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17/02/16 às 09:00

Goiânia - Suposto serial killer é condenado a 20 anos por morte de estudante

Tiago Henrique da Rocha, 27 anos, enfrentou o 1º júri popular em Goiânia. Defesa e acusação já recorreram; vigilante responde por 35 homicídios.

Fernanda Borges, Paula Resende e Vitor Santana Do G1 GO

Edição para Agua Boa News, Clodoeste Kassu

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Goiânia - Suposto serial killer é condenado a 20 anos por morte de estudante

Tiago Henrique prestou depoimento em júri e pediu perdão à mãe da vítima

Foto: Paula Resende/G1

O vigilante Tiago Gomes Henrique da Rocha, de 27 anos, foi condenado a 20 anos de prisão pela morte da estudante Ana Karla Lemes da Silva, de 15, em dezembro de 2013, em Goiânia. O julgamento foi realizado nesta terça-feira (16) no 2º Tribunal do Júri, no Setor Oeste, na capital. Acusação e defesa já recorreram da decisão.

De acordo com a sentença, lida pelo juiz Jesseir Coelho de Ancântara, que presidiu a sessão, os jurados consideraram que o vigilante matou a adolescente por motivo torpe e com recurso que impossibilitou a defesa da vítima, sendo assim, cometeu homicídio duplamente qualificado. No total, Tiago Henrique responde por 35 mortes ocorridas na Grande Goiânia.
 
Logo após a leitura da sentença, o promotor Cyro Terra, do Ministério Público de Goiás (MP-GO), recorreu visando o aumento da pena. "Entendemos que, pela personalidade, as circunstâncias, a conduta e todos os critérios que a lei coloca para fixar pena, ela pode ser aumentada, se aproximar o máximo possível da pena máxima [30 anos]", disse ao G1.

Os advogados de defesa do vigilante, Michel Pinheiro Ximango e Wanderson Santos de Oliveira, também protocolaram um recurso. No entanto, com o intuito de redução do tempo de prisão. "Tinha que ser mais baixa. Estamos verificando se levaram em consideração a confissão do crime na delegacia porque isso reduziria a pena", declarou Oliveira.

O juiz já acatou os dois recursos. Não há prazo para que eles sejam analisados pelo Tribunal de Justiça de Goiás. Agora, acusação e defesa têm cinco dias para apresentar ao magistrado as razões.

 
Ana Karla Lemes da Silva, vítima serial killer Goiás (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)Ana Karla Lemes da Silva foi morta em dezembro
de 2013 (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
Ana Karla foi morta no dia 15 de dezembro de 2013, no Setor Jardim Planalto. Ela foi baleada com um tiro no peito. Um exame de balística comprovou que a adolescente foi morta por uma bala disparada pela arma apreendida com Tiago Henrique. O vigilante está preso desde 14 de outubro de 2014.

Após a condenação, a mãe de Ana Karla,  a cozinheira Ironildes Lemes, de 59 anos, disse que está aliviada. "Eu achei maravilhoso e espero que ele apodreça na cadeia, pois ele não matou apenas a minha filha, mas também outras moças, mendigos. Ele tem que morrer na cadeia", afirmou.

"Graças a Deus, com a condenação [a 20 anos de prisão] a justiça foi feita. Estou agradecida, pois a gente estava com medo de que ele fosse solto e saísse por aí matando mais pessoas", ressaltou Ironildes.
Apesar de a mãe de Ana Karla ter comemorado a sentença, a tia da vítima, Rosângela Silva Almeida, queria que Tiago fosse condenado a pena máxima. "Estou um pouco aliviada, mas queria que ele pegasse mais anos", ponderou.

 
Família de Ana Karla Lemes, vítima de suposto serial killer, esteve presente no 1º júri popular de Tiago Henrique Gomes, em Goiás (Foto: Paula Resende/G1)Familiares de Ana Karla acompanharam julgamento de suposto serial killer (Foto: Paula Resende/G1)
 
Julgamento

Centenas de pessoas acompanharam o julgamento. A maioria era composta por estudantes de direito. Para garantir que conseguisse assistir ao júri, o idoso Ladislau Marques Teixeira foi o primeiro a chegar, às 6h15. "Quero ver de perto a justiça ser feita para uma pessoa tão má".

O julgamento começou por volta das 8h50 desta terça-feira. Um vizinho de Ana Karla, que estava arrolado como testemunha de acusação, não compareceu e foi dispensado. Logo depois, o juiz fez o sorteio dos sete jurados, sendo que foram escolhidos quatro homens e três mulheres. Apenas um deles participava de um júri popular pela primeira vez.

