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02/03/16 às 09:30

Agricultores familiares resgatam cultivares tradicionais na região Araguaia

A Oficina de Produção, Conservação e Armazenamento de Sementes Crioulas despertou os agricultores para a soberania alimentar

Rafael Govari – ISA

AGUA BOA NEWS

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Agricultores familiares resgatam cultivares tradicionais na região Araguaia

Foto: Cláudia Alves – CPT

Nos dias 18 e 19 de fevereiro, aconteceu em Porto Alegre do Norte no Mato Grosso, uma Oficina de Produção, Conservação e Armazenamento de Sementes Crioulas, realizado pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), Associação Terra Viva (ATV) e o Instituto Socioambiental (ISA), através do Projeto Sociobiodiversidade Produtiva no Xingu –  Fundo Amazônia, com a parceria do Instituto Federal Goiano. Participaram cerca de 30 pessoas entre coletores da Rede de Sementes do Xingu (RSX), agricultores familiares e estudantes do IFMT (Instituto Federal de Mato Grosso) de Confresa.

Sementes crioulas remetem ao conceito de cultivo tradicional, local e nativo, sendo esse material genético desagregado de qualquer empresa. “O objetivo da Oficina foi trazer para os pequenos produtores a importância do resgate e conservação dos cultivares tradicionais, com o intuito de manter e multiplicar esse patrimônio genético aproveitando a estrutura de armazenamento das casas de sementes das RSX”, disse Claudia Alves, colaboradora da CPT. Além disso, foi realizada uma troca de sementes entre os participantes e os pesquisadores.

Os professores que ministraram a oficina, Estênio Moreira Alves e Aldo Max Custódio, ambos com mestrado em agroecologia, participam de um projeto no IF de Iporá de Goiás que mantém um banco de sementes crioulas, principalmente de variedades de abóbora e milho. Eles apresentaram conhecimento das formas de produzir, conservar e armazenar essas variedades ao longo do tempo, com objetivo de que as sementes não se percam. E apontaram vantagens e desvantagens no cultivo das sementes crioulas, híbridas e transgênicas voltadas para a agricultura familiar.

“O potencial de uso da agrobiodiversidade para alimentação humana é pouco aproveitado, por isso as sementes crioulas se tornam essenciais nessa busca pela continuidade das roças tradicionais de forma agroecológica, sem a dependência dos insumos do agronegócio”, disse a técnica do ISA Sarah Domingues de Oliveira Andrade.

Dona Cleusa Nunes de Paula, do P.A. Macife em Bom Jesus do Araguaia no Mato Grosso, fazia 10 anos que não possuía mais sementes de croá, uma trepadeira, muito doce e que é excelente para fazer suco. Além de todo o aprendizado, dona Cleusa foi embora muito feliz e levando sementes de croá na troca realizada durante a Oficina. Também foram trocadas sementes de feijão, abóboras, melancia, fava e milhos.

“O modelo de plantar no Brasil é impositivo. E, muitas vezes, o agricultor fica sem alternativa, como acontece no P.A. Bordolândia, em Bom Jesus do Araguaia, onde os lotes vizinhos ao plantio de soja perdem todo ano as roças por deriva de agrotóxico”, diz Jaqueline Felipe, colaboradora da CPT Araguaia.

A ideia é promover, junto a ARSX, outras ações para produção, conservação e armazenamento de sementes crioulas.

 
 (Por Rafael Govari – ISA; Fotos: Cláudia Alves – CPT)
oficina de sementes (11)
Participaram cerca de 30 pessoas entre coletores da Rede de Sementes do Xingu, agricultores familiares e estudantes do IFMT de Confresa

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