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29/03/16 às 08:19

Ex-detento anda de SP a Goiás com cruz de 40 kg para 'provar' inocência

Pedreiro alega que cumpriu pena de 16 anos por homicídio que não cometeu. Viagem de 1,2 mil km tem intuito de chamar atenção da Justiça: 'Vida nova'.

Vanessa Martins Do G1 GO

Edição para Agua Boa News, Clodoeste Kassu

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Ex-detento anda de SP a Goiás com cruz de 40 kg para 'provar' inocência

Paulo foi a pé de São Paulo a Brasília e depois a Trindade para deixar cruz

Foto: Vanessa Martins/G1

O pedreiro Paulo Cícero de Lima, de 55 anos, alega que ficou preso durante 16 anos por um homicídio que nunca cometeu. Se dizendo um injustiçado e tentando provar a inocência mesmo sete anos após obter a liberdade, ele decidiu viajar caminhando de São Paulo a Goiás a pé com uma cruz de 40 kg nas costas. Segundo ele, o ato é uma forma de chamar atenção da Justiça para o seu caso.
O trajeto de aproximadamente 1,2 mil km começou na cidade de São Paulo, passou por Brasília e terminou em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, onde ele deixou a cruz. Ao todo, forma mais de 30 dias na estrada. Atualmente desempregado, ele conta teve a ideia.

“Eu sonhei que eu estava carregando uma cruz por um caminho. Andando e carregando ela. No final, eu tive acesso ao paraíso. Por isso resolvi arrumar a cruz e ir do Tribunal de Justiça de São Paulo até o Tribunal de Justiça de Brasília. Duas semanas depois eu consegui a cruz e sai, sem nenhum centavo no bolso”, disse ao G1.
 
"Sonhei que eu estava carregando uma cruz por um caminho. No final, tive acesso a um paraíso"
Paulo de Lima, ex-detento
 
Ele chegou ao município, conhecido por sua religiosidade, na último domingo (27) de Páscoa. No caminho, Paulo conta que recebeu ajuda de vários desconhecidos que lhe deram comida e até dinheiro. A força fez com que ele conseguisse chegar até o seu destino final.
“Depois de ver tanta gente acreditando em mim, me dando comida, me ajudando. É o povo que vai me levar ao tribunal, que vai me ajudar. Quero chamar a atenção da Justiça para a minha causa”, comentou.

Crime
O pedreiro disse que foi casado e teve quatro filhos e oito netos, mas saiu de casa após uma discussão com a esposa e foi tentar trabalho em Atibaia (SP), onde morava. Em 1993, sem emprego, ele contou que ficou muito tempo morando nas ruas e que, por vezes, furtava galinhas.

"Eu confesso que eu sempre pegava umas galinhas e tinha uma faca para depenar elas. Eu dei o azar de passar no local do crime quando ele aconteceu depois que tinha roubado duas galinhas. E também estava com a faca que eu usava", relatou.

Segundo o pedreiro, um policial o prendeu acreditando que ele era o autor do crime, mesmo ele negando a autoria. O caso foi julgado e Paulo foi condenado pelo homicídio, passando 16 anos na cadeia. Segundo ele, seus filhos se afastaram dele depois da condenação. Somente a mãe, Maria José de Lima, de 84 anos, e os irmãos mantiveram contato e acreditaram na sua inocência.

Pedro lembra que, na prisão, temia que as pessoas subessem do que ele havia sido acusado. "Eu tinha medo que as pessoas me olhassem pensando que eu sou um monstro. Eu não sou esse cara", desabafou.

Após sair da cadeia, em 2009, ele voltou ao local do crime e procurou o marido da vítima para tentar provar sua inocência. “Conversei com ele várias vezes e sei que não foi ele que me acusou”, disse. Por muito tempo foi atras de pessoas que pudessem confirmar que ele não foi o autor do crime e não se conforma com a condenação por algo que não fez.
 
Paulo se despediu da cruz que carregou por mais de 30 dias em Trindade Goiás (Foto: Vanessa Martins/G1)Paulo se despediu da cruz que carregou por mais de 30 dias, até Trindade (Foto: Vanessa Martins/G1)
 
"Eles dizem que a mulher foi morta na frente do filho que tinha três anos na época. Colocaram eu frente a frente com o menino com mais três [pessoas] e ele disse que não tinha sido nenhum [de nós o autor], mas o policial falou que o menino falou que era eu. Não tinham acusação de ninguém a não ser desse policial, que depois eu soube que foi expulso da policia.Tudo que eles têm eu posso provar que é falso", reclamou.

Ajuda
Ao chegar a Brasília, ele conta que passou uma semana andando pela cidade quando encotrou o advogado Luiz Renato Zubcov, que se dispôs a ajudar. “Quero a revisão do meu caso para mostrar que as provas são falsas, que eu sou inocente”, afirmou.

Zubcov afirmou que soube da história de Paulo por meio de redes sociais e da mídia. Ele conheceu o pedreiro na capital federal. “Entreguei meu cartão a ele e ele veio ao meu escritório. Conversamos sobre o caso e eu me dispus a analisar o processo sem cobrar nada”, relatou.

Conforme o advogado, é preciso, primeiro, ter acesso a todo o processo e avaliar se é viável pedir uma revisão do caso e uma indenização. “Pretendo analisar os autos, ainda não tive acesso a eles, mas depois de ler o processo vou chamar o Paulo para uma nova conversa para tirar dúvidas que possam surgir. Se for viável, podemos pedir essa revisão, que é uma ação autônoma ajuizada em segundo grau perante”, esclareceu.

Vida nova
Após receber apoio do advogado, Paulo revelou que ainda não havia definido o local para deixar a cruz, quando recebeu o conselho de um amigo.
 
Paulo afirma que foi condenado injustamente por um homicídio em Atibaia Trindade Goiás (Foto: Vanessa Martins/G1)Paulo diz que agora quer voltar para casa e ter uma vida nova (Foto: Vanessa Martins/G1)
 
“Eu me deitei, depois de tudo, e pensei que dali para frente eu já sabia que ia dar tudo certo. Mas fiquei pensando onde eu ia deixar a minha cruz. Estava conversando com um rapaz de Goiânia sobre isso e ele me falou ‘o melhor lugar para você deixar ela é em Trindadex, na casa do Divino Pai Eterno’. No outro dia eu levantei e só conseguia pensar na cidade”, disse ele animado.
Paulo diz o que maior desejo agora é conseguir voltar para casa, rever a mãe, os sete irmãos e recomeçar.
“Agora ela [a cruz] está em um lugar digno. Quero me casar de novo e ter novos filhos, ter dez filhos para criar. Quero seguir com a minha vida. Outra vida. Aqui é o fim de uma história e o começo de outra”, afirmou.

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