Notícias / Policial

02/10/22 às 08:38

Roubo de Soja e Defensivos - 'Crime migrou e meliantes atacam setor que sustenta o Brasil'

Delegado da GCCO diz que bandidos enxergaram janela de oportunidade no campo

Gustavo Castro

Mídia News

Imprimir Enviar para um amigo
Roubo de Soja e Defensivos - 'Crime migrou e meliantes atacam setor que sustenta o Brasil'

Foto: Divulgação

Nos últimos meses, a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) da Polícia Civil tem se desdobrado para combater quadrilhas que agem contra o agronegócio, seja roubando defensivos agrícolas, seja desviando cargas de soja. 
 
A Operação Safra, por exemplo, descobriu um esquema de desvio de soja em que bandidos trocavam a oleaginosa por areia, num engenhoso esquema que deu prejuízo de milhões no Sul do Estado.
 
São crimes antes pouco difundidos mas que estão cada vez mais frequentes em Mato Grosso, o maior produtor mundial de grãos. Para o delegado Vitor Hugo Bruzulatto, essa migração se deu pelos vultuosos valores que o setor movimenta. 
 
"Houve essa migração do crime para esse setor, que é o que mais cresce no País e sustenta a economia da nação", afirmou o delegado.


Leia abaixo a entrevista na íntegra:
 
MidiaNews - Nos últimos meses a GCCO tem realizado operações contra o desvio de grãos de soja feito através de esquemas criminosos engenhosos, inclusive com os bandidos trocando soja por areia em caminhões. Por que esse tipo de crime tem se tornado comum?
 
Vitor Hugo Bruzulato - Quando a gente fala da principal atividade econômica do Estado, o agronegócio, que vem numa crescente e envolve muito dinheiro, lógico que os meliantes, as organizações criminosas - e não estamos falando somente das facções, mas estamos falando dos termos legais, das “Orcrims” (organizações criminosas) - despertam a atenção para esse tipo de crime. E teve essa parte de algumas pessoas que começaram a praticar esse tipo de furto de grãos, desvios. Na Operação Grãos de Areia, e identificamos também na Operação Safra, foram milhões de cargas subtraídas. É um prejuízo milionário para o setor. Houve essa migração do crime para esse setor, que é o setor que mais cresce no País e sustenta a economia da nação.
 
MidiaNews Os furtos de defensivos agrícolas têm crescido muito. Por que esse tipo de crime se tornou tão corriqueiro em Mato Grosso e o que tem sido feito por vocês?
 
 
Vitor Hugo Bruzulato - A gente faz o trabalho repressivo, de investigação. O trabalho preventivo é realizado pela Polícia Militar. Aqui, o que nós temos é o trabalho, nessa parte, do Batalhão Rural, que vem fazendo esse trabalho preventivo no campo. A Polícia Civil, por meio da GCCO, tem essas duas atribuições [roubo e furto de cargas e defensivos], vem fazendo atuações constantes.
 
De defensivos agrícolas, nós conseguimos identificar a autoria de dois roubos que ocorreram em 2022 e, além de identificar a autoria, nós efetuamos a prisão e recuperamos o material subtraído. Inclusive, tem duas semanas que, numa ação em Lucas do Rio Verde, nós prendemos os fazendeiros que receptaram essa carga roubada. Então a Gerência de Combate ao Crime Organizado vem fazendo esse trabalho contínuo permanente de repressão a todas as áreas de atribuição.
 
MidiaNews - Essas ações do crime organizado no campo requerem grandes investimentos. Quem financia esses bandidos?
 
Vitor Hugo Bruzulato - São grupos criminosos que se aproveitam da oportunidade e da evolução do agronegócio para a prática do crime. Na verdade, são criminosos que vão migrando. Assim como vemos criminosos que migraram dos crimes de roubo e furtos a bancos para estelionato, praticando diversos golpes, nós temos isso aí meliantes que estão verificando essa janela de oportunidade para o crime aqui no Estado.
 
