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17/07/15 às 11:35 / Atualizada: 17/07/15 às 11:53

Futebol na aldeia

O futebol brasileiro vive uma crise técnica. Aquele futebol, jogado por Pelé, Garrincha e companhia, que encantava o mundo inteiro, não é mais visto em nossos campos. Mas os Jogos do Xingu 2015 estão mostrando que entre os indígenas o futebol ainda é

Assessoria dos Jogos do Xingu 2015

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Futebol na aldeia

Meninas jogando futebol na Aldeia Kuikuro

Foto: Assessoria

A geração da época de Pelé e a geração da época de Zico, jogou em campos de terra, a famosa pelada, o futebol brincadeira, o futebol arte. Hoje os clubes existem para formar jogadores em um sistema profissional e disciplinado. Porém, no Parque Indígena do Xingu, os campões ainda são de terra, e apesar de todos quererem vencer, o futebol ainda é uma brincadeira, jogado mais pelo prazer do jogar do que pelo prazer de ganhar. É o futebol da habilidade, jogado por Pelé e por Zico.

Essa é a opinião do especialista em políticas públicas e gestão governamental do Ministério do Esporte, José Ivan Mayer de Aquino, presente nos Jogos do Xingu 2015, que acontecem na Aldeia Kuikuro de 15 a 19 de julho. O especialista representou o ministro do Esporte que não pode vir até o Xingu porque está acompanhando a delegação brasileira no Pan-americano em Toronto, no Canadá.
Conforme José Ivan, pesquisadores alegam que o futebol foi criado através de práticas corporais indígenas dos séculos XV e XVI. “Então ele está incorporado na cultura indígena na elaboração que os ingleses deram e num modo brasileiro de se apropriar desse esporte. Em todas as aldeias que a gente vai sempre tem um campo de futebol”, disse.

Para o especialista, os não indígenas foram reorganizados para o futebol com o crescimento das cidades e a prática ficou restrita aos clubes, que condicionaram o futebol a uma lógica de mercado. “Diferente da minha época, jogado pé descalço, no asfalto, na quadra, na grama, na terra e éramos bastante felizes no tempo do Garrincha e do Pelé”, disse.

A seleção brasileira já teve alguns indígenas defendendo as cores verde e amarelo. O mais famoso deles foi Garrincha, o ‘Anjo das Pernas Tortas’. José Ivan espera ver novamente jogadores indígenas na seleção, porque “O futebol indígena manteve o ímpeto da brincadeira e da condição física dos atletas. Então hoje o futebol, na minha visão, com meus 62 anos e que transitei como peladeiro, vejo nessa aldeia a vontade que eles jogam, a aplicação, a alegria, o interesse e o entusiasmo, onde reside o bom futebol brasileiro... Os fundamentos básicos, essenciais, estão mantidos entre os povos indígenas... Eles têm as valências esportivas e habilidade motora”, complementou.

Futebol feminino também em alta
Entre os indígenas, o futebol também é bastante praticado pelas mulheres. Para o Ministério do Esporte, há um grande interesse no incentivo do futebol feminino. O que deve ajudar nesse crescimento, é a aprovação da MP 671/2015, que dá uma nova organização para o futebol brasileiro e um dos pontos é o fortalecimento do futebol feminino como prerrogativa para abatimento das dívidas dos clubes. “As mulheres indígenas estão praticando futebol e com grande qualidade e muito empenho”, disse.

José Ivan comunicou que durante os Jogos do Xingu 2015 será lançada a primeira etapa da 1ª Copa Brasil Indígena de Futebol Feminino, o qual terá fases locais, territoriais e nacional. Do Xingu será formada uma seleção territorial, que competirá com outras 16 seleções territoriais do Brasil a fase nacional, a ser disputada em março do ano que vem, provavelmente em Porto Seguro na Bahia.

Próximos Jogos do Xingu
José Ivan disse que o Ministério do Esporte está vendo os Jogos do Xingu 2015 com profunda admiração e respeito pela coragem da Prefeitura de Canarana e dos povos indígenas do Xingu, “que ao realizar esses jogos nos dá oportunidade de conhecer as várias modalidades de esporte indígena e modalidades ocidentais praticadas com o olhar indígena, e nos permite conhecer em loco a aplicação dos recursos que o Ministério dispensou para essa atividade. Como o dinheiro foi muito bem aplicado, irá abrir horizontes para a gente trabalhar com a pratica de esporte e lazer indígena”.

O representante do Ministério do Esporte explicou que no mês de abril passado foi realizado em Cuiabá-MT o Fórum de Políticas Públicas de Esporte e Lazer Indígena (Fopelin), onde foi sugerido a criação da comissão nacional de esporte e lazer indígena, confederação brasileira de esporte indígena, federações territoriais de esporte indígena e ligas de esporte indígena, entre outras.

Para orientar os indígenas do Xingu a criarem ligas e uma federação, será realizado durante os Jogos do Xingu 2015 oficinas ministradas por José Ivan, para que as aldeias façam os próprios projetos esportivos. “Creio que vamos ter no desdobramento desses jogos a certeza que esse recurso já rendeu frutos muito importantes na possibilidade de auto-organização e com isso antevejo a possibilidade de reeditar os jogos. A minha fala para o ministro será mais animada que os relatórios e vou dizer que vejo com muito bons olhos”, garantiu.

Outro objetivo da oficina será orientar os indígenas na documentação de práticas esportivas indígenas como o huka huka, colocando a documentação no formato de uma olimpíada territorial de redações em línguas indígena, onde essas práticas serão escritas na língua nativa e também em português, bem como fotografadas e desenhadas, para formar um grande livro que irá facilitar a transmissão desse conhecimento aos professores indígenas e não indígenas.
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