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06/11/22 às 20:56

Útero Didelfo - Cuiabana com duas vaginas usa redes para falar sobre condição

Aos 28 anos, Maysa Rodrigues faz sucesso no TikTok respondendo questões dos internautas

Angélica Callejas

Mídia News

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Útero Didelfo - Cuiabana com duas vaginas usa redes para falar sobre condição

A influencer cuiabana Maysa Rodrigues

Foto: Reprodução/Instagram

Há 11 anos atrás, durante sua lua de mel, a vida da influencer cuiabana Maysa Rodrigues virou de cabeça para baixo quando, de repente, ela descobriu que tinha duas vaginas e dois úteros.
 
A condição, chamada de útero didelfo, é uma anomalia congênita, e ocorre em 1 a cada 3 mil mulheres em todo o mundo, podendo causar várias complicações. Entre elas, a dificuldade de engravidar, alto risco de aborto e cólicas e sangramentos intensos durante a menstruação.
 
Nove anos depois do diagnóstico, em 2020, Maysa decidiu utilizar as redes sociais para falar sobre a condição que carrega desde seu nascimento.
 
Com o decorrer do tempo, ela decidiu que seria importante compartilhar sua experiência de vida com outras mulheres que possam estar passando pelo mesmo.

“Foi uma brincadeira, na época. Eu fiz um vídeo no Instagram, e aí surgiram as oportunidades de falar, e a mulherada veio falar comigo. Tenho muita coisa boa para falar, muitos conselhos para dar, e ensinar as mulheres que estão presas no tabu, nas crenças infundadas, que o importante é o autoconhecimento”,  diz.
 
A influencer conta que logo no início da descoberta teria chegado em casa e pegado o computador para pesquisar sobre o assunto, mas não encontrava nenhuma brasileira que retratasse seu cotidiano com essa anomalia.
 
Reprodução/Instagram

Ela não encontrava nenhuma brasileira que retratasse seu cotidiano com essa anomalia

 
“Eu não achei nenhuma falando. Nem no Youtube. Encontrei, na época, não sei se ela era americana, mas era estrangeira. Teve uma matéria publicada dela, na qual falava em rede nacional que tinha duas vaginas e dois úteros”, recorda.

“Até hoje, se você pesquisar, acredito que não consegue encontrar de maneira aberta. Achei mulheres portadoras do didelfo em off, que se identificaram com minha situação, que passaram a me seguir, passaram a me acompanhar”.
 
Milhões de visualizações
 
De maneira leve, ela fala sobre o assunto em seus perfis no Instagram e TikTok, este último já com mais de 109 mil seguidores, e tenta desmistificar o imaginário das pessoas sobre a condição do útero didelfo.
 
De forma bem humorada, ela comanda seu TikTok, que já tem dois vídeos publicados com quase 3 milhões de visualizações. Em um ela responde a pergunta de uma seguidora, que questiona: “Que adianta ter duas vaginas e usar só uma?”.
 
“Rompi o segundo hímen para se tornar funcional. Uso as duas. [A outra] não está de enfeite”, brincou ela no vídeo. 
 
Em outro vídeo, ela faz um relato de um encontro sexual que teve com um homem que não sabia de sua condição, e só descobriu na hora do ato. “A pior transa da minha vida”, contou ela.
 
Outra motivação para se tornar influencer desse conteúdo, segundo ela, foi a ausência de educação sexual durante sua criação, que consequentemente não a preparou para enfrentar essa descoberta sobre seu corpo.
 
“Eu fui criada dentro de uma família muito tradicional, cheia de tabu. Hoje eu falo para as mulheres, para as minhas seguidoras, na primeira menstruação, vá ao ginecologista. Tem muita coisa que pode se evitar”.
 
“Porque a educação sexual é o quê? Conhecer a fisiologia do corpo tanto feminino quanto masculino, conhecer a anatomia. Há muitas mulheres que me perguntam se eu faço xixi pelas duas vaginas”.
 
“Tem gente que diz: 'Ah, meu Deus, duas vulvas'. E eu respondo: 'Calma, gente. Não é nada externo, é tudo interno'”.

 
Maturidade
 
Hoje, com 28 anos, Maysa compreende tudo diferente, e o acompanhamento médico já é rotina. Mas aos 17 anos, quando se casou e teve que lidar com o diagnóstico durante a lua de mel, não foi nada fácil. Ela contou que, na época, foi a primeira vez que procurou um ginecologista, porque sentiu dores durante a relação sexual.
 
"Eu me casei virgem. Foi tudo muito tradicional. Acho que você deve imaginar, menina da igreja, não pode beijar na boca, não pode se tocar, não pode se olhar. Então, eu casei no escuro, não sabia de nada, e tive minha primeira relação sexual como previsto, tudo tranquilo”. 
 
“Depois de quase dois meses começou a apresentar esse problema. Porque do momento que estava aquele movimento no canal [vaginal] direito, começou a sair para o esquerdo”.
 
Ela disse que o médico a aconselhou a romper o canal vaginal esquerdo, pois as dores aconteciam porque o canal não era utilizado. De volta para casa, ela explicou ao marido toda a descoberta da consulta.
 
“E aí começou tudo de novo, a mesma dor e me senti até pior na segunda vez. Porque foi muito mais trabalhoso que a primeira vez. São cavidades diferentes. Então a segunda vez me causou muito mais problema que a primeira relação sexual”. 
 
“Hoje eu acredito que conforme comecei a falar sobre isso, a ajudar outras mulheres, falar sobre a saúde da mulher, sobre vida sexual ativa, melhorou e tenho muita segurança a respeito disso”.
 
Lidar com o público
 
Apesar da iniciativa positiva em compartilhar suas experiências na internet, Maysa relatou que também há aspectos negativos, como depreciação por parte de alguns, mas que ela tenta sempre manter o bom humor e explicar de forma didática os questionamentos. Isso porque a importância do seu trabalho é maior, disse ela.
 
“Uma mulher falar: “Eu tenho duas vaginas” de forma aberta, é muito constrangedor dependendo do ouvinte, principalmente se for homem. Eu procuro olhar por outros olhos, porque hoje entendo que muitos homens e mulheres não conhecem o próprio corpo".
 
"[Mas] Fiz isso, precisei continuar, e deu super certo. Muitas mulheres trocam ideias, tiram dúvidas, pedem ajuda. Dentro da minha experiência de vida eu ajudo, mas nunca deixei de dar conselho de ir ao médico ginecologista, fazer exame de rotina”, frisou ela.
 
A influencer, que tem recebido várias propostas de entrevistas e participações em podcasts, afirmou que já imaginava o conteúdo ter a repercussão que tem, e deve continuar nesse meio não só para ajudar as pessoas, mas também para o seu próprio autoconhecimento.

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