No caso específico, nós estamos falando de roubos e furtos de defensivos e cargas, que são cargas valiosas. A gente sabe do valor que tem uma carga de soja e bem como esses insumos agrícolas, defensivos e fertilizantes que são aplicados em lavouras. Por ter um alto valor agregado, isso desperta a atenção de criminosos.
 
MidiaNews - Neste domingo o Brasil vai às urnas para eleger seus representantes. Em 2020 em Barra do Garças houve um candidato a vereador acusado de ser patrocinado por uma facção. Qual a dimensão do envolvimento das facções criminosas com a política em Mato Grosso?
 
Vitor Hugo Bruzulato - A Gerência de Combate ao Grupo Organizado possui várias atribuições. Uma delas é a atribuição de combater e reprimir o crime organizado. Então, consequentemente a gente faz um acompanhamento de forma permanente, monitorando toda a movimentação nessas facções atuantes aqui no estado. E a gente tem essa preocupação e acompanha para ver se tem essa movimentação também na área política.
 
Esse trabalho é feito de forma sigilosa e integrada com outros órgãos, a exemplo da Polícia Federal, que possui algumas atribuições específicas na parte de crimes eleitorais. Nós temos hoje uma força-tarefa de Segurança Pública, que tem a Polícia Civil, através da GCCO, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Polícia Federal, que também faz esse tipo de acompanhamento. Portanto, são trabalhos que a gente faz esse tipo de acompanhamento, de toda movimentação no tráfico de drogas, munições, nas facções de forma mais violenta, de homicídios. Então, a gente tem esse trabalho permanente, mas é sigiloso.
 
MidiaNews - A GCCO tem investigações específicas sobre facções que investem em candidaturas em Mato Grosso?
 
Vitor Hugo Bruzulato - Não posso falar porque isso pode atrapalhar as investigações. Mas a gente faz esse trabalho de movimento, seja na área criminal, na área política dessas facções criminosas.
 
MidiaNews - Nos últimos anos as facções criminosas passaram a dominar bairros das grandes cidades, inclusive Cuiabá, oferecendo muitas vezes serviços que são papel do Estado. Não considera isso um risco para a nação?
 
Vitor Hugo Bruzulato - Conseguimos realizar diversas ações policiais, operações, prisões, apreensões recorde de drogas, de armas, de munições. Estão com o índices aceitáveis de criminalidade no Estado. Então, tudo demonstra o controle do Estado das forças de segurança em razão do detrimento da criminalidade atuante aqui no Estado. Nós temos esse controle, conseguimos identificar e prender. Nós temos também uma preocupação no sistema prisional, que é do isolamento dessas facções, porque não adianta só efetuar essas operações e prisões, colocá-los em estabelecimentos criminais e eles continuarem com a comunicação de dentro das prisões.
 
Temos essa preocupação também. Nós verificamos que houve um avanço nessa parte. Há uma inauguração de uma área nova na Penitenciária Central do Estado, que, consequentemente, vai conseguir fazer esse isolamento das lideranças criminosas que atuam aqui no Estado.
 
MidiaNews - E por que as autoridades brasileiras não conseguem deter o avanço das facções nas periferias?
 
Vitor Hugo Bruzulato  - O trabalho é feito em todos os lugares, de norte a sul. Não só em lugares pequenos, mas também nos grandes centros. Os índices estão aí. Nós temos aí, principalmente eu falo das nossas atribuições, que são roubo a banco, antissequestro, o crime organizado em si, roubo de gado, roubo de defensivos agrícolas, enfim... Então, dentro da nossa área, a gente tem feito um trabalho interagindo com outros órgãos da Polícia Civil. O trabalho está sendo feito.
 
O que eu às vezes chamo a atenção é que nós temos intensificado as ações. Essas ações têm aparecido bastante. Não só da GCCO, mas também da DHPP, das delegacias de roubo e furto, enfim, o trabalho está aparecendo. Mas às vezes isso dá a sensação de que está aumentando a criminalidade, mas, pelo contrário.
 
