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19/04/21 às 13:07 / Atualizada: 19/04/21 às 13:24

Abril Indígena: Com apoio da Funai, povo Haliti Paresi consolida produção sustentável de grãos no MT

Assessoria Funai

AguaBoaNews/Cuiabá

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Abril Indígena: Com apoio da Funai, povo Haliti Paresi consolida produção sustentável de grãos no MT

Foto: Assessoria Funai

Há cerca de 15 anos, o povo Haliti Paresi aprendeu as técnicas sobre o cultivo de grãos. Hoje, as quatro principais cooperativas da etnia plantam cerca de 20 mil hectares de lavouras mecanizadas, que correspondem a 1,7% da área total de duas Terras Indígenas – Utiariti e Paresi – localizadas entre os municípios de Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra e Sapezal, estado do Mato Grosso. A produção total de grãos dessas associações indígenas deve chegar a aproximadamente 76 mil toneladas de grãos nas duas safras deste ano.

Com os povos Nambikwara e Manoki, cujas Terras Indígenas são vizinhas a seu território, os Haliti Paresi cultivam principalmente soja, feijão, milho, painço e gergelim. O faturamento médio das três etnias juntas é de R$ 20 milhões por ano, parte dos quais beneficia aproximadamente 2 mil indígenas Paresi. A Fundação Nacional do Índio (Funai) tem apoiado a produção agrícola dos Paresi por meio de iniciativas como os convênios com instituições de ensino para a realização de cursos técnicos e o suporte à produção experimental de 38 hectares de soja preta, que produziram 25 mil sacas em 2020. 

Em janeiro, lideranças do povo Paresi estiveram na sede da fundação, em Brasília-DF, para tratar sobre projetos de etnodesenvolvimento. Em reunião realizada em setembro de 2020, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, havia citado o compromisso da fundação com o apoio a iniciativas produtivas dos povos indígenas. "A Funai está aberta ao diálogo e apoia a execução desses projetos porque é fundamental compatibilizar atividades que promovam a independência dos indígenas com o desenvolvimento sustentável, sempre respeitando a autonomia de cada povo", ressaltou Xavier na ocasião. 



Produção

A produção da Cooperativa Agropecuária dos Povos Indigenas Haliti, Nambikwra e Manoky (Coopihanama) inclui o cultivo de três variedades de feijão, duas de milho e uma de soja em lavouras distribuídas por 9,5 mil hectares, cuja previsão da safra e safrinha deste ano chega a 44 mil toneladas. Estas atividades agrícolas beneficiam aproximadamente 1,3 mil indígenas das três etnias que participam da cooperativa, entre elas o povo Haliti-Paresi. 

Conforme relata a presidente da Coopihanama, Eliane Aparecida Zoizocaeroce, o projeto de lavouras mecanizadas em grande escala dentro da Terra Indígena trouxe geração de empregos, renda e subsídios de projetos de criação familiar, “além dos indígenas terem a oportunidade de trabalhar em seu próprio território, pois há muito tempo somos discriminados e taxados como preguiçosos. Isso demonstra que precisamos apenas de regularização desta atividade para desenvolver um trabalho que nos garanta o fortalecimento cultural, a dignidade e a qualidade de vida”, afirma. 

Com 2 mil hectares cultivados, a safra de soja da Cooperativa Agropecuária Indígena Rio Verde (Coopirio) chegou a aproximadamente 6 mil toneladas em 2021. A renda da produção deverá beneficiar 116 famílias indígenas distribuídas por 13 aldeias da Terra Indígena Paresi, município de Tangará da