicano também fala sobre uma possível candidatura em 2018 ao governo do Estado e sobre a redução de filiados do Partido em Mato Grosso. Confira os principais trechos da entrevista:

Diário de Cuiabá - Como o senhor está vendo este processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT)?

Wellington Fagundes - Há mais de quatro meses, quando a Câmara começou a tramitação do pedido formulado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior e a advogada Janaína Paschoal, eu disse muito claramente: o processo de impeachment tem previsão constitucional. E, assim sendo, é um instrumento democrático. A Câmara se manifestou pela admissibilidade e agora será a vez do Senado. E desde então tenho dito que é preciso celeridade a esse processo, já que essa crise política maltrata o Brasil, maltrata o povo brasileiro como um todo, mas, principalmente, o pequeno e o médio produtores, o pequeno e o médio empresários, o trabalhador, gente que quer crescer, que quer empreender, que ajuda o país a avançar. Portanto, a celeridade é fundamental. Como integrante da Comissão Especial do Impeachment, da qual, inclusive, é bom que se diga, fiz questão de participar para me manifestar adequadamente sobre o processo, vou me orientar nesse sentido, de evitar a demora na definição. Vamos enfrentar o tema com absoluta transparência e responsabilidade, sem oportunismo do momento, mas avaliando todos os aspectos, inclusive a questão política, com base no que tenho escutado por onde passo, em visita aos municípios.

Diário - O que achou da votação da admissibilidade no processo que ocorreu na Câmara Federal?

Fagundes - A Câmara dos Deputados tem sua dinâmica própria. A sessão que votou a admissibilidade do impeachment foi carregada de emoção e os naturais conflitos que o tema causa. Com isso, muito do que se viu ali foi a exposição de sentimentos e paixões. O importante é que a ordem foi mantida, mesmo com os exageros que se verificaram – e que, como disse, considero naturais diante do momento. O importante é que a lei foi respeitada no tocante ao rito que se estabeleceu. E agora esse processo chega ao Senado, onde vamos debatê-lo com profundidade e responsabilidade, sem, contudo, deixar de reconhecer o momento político, o momento econômico, a questão legal e, também, claro, os anseios da população.

Diário - O senhor já definiu qual será o seu posicionamento como senador no processo de impeachment, que agora terá sua admissibilidade apreciada pelo Senado?

Fagundes - Votarei pela admissibilidade do processo, conforme já declarei inclusive em plenário. Assim que o processo chegou ao Senado, conforme já determinava o rito do impeachment, foi criada uma Comissão Especial para analisar o encaminhamento da Câmara dos Deputados. São 21 senadores. E eu, como líder do meu partido, o PR, fiz questão de assumir uma das vagas. E por que tomei essa decisão? Porque quero discutir os aspectos desse processo. E posso garantir a todos vocês: estou pronto e preparado para decidir sobre este tema. Vou repetir o que disse no começo: essa decisão será tomada de forma responsável, avaliando todos os aspectos, inclusive a questão política e suas implicações. Portanto, ao votar pela admissibilidade, o que estou dizendo é que precisamos discutir os detalhes da denúncia, se houve ou não o crime de responsabilidade e toda a sua extensão. Tenho experiência de ter votado um impeachment quando fui deputado federal. Há, em princípio, diferenças para este momento. Mas eu garanto: não vou decepcionar.

Diário - O senhor foi convidado a ser líder do governo no Senado. Isso influenciará a sua decisão?

Fagundes - Em absoluto, de forma alguma. Ser líder do governo significaria prestar mais um serviço ao país. Não se trata de defender o Governo, porque o Governo tem que estar, em suas propostas, alinhado com os interesses coletivos. E o trabalho do líder é justamente discutir com todos os segmentos políticos e matrizes ideológicas os projetos, de forma a contemplar a todos. Não se trata de derrotar ideias, mas de conjugar esforços. Foi com esse sentimento – de uma missão a mais – que houve a sondagem para eu assumir a liderança naquele momento, representar uma base formada pelo PT, PMDB, PCdoB, PR e ouros partidos. Isso não interfere de forma alguma na minha forma de enxergar o momento político, as necessidades que o país tem e precisa enfrentar para alcançar o objetivo que todos desejam, qual seja, de um país caminhando para distribuir benefícios a todos, indistintamente. Agora, se me permite, deixe eu dizer uma coisa: temos que agir rapidamente. O clima político que se instalou no Brasil é de incerteza, de medo, de desconfiança, e isso é muito preocupante. Precisamos trabalhar para reverter essa situação. Durante um dos maiores eventos do setor de logística das Américas, em São Paulo, defendi, diante de empresários e autoridades governamentais, que o Congresso Nacional avance na apreciação das reformas política, tributária e trabalhista de que tanto se fala. E assim que passarmos por isso vou continuar insistindo nessa tarefa, porque não existe nada mais preocupante que a instabilidade, seja para quem trabalha e produz, seja para quem está no empreendedorismo e quer investir. E isso vale para qualquer partido que estiver na hegemonia do Governo.

Diário - Como o senhor se sente, levando em consideração o fato de que o PR decidiu votar contra o impeachment na Câmara, mas muitos traíram a decisão?

Fagundes - Creio que esse termo não seja apropriado. Pelo contrário: o Partido da República tem sua dinâmica e, apesar de ter encaminhado contra a admissibilidade do impeachment, jamais fechou questão. Na verdade, deixou em aberto e o que aconteceu foram votos de acordo com o sentimento das ruas. Havia uma maioria do partido que foi se tornando uma minoria. Assim como aconteceu com o PMDB, que vinha apoiando o Governo e deixou a base. Essa mesma situação que ocorreu na Câmara acontece agora no Senado, onde há maioria em favor da admissibilidade. É bom que se diga: estamos diante de um processo político. E o Governo se sustenta exatamente numa base política. Hoje, o que se percebe é que o Governo da presidente Dilma perdeu essa maioria. Ainda sobre o PR, posso garantir a você que o partido e seus quadros seguem empenhados em continuar debatendo os interesses amplos da sociedade. Estamos imbuídos, permanentemente, desse objetivo. E é com essa liberdade e respeito que as decisões são tomadas.