MidiaNews - Há poucos dias a GCCO descobriu um túnel sendo escavado ao lado da Penitenciária Central do Estado. O senhor tem ideia de quantos presos iriam fugir por aquele túnel?
 
Vitor Hugo Bruzulato - Essa ação da GCCO é fruto desse trabalho permanente, contínuo, perene, de acompanhamento das facções criminosas aqui no estado. É lógico que temos muito trabalho pela frente. Ali foi só uma ação “flagrancial”. E nós temos um trabalho investigativo que está em andamento e sob sigilo. As investigações, principalmente quando a gente fala em facções e crime organizados, elas necessitam do sigilo para que tenhamos o êxito na identificação de todo o grupo criminoso. Quando a gente fala de crime organizado, não adianta apenas efetuar a prisão e não trabalhar com a parte financeira. Nós temos essa preocupação e combate de lavagem de dinheiro dessas organizações criminosas, descapitalizando.
 
O objetivo é realizar as prisões com as operações, mas também descapitalizar essas facções e organizações criminosas. Então existe um trabalho aí. Estamos investigando em sigilo, mas brevemente a gente terá resultados de todo esse trabalho, não só da operacional, mas de toda a inteligência.
 
MidiaNews - Quantos do Comando Vermelho ganhariam as ruas caso o plano fosse bem sucedido?
 
Vitor Hugo Bruzulato - Como a gente descobriu já logo no início, a gente não sabe qual seria a evolução. Isso está sob objeto de investigação. Mas é claro, se esse túnel estava indo em direção à maior penitenciária do estado, onde consequentemente estão abrigados ali os presos de alta periculosidade do Estado, então, com certeza, é óbvio que nós evitamos talvez uma fuga em massa de presos em alta periculosidade.
 
MidiaNews - Facções criminosas estariam investindo no negócio de apostas online. Vocês estão investigando isso aqui em Mato Grosso?
 
Vitor Hugo Bruzulato - Não dá para trabalhar na investigação das organizações criminosas sem trabalhar a parte da lavagem de dinheiro. Se tiver um crime organizado, eles estão lucrando e eles estão lavando esse dinheiro. Essa modalidade [apostas] faz parte de uma forma de lavagem de dinheiro. Então esse trabalho da GCCO, não só dessa modalidade, mas de outras, é fruto de investigação contínua deste acompanhamento que a gente faz aqui no Estado.
 
MidiaNews - Nos últimos meses houve um incremento muito grandes nos assassinatos envolvendo facções criminosas em cidades como Sorriso e Cáceres. Não seria necessária uma ação mais incisiva da GCCO nestas cidades?
 
Vitor Hugo Bruzulato - O trabalho da GCCO ele é permanente, integrada, internamente entre as delegacias dos outros municípios, e é feito diariamente. Toda semana a gente tem ação. O que a gente faz em situações específicas, quando os colegas do interior solicitam apoio, a gente presta esse apoio, mas o trabalho é integrado. Assim como a gente fez em Sorriso, a gente fez em Barra do Bugres, a gente fez em Cáceres, Rondonópolis. Então, a GCCO tem dado esse suporte para as unidades onde têm algum tipo de trabalho mais grave e as operações estão sendo realizadas com este objetivo: de minimizar e de tentar solucionar e resgatar para aquela cidade ou localidade que vem sofrendo por algumas circunstâncias momentaneamente com essas situações envolvendo alguma disputa de território.
 
O que a gente vê muitas vezes é em razão da disputa do tráfico de drogas. Então a GCCO está atuante, fazendo as ações. E estamos vendo bastante as delegacias desenvolvendo diversas ações nesse sentido.
 
MidiaNews - O TJ está querendo criar duas novas varas criminais no interior para combater o crime organizado. Seria em Sinop e Cáceres. O senhor acha importante a criação destas duas novas varas?
 
Vitor Hugo Bruzulato - Acho muito bom. Quanto mais varas especializadas de combate ao crime organizado, melhor atendimento às investigações de crescimento da demanda. Muito bom.

comentar  Nenhum comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Agua Boa News. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Agua Boa News poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
 
 
Sitevip Internet