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16/01/16 às 18:34 / Atualizada: 22/01/16 às 16:33

Professor da UFMT do campus de Barra do Garças é o primeiro Brasileiro indicado ao prêmio Nobel da Educação

Francisco José

Centro Oeste Notícias

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Professor da UFMT do campus de Barra do Garças é o primeiro Brasileiro indicado ao prêmio Nobel da Educação

Batista ganhou recentemente o Prêmio Novelis de Sustentabilidade, desenvolvendo um tipo de carregador de baterias de celular movido a energia solar e que pode ser acoplado a bicicletas

Foto: Divulgação

Márcio Andrade Batista é mestre em Engenharia química e está terminando seu doutorado na Universidade Federal de Uberlândia. Paulista, Marcio se mudou para Barra do Garças – MT em 2010, onde ministra aulas na UFMT. Mas o que tem de diferente na história de Marcio? Bem simples, ele está concorrendo o “Global Teacher Prize”, o prêmio Nobel da Educação, Márcio é o primeiro brasileiro a ser indicado ao prêmio.

A premiação é nada mais nada menos do que US$ 1 milhão, são 50 candidatos de 29 países. O anúncio do vencedor será no mês de Março em Dubai.

Márcio deu uma entrevista exclusiva ao portal Centro Oeste Notícias, da qual falou a respeito da premiação, sua carreira profissional, perspectivas para a ciência brasileira e pontos de vista a respeito da educação do nosso país.

Como funciona essa seleção?
É o que chamam na academia de memorial, as coisas que você fez que podem ser consideradas relevantes e contribuiu para o status da sua profissão.

Foram quantos projetos desenvolvidos até hoje?
Nossa, mais de 50 projetos. Todos os alunos que eu orientei foram indicados a prêmios, alguns foram premiados e outros se tornaram professores.

O senhor já está produzindo novos inventos?
Já, estou produzindo a melhoria da lâmpada de Mozart, o filtro bactericida de casca de barú… tem muitas coisas que estou tocando simultaneamente.

O senhor nunca comercializou algum desses inventos?
Não, eu sou professor universitário, a universidade me paga para retribuir a sociedade, e é isso que eu faço.

A sociedade é grata ao senhor?
Eu não sei, não tenho esse retorno. Falando do prêmio Global Teacher Prize, foram 8 indicados americanos ao prêmio, eles foram recebidos pelo Obama, a indicada Argentina foi recebida na casa rosada, a indicada italiana foi recebida pelo primeiro ministro da Itália…

E o senhor foi recebido pela Dilma?
Não (risos), nem um tweet. Nem em Barra do Garças, nem um vereador, nada.

Falta apoio do poder público para a ciência?
Acho que cada sociedade valoriza os seus ícones.

O Brasil valoriza o que?
Não tem glamour nenhum em ser professor, não é uma profissão de status, não é tão legal quanto ser um jogador de futebol por exemplo. Esse cara que ganhou o prêmio Puskas (gol mais bonito do ano) foi recebido em Goiânia com o aeroporto interditado, foi um golaço, mas você não vai ver essa mesma repercussão com um professor que fez um projeto bacana.

O que deve ser mudado no Brasil em relação a ciência?
Ciência é um processo de longo prazo e investimento, não adianta você pensar que vai investir hoje e daqui um ano terá resultado, estamos falando talvez de décadas de investimentos pesados em ciência. Valorização da carreira docente, valorização do pesquisador, aliás, o pesquisador não é uma profissão, não existe essa classificação aqui. Para você se tornar um pesquisador no Brasil, deve-se tornar professor universitário e aí sim você acaba fazendo pesquisa. Nos Estados Unidos você pode optar por ser pesquisador ou professor, aqui não, eu por lei sou obrigado a fazer extensão, pesquisa e ensino. Agora você acha que é fácil eu sozinho fazer tudo isso? Eu tenho que ir na sociedade enxergar os problemas que ela precisa e propor uma solução, tenho que ir no laboratório desenvolver uma pesquisa e publicar e tenho que ir para a sala de aula. Se eu pudesse focar só na pesquisa, com certeza a minha produtividade com relação a isso iria aumentar. Então nós temos um longo caminho a percorrer. O sonho mesmo seria você ver um garotinho ou uma menininha falar “quando eu crescer, quero ser cientista ou pesquisador”.

