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31/03/23 às 13:16

Bioma Devastado - Desmatamento do Cerrado ameaça oferta de água em 15 municípios

Municípios estão na área das bacias hidrográficas mais desmatadas do bioma em 2022, na região da fronteira agrícola

Joanice de Deus

Diário de Cuiabá

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Bioma Devastado - Desmatamento do Cerrado ameaça oferta de água em 15 municípios

O estudo expõe a relação entre desmatamento e segurança hídrica no bioma considerado berço das águas do Brasil

Foto: Imazon

Em Mato Grosso, 15 municípios estão dentro da área das bacias hidrográficas mais desmatadas no Cerrado em 2022, na região da fronteira agrícola, o que pode reduzir o abastecimento e a qualidade da água.

É o que mostra análise de pesquisadores do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em parceria com o MapBiomas.

O estudo expõe a relação entre desmatamento e segurança hídrica no bioma considerado berço das águas do Brasil.

Seguindo o ritmo atual, a destruição pode comprometer o fornecimento hídrico em, ao menos, 373 cidades que estão dentro da área das bacias hidrográficas mais desmatadas do Cerrado Matopiba.

A análise também conta com o apoio da Universidade Federal de Goiás (UFG).

No Estado, os municípios com maiores índices de devastação do bioma são Araguaiana, Araguainha, Barra do Garças, Cocalinho, General Carneiro, Luciara, Nova Nazaré, Nova Xavantina, Novo São Joaquim, Novo Santo Antônio, Pontal do Araguaia, Ponte Branca, Ribeirãozinho, Tesouro e Torixoréu.

Outros estados do Cerrado com maior número de municípios com ocorrências de desmatamento são Goiás (119 municípios), Tocantins (108), Maranhão (65), Minas Gerais (32), Piauí (22) e Bahia (12).

Os pesquisadores apontam que, com a perda de vegetação nativa, fica comprometida a capacidade natural de absorção e distribuição da água, que chega a "viajar" centenas de quilômetros, antes de ser aproveitada para uso humano, seja em consumo próprio, afazeres domésticos, geração de energia, produção industrial ou irrigação, por exemplo.

"Garantir a proteção dos remanescentes de vegetação nativa do Cerrado e, ao mesmo tempo, recuperar áreas próximas a nascentes, rios e bacias, é essencial para a manutenção dos recursos hídricos que temos hoje e para o equilíbrio climático. São diversos e complexos os efeitos que a diminuição na oferta de água teria nos municípios, mas uma coisa é certa: se o desmatamento continuar na velocidade e na extensão em que está, a disponibilidade hídrica será cada vez menor", explica Fernanda Ribeiro, pesquisadora no IPAM responsável pelo SAD Cerrado.

O Cerrado tem 24 bacias hidrográficas, com nascentes de 8 das 12 principais regiões hidrográficas do país.

As cinco bacias mais desmatadas em 2022 são também as que têm os maiores contínuos de vegetação nativa.

Em 2022, o bioma teve 815.532 hectares desmatados.

Segundo o SAD Cerrado, 74,5% de todo o desmatamento do bioma ano passado ocorreu nas bacias dos rios Tocantins (210.804 hectares), São Francisco (116.367 ha), Parnaíba (105.419 ha), Itapecuru (88.049 ha) e Araguaia (78.368 ha).

Também monoculturas e atividades agrícolas que não levam em conta o equilíbrio com a sociobiodiversidade acabam causando outros prejuízos para a segurança hídrica tanto para as comunidades tradicionais e agricultores familiares no campo como para quem vive na cidade.

O IPAM revela que a transformação de áreas de vegetação nativa para pastagem e agricultura já tornou o clima no Cerrado quase 1°C mais quente e 10% mais seco.

Conforme informações da assessoria, nos locais desmatados, a temperatura média anual pode subir até 3,5°C, com queda de 44% na evapotranspiração, processo que contribui para a umidade do ar.

"O Cerrado está ficando cada vez mais quente e seco, com menos água disponível. Este cenário acende o alerta para que tipo de planeta queremos habitar no futuro. É como destacou o relatório-síntese do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, das Nações Unidas), precisamos lidar com a emergência do clima tendo como prioridades a justiça climática e a equidade para o bem-estar humano e da biodiversidade", conclui Julia Shimbo, pesquisadora no IPAM e coordenadora científica do MapBiomas.

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