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03/01/16 às 23:27

Mais de R$ 10 milhões em defensivos são recuperados pelo GCCO

Luciene Oliveira | PJC-MT

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O furto de defensivos agrícolas é uma atividade criminosa altamente lucrativa que desperta o interesse de quadrilhas especializadas, que agem nas principais regiões produtoras do Estado de Mato Grosso, principalmente no Norte, Médio-Norte e Sul. 
 
Por ser um crime com pena leve, a partir de dois anos, organizações criminosas deixaram o risco do roubo a banco, na modalidade “Novo Cangaço”, e ataques a caixas eletrônicos com uso de explosivos, que têm penas mais elevadas, para subtração de agrotóxicos vendidos sob encomenda.
 
Os casos são investigados pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Polícia Judiciária Civil, que por mês recebe de 3 a 4 ocorrências de furto e roubo, no período da safra de alguns grãos. Segundo o GCCO, os registros crescem entre os meses de outubro e dezembro, quando inicia o plantio da soja, principal grão cultivado no País, e segue também com ocorrências durante o plantio do algodão e do milho, entre os meses de janeiro a março. 
 
Em 2015, as investigações da Polícia Civil conseguiram recuperar cerca de R$ 10 milhões de produtos subtraídos de fazendas agrícolas de Mato Grosso, e levaram à prisão 30 integrantes de quadrilhas que agem em roubos, furtos e receptação de defensivos agrícolas em Mato Grosso e também no estado de Goiás. Em inquéritos policiais, 45 pessoas foram indiciadas nos crimes.
 
O delegado do GCCO, Diogo Santana Souza, destaca que a migração das quadrilhas para o defensivo se dá devido à rentabilidade e a fragilidade dos locais armazenados. “Para cada furto as quadrilhas conseguem angariar de R$ 2 a 3 milhões, enquanto que no Novo Cangaço não conseguem isso e o risco é maior”, disse. “Estamos tentando sensibilizar os juízes para não tratarem o furto de defensivos agrícolas como se fosse o furto de uma geladeira, de uma bicicleta, a própria economia do Estado é colocada em risco quando se começa a furtar grandes produtores”, ponderou.  
 
De acordo com o delegado titular do GCCO, Flávio Henrique Stringueta, em regra, as quadrilhas agem nos horários em que não há pessoas vigiando os locais com defensivos armazenados, na madrugada, finais de semana ou feriados. “O mais comum é o crime de furto, cuja pena é realmente muito baixa se comparada ao Novo Cangaço, em que o crime pode ser de roubo triplamente majorado e até tentativa de latrocínio, devido aos disparos efetuados pelas quadrilhas”, destaca.
 
As quadrilhas de ataques a caixas eletrônicos com uso de explosivos também estão de “olho” nos defensivos, justamente pelo risco ser menor.  “Nos ataques a caixas eletrônicos relacionados aos explosivos, que eleva a pena e a lucratividade é muito inferior, raramente ultrapassando R$ 50 mil, há maior risco de serem pegos em flagrante, por se tratar de crime cometido nos centros urbanos”, completou Stringueta.
 
Outro ponto, segundo os delegados, é a facilidade de acesso a grandes quantidades do produto guardado em fazendas, sem nenhuma segurança ou vigilância eletrônica, o que
Delegado Diogo Santana é o responsável pelas investigações, junto a sua equipe.
dificulta as investigações. “O fazendeiro quando compra o defensivo deixa um num balcão de zinco, sem nenhuma segurança, apenas com um cadeado e ninguém tomando conta do produto. Deixa 2 a 3 milhões armazenados dessa forma. Isso dificulta nosso trabalho. Não tem um sistema de filmagem, muitas vezes não tem alarme. Se a gente tivesse uma segurança maior por parte do fazendeiro iria facilitar a investigação e maior recuperação”, destaca Diogo Santana.
 
Para os crimes, as quadrilhas empregam entre 8 a 10 pessoas, que invadem as propriedades já com conhecimento do local exato onde o produto está guardado e usando, geralmente, caminhonetes colocam o agrotóxico na carroceria do veículo e depois transferem para um caminhão, mantido escondido nas proximidades.
 
Para a Polícia Civil, os delitos não ocorrem aleatoriamente, as quadrilhas já têm mapeado a propriedade que armazena determinado tipo de produto, que são levados para compradores certos, dentro do próprio Estado de Mato  Grosso e outros Estados da região Centro Oeste, como Goiás. “Não é simples estar com uma carga de R$ 3 milhões com defensivos específicos e sair à procura de comprador. Antes de cometer o furto já sabem para onde irá cada carga. Nesse trabalho, identificamos algumas quadrilhas de Goiás que vêm para cá furtar e volta com o produto”, disse Diogo Santana.
 
Devido à incidência das ocorrências, as Polícias Civis de Mato Grosso e Goiás firmaram parceria para troca de informações e intensificar a repressão às quadrilhas que agem em roubos de defensivos agrícolas nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins.
 
A parceria, em 2015, deu resultado e ajudou na recuperação de um caminhão e uma caminhonete, trocados por defensivos furtados de uma propriedade no município de Planalto da Serra (256 km ao Sul), e na prisão de dois membros de quadrilhas que agem em fazendas dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
 
Um dos autores do furto de cerca de R$ 500 mil, ocorrido no dia 9 de outubro, foi preso na  cidade de Caiapônia (GO), com um caminhão e uma caminhonete que recebeu em troca da carga de defensivos. O segundo preso,  acusado de roubos em propriedades rurais dos estados de MT, MS e GO, teve o mandado de prisão cumprido na cidade de Rio Verde, Goiás.
 
Também em investigações, 19 funcionários de uma empresa de transporte de defensivos foram presos em operação da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO). O grupo é acusado de desviar R$ 5 milhões, simulando roubos de cargas da empresa onde  trabalhavam. “É a maior empresa de transporte de defensivos, que os funcionários criaram uma verdadeira organização criminosa lá dentro”, destacou o delegado Diogo.
 
Para 2016, o GCCO tem o compromisso intensificar a repressão a essa modalidade criminosa, na medida em que receberá maior efetivo e estrutura. “O agronegócio é a força motriz de nosso Estado e esse crime atinge diretamente a principal fonte de arrecadação pública de Mato Grosso. Essa também é a meta da Secretaria de Segurança Pública e do nosso Governador”, finalizou o delegado Flávio Stringueta.
 
Transporte
 
Os produtos são comercializados de acordo com a produção agrícola. No plantio da soja, por exemplo, sua comercialização ocorre nos meses de setembro a outubro. É transportado entre outubro a novembro e aplicado na lavoura nos meses de novembro até 20 de dezembro. O ideal é levar o produto em pequenas quantidades para as fazendas.
 
Os defensivos são roubados nos períodos que antecedem as safras e durante o cultivo da soja, algodão, trigo e arroz. Devido ao alto valor agregado, principalmente herbicidas e fungicidas, são comercializados em todo o Brasil.

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