Parte da culpa pelas nossas crianças e adolescentes não se interessarem por ciência é da mídia?
Eu gostaria de ver as grandes conquistas brasileiras aparecendo na TV, no jornal… a mídia poderia dar uma contribuição gigantesca para popularizar a ciência, a inovação e contribuir com a valorização da carreira docente e do pesquisador. Você já ouviu falar da Bianca, que ganhou o prêmio jovem cientista? Sendo a primeira Mato-grossense a ganhar o prêmio em 26 anos de história?

Não conhecia…
Foi a primeira do Mato Grosso, um prêmio que existe há 26 anos. Você não vê muito prazer pela ciência no Brasil. Se você digitar no “youtube” o nome “Kéfera”, vai ver vídeos com mais de 4 milhões de acessos, mais de 350 mil “likes” por vídeo. Se eu fizer um vídeo explicando o processo de fabricação da casca de castanha, que isso pode gerar um material de sustentabilidade, de baixo custo, de benefício… se eu tiver 100 likes é um efeito histórico. Eu assisti a entrevista do primeiro ministro de Portugal, cortaram ele para mostrar um jogador chegando no aeroporto. Eu gosto de futebol, adoro futebol, mas temos que colocar cada coisa no seu devido grau de importância.

Uma profissão sem Glamour e sem grandes retornos financeiros. O senhor sempre quis ser professor?
Sim, eu tive a influência de grandes professores que sabem muito bem o que é ciência, além de saber ensinar o que é ciência. Então eu já queria isso mesmo, eu fui apresentado a várias opções, mas escolhi ser professor.

Se fosse para escolher um país a fim de atuar como professor, qual país o senhor escolheria?
Brasil, sou brasileiro, gosto da terra, e já vou especificar, escolho a região em que estou. Sou Paulista. Fui convidado para dar uma palestra uma vez para uma turma de pós graduação da Univar (faculdade particular de Barra do Garças) e o pessoal falava assim, “Barra do Garças não tem opção”. Fiz uma experiência, fiquei uma semana na cidade, voltei e falei “gente, vocês estão em cima de uma mina de ouro, como não tem opções? A cidade tem um rio maravilhoso, você pode desenvolver a indústria pesqueira, você tem terra, você tem fruta, tem babaçu, barú, copaíba, mangaba. O que mais que precisa?” Eu olho e enxergo centenas de oportunidades nessa cidade, mas você tem que colocar a mão na massa e fazer acontecer.

A universidade remunera o senhor pelas pesquisas?
Não, pelo contrário, muitas vezes eu tiro dinheiro do meu bolso para bancar a pesquisa

O senhor gosta do conceito de universidade pública?
Gosto, mas a sociedade não sabe aproveitar a universidade. Enquanto existir o conceito de que a universidade é só para servir um grupo de pessoas que vão formar e ganhar dinheiro, nós estaremos andando por um caminho errado. A sociedade tem que dar uma despertada, por exemplo, vamos supor que eu tenho um açougue, preciso processar a carne, cortar, que tipo de embalagem eu vou colocar? Vai na universidade buscar ajuda, a universidade está lá para atender a sociedade. Em 5 anos de instituição eu nunca vi alguém bater na minha porta e dizer assim “eu sou um produtor de leite e quero agregar valor ao meu produto, me ajude a desenvolver uma bebida láctea?” Sim, é o meu papel, e eu não posso cobrar por isso, porque o estado já me paga para fazer isso. Esse tipo de coisa ainda precisa se espalhar um pouco mais.