Diário - O senador Blairo Maggi é tido como uma das principais lideranças do PR. O senhor tem conversado com ele sobre este assunto?

Fagundes - Seguramente que sim! Participamos de várias comissões juntos, como Agricultura e Reforma Agrária, e também na Comissão de Infraestrutura. Permanentemente conversamos sobre os mais diversos aspectos políticos em plenário ou em reuniões do Bloco Moderador, na qual o PR está inserido. Tem uma respeitabilidade dentro do Senado e traz consigo a experiência de dois governos em Mato Grosso. E, claro, suas observações são sempre muito proveitosas.

Diário - Nos bastidores, a conversa é de que muitos empresários já apresentam insatisfação com o governo Pedro Taques (PSDB), e enxergam o senhor como possível candidato em 2018? Existe esta possibilidade? O senhor tem interesse?

Fagundes - Eu sempre digo que o futuro a Deus pertence e a quem trabalha. Eu tive o privilégio de receber dos eleitores de Mato Grosso uma votação expressiva para ser senador da República. O primeiro na história a ser eleito numa chapa de oposição ao Governo com apenas uma vaga em disputa. Na campanha, levei minhas propostas para ajudar o país em todos os sentidos, inclusive no aperfeiçoamento das leis, de forma a tornar o Brasil melhor, mais competitivo, defendendo programas e projetos que alcancem o bem coletivo. E também para fiscalizar as execuções governamentais. É nisso que estou trabalhando neste momento. Nada além disso. Se meu nome está sendo aventado nesse sentido, quero agradecer tais manifestações. Mas tudo tem o seu momento certo. Trabalho pelo país, por Mato Grosso como um todo. Estou fazendo a parte que me cabe. Prova disso está na questão da concessão do Aeroporto Marechal Rondon, que já tem seu decreto que o habilita para a concessão assinado e publicado; na viabilização dos recursos do Fundo das Exportações, o FEX, tanto no ano passado como neste ano, que já começou a ser liberado; lutando pela implantação da Universidade Federal de Rondonópolis, um sonho antigo da população pela sua importância para a região, e ainda pela resolução dos problemas que atrapalham a conclusão da duplicação da rodovia BR-163, de Sinop ao Mato Grosso do Sul, que é fundamental para o Estado e sua economia. Estamos trabalhando por mais casas à população. Atuei muito para inserir Mato Grosso nesse que é um dos maiores programas habitacionais já vistos, com a entrega de milhares de casas. Estou trabalhando por mais saneamento básico. Enfim, temos várias frentes de atuação em favor do Estado e dos municípios. Trabalhamos para viabilizar o MT Integrado, Sustentável e Competitivo - que hoje tem outro nome - que é, sem dúvida, o maior programa de desenvolvimento econômico e social já realizado em Mato Grosso, que teve aporte financeiro de R$ 1,5 bilhão conseguido junto ao BNDES/Banco do Brasil, a serem pagos em 12 anos, com prazo de carência de 24 meses. Enfim, se me permite, quero dizer que esse trabalho, como se vê, não é de agora, como senador, mas de uma vida de trabalho como parlamentar, com seis mandados de deputado federal e agora como senador. Assim, a população de Mato Grosso tenha por certo uma coisa: sempre fiz e sempre farei pelo Estado, independente de quem seja o Governo ou de qualquer projeto futuro. E asseguro: jamais alguém verá Wellington Fagundes fazendo oposição a Mato Grosso.

Diário - Qual avaliação que o senhor faz sobre o governo Pedro Taques?

Fagundes - Eu jamais avaliei o Governo de quem quer que seja. Isso não faz parte do meu perfil. Mesmo sendo eleito por uma outra aliança contrária. Quem tem que avaliar são os eleitores, os empreendedores, enfim, o povo de maneira geral. E há os instrumentos naturais para fazer essa avaliação. A mim, como sempre fiz, cabe trabalhar para ajudar o Estado e os municípios.

Diário - Com a janela partidária, o PR ficou sem nenhum representante na Assembleia Legislativa. Como o senhor vê este esvaziamento?

Fagundes - Vejo como um momento político, de acomodação natural. Nada contra a ordem estrutural do partido ou suas raízes programáticas. O partido sempre esteve aberto ao debate. Mas, como disse, por questões de acomodação diante dos projetos políticos que existem e do momento, ocorreu essa situação. E antes de fazer uma análise pelos números, é preciso lembrar que o que o PR está vivendo hoje já aconteceu com outros partidos, como o próprio PSDB e o DEM, que ostentaram grandes bancadas, depois perderam quadros e seguem hoje como siglas importantes no contexto das políticas programáticas.

Diário - Na Capital, o PR pretende ter candidatura própria?

Fagundes - As candidaturas próprias sempre fortalecem um partido político. O PR tem bons nomes em Cuiabá para serem apresentados à sociedade. Mas nada impede que façamos alianças, desde que os princípios programáticos estejam em harmonia. Como disse, o PR é um partido de realizações, de conquistas e de resultados. É isso o que vamos levar em consideração na hora de conversar.

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  • por Gin, em 30/04/16 às 15:33

    Meu voto VC não pega nunca mais.

  • por Sergio Augusto, em 30/04/16 às 14:46

    Quem é Wellington Fagundes, qual a moral deste sanguessuga, chefe do DNIT, pra falar da moral de quem quer que seja...

 
 
 
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