Em seguida, por volta das 9h20, a mãe de Ana Karla prestou depoimento como testemunha de acusação. "A gente está chorando todo dia, sofre com a falta dela. Eu não consigo mais trabalhar direito", disse.

Ironildes declarou que não conseguiu ver o corpo da filha logo após o homicídio, em Goiânia. "Eu não acreditei e entrei em casa. Depois eu quis correr até o local, mas passei mal e caí". Após responder a algumas perguntas do juiz e da promotoria, ela foi dispensada e permaneceu no auditório ao lado de familiares.

Depois foi a vez de Tiago Henrique ser interrogado. Ele pediu desculpas à família da vítima. "Eu queria pedir perdão para a mãe da Ana Karla. Eu não queria ter feito nada disso. Eu não tinha a intenção de fazer nada disso", disse. Questionado pelo juiz se ele é um serial killer, o vigilante disse: "Não considero".

Tiago Henrique também declarou que “se sentia muito mal” após os crimes. "Não tem motivo. É uma coisa inexplicável. Contrariando o que a maioria das pessoas pensam, que eu tinha prazer, eu era forçado a fazer isso [por uma força do mal]". Em seguida, ele afirmou que estava 'envergonhado'": "Não era para ter acontecido nada disso".

O magistrado ainda perguntou se crimes que Tiago não cometeu foram atribuídos a ele. "Pode ser", respondeu o réu.

Acusação e defesa

Após depoimento, Tiago Henrique foi dispensado e teve início a manifestação do Ministério Público de Goiás. O promotor Cyro Terra declarou que "a sociedade goiana precisa, exige, respostas para esta bárbara série de homicídios".

Com a voz embargada, o promotor falou da dor das famílias das vítimas. "Tenho confiança que a justiça será feita pela morte dela, em respeito às famílias. Sei de muitas que estão agora rezando para a justiça começar a ser feita", disse.

O promotor leu parte de uma carta anônima enviada à Polícia Civil de Goiás em 2013. Após a prisão de Tiago, a corporação concluiu que ele havia escrito a mensagem, que diz: "Quem vos fala é um cidadão cujo único objetivo é matar”.

Terra afirmou que Tiago Henrique tem ciência dos crimes que cometeu citando características da execução e um laudo da Junta Médica do Tribunal de Justiça de Goiás, que apontou o réu como psicopata, mas responsável pelos seus atos. "Ele é plenamente responsável, tem o perfeito domínio das suas vontades. Matou porque queria matar", acusou.

 
Depois de fazer considerações por 1h15, o promotor finalizou a acusação pedindo a condenação do réu."A pena é justa porque foi ele. É merecida porque ele foi o responsável. É necessária porque se ele sair vai matar outras pessoas", concluiu.

Após a fala da acusação, houve um recesso de dez minutos, seguido das considerações da defesa. O advogado Wanderson Santos de Oliveira reconheceu que as provas quanto à autoria da morte de Ana Karla são claras. "Não resta alternativa a não ser a condenação do réu porque não há como fugir da realidade processual. Ninguém conseguiria desmantelar as provas já produzidas. Não há como negar. Só nos resta tentar reduzir a pena", afirmou.

A defesa alegou que Tiago Henrique é um psicopata e não pode responder pelo ato. "Ele entende que está errado, mas não se autodetermina, o controle dele não se sobrepõe", disse Oliveira.

Após meia hora, a defesa de Tiago Henrique encerrou suas considerações. "Quero demonstrar que a questão é jurídica e objetiva. Não estou usando nenhuma outra técnica de defesa. Peço que façam justiça de acordo com o ordenamento jurídico", concluiu o outro advogado de defesa, Michel Ximango.

Como a acusação dispensou a réplica, o juiz Jesseir Coelho de Alcântara pediu para que o réu e o público presente deixassem o tribunal para a votação dos jurados, que é secreta. Cerca de 20 minutos depois todos voltaram ao plenário e houve a leitura da sentença.

Algemado e escoltado, Tiago não esboçou emoção durante o julgamento. Ele assistiu ao depoimento e debates com a cabeça erguida.

Tiago deve passar por mais 34 julgamentos. O juiz que presidiu o júri popular de Ana Karla pondera que o vigilante pode ser condenado em todos os casos, mas, conforme a legislação, poderá ficar, no máximo, três décadas em regime fechado. “Mesmo se, somado, pegar 600 anos de condenação, ele só ficará 30 anos preso”, declarou.

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