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comentar23 comentários

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  • por Christovão Abrahão, em 23/01/16 às 20:16

    Parabéns, meu caro colega professor, por PENSAR FORA DA CAIXINHA!

  • por Juliana Soares, em 21/01/16 às 00:06

    Nossa que exemplo de professor! Já estou na universidade como estudante há cinco anos (inclusive faço engenharia química), e NUNCA me deparei com um professor com um propósito tão alinhado! Um professor que não pensou só em si, em ter seu dinheiro de servidor público no fim do mês garantido e ficar por isso. Você é um professor de talento e que o usa a serviço da sociedade. Vc é uma das poucas pessoas que fazem jus ao nome servidor PÚBLICO. Parabéns pela nomeação! Estou na torcida para que vc ganhe, e tenha certeza que se a mídia não valoriza, existem alunos que valorizam muito professores como vc. )

  • por Tochiaki Koyama, em 20/01/16 às 19:54

    Parabéns professor. O talento não escolhe local, raça, condição econômica, país, etc... Aliado a isso, a humildade e simplicidade que é peculiar nas grandes personalidades. O reconhecimento vira com certeza. Talvez não de maneira direta, no plano material, mas sim no plano espiritual. Onde realmente a verdade prevalece.

  • por João, em 20/01/16 às 13:46

    Parabéns mestre, felicidades na carreira. Ainda bem que existe vc.

  • por Hermeval Carlos Zanoni, em 20/01/16 às 05:00

    Vale a pena ler para saber que um dia este estado de caos no Brasil pode revertido. Leiam. Só falta mudar nossas autoridades e, falando/escrevendo sério - com nenhum destes políticos que hoje pontificam no Brasil vamos conseguir o que este professor prega, e é algo espetacular. Então sugiro que votemos não para mudar conceitos, mas para mudar gestores, pois os que estão no poder e que não querem largar o osso, jamais mudarão os conceitos. Também muito cuidado em votar numa garotada que vem se apresentando por aí. Muitos estão contaminados pelos velhos conceitos - o de se eleger e se dar bem. Quando digo mudar os políticos não é, necessariamente para pessoas novas. Deve haver um conjugação entre o novo, o experiente e o idealista. Se assim não for,cairemos naquilo que Roberto Campos falou para Maria da Conceição Tavares: A senhora tem boas e novas ideias. Uma pena que as boas são velhas e as novas são ruins.

  • por Alcioni Galdino, em 20/01/16 às 02:09

    Parabéns Professor Márcio! Que orgulho, que inspiração! Também sou professora em Universidade pública, conheço de perto e vivo essa realidade... Obrigada por essa alegria imensa que está nos proporcionando, por nos trazer esperança em tempos tão difíceis, obrigada! Felicidades e muito sucesso em sua caminhada!

  • por Gislaine Lopes, em 20/01/16 às 02:06

    Parabéns professor !!! Que bom saber que ainda existem pessoas como o senhor, que" florescem onde estão plantadas" e valorizam MT, não nasci aqui, mas amo esse estado lindo, rico e de oportunidades para os que realmente querem fazer a diferença! O senhor faz a diferença ... Parabéns!

  • por Kamila Dias, em 20/01/16 às 00:44

    Parabéns Professor ! És merecedor desta conquista.... És inspiração para ainda seguirmos em frente neste país em que vivemos... O que mais dói é saber da mínima valorização de os Senhores como profissionais da Educação ganham... Parabéns, parabéns... Inspiração para conquistas .

  • por ISMAEL CRISTO, em 19/01/16 às 17:57

    Esta noticia é como a luz do Sol que brilha em meio às nuvens escuras. Desejo que o Professo continue inspirando alunos e pessoas como, um dia, seus grandes professores o inspiraram. Congratulações e gratidão por elevar o Brasil, o Magistério e a pesquisa a este degrau tão elevado e tão merecido!

  • por Alexandre Gonçalves, em 19/01/16 às 17:20

    Só uma dúvida: certeza que não é "lâmpada de Moser"?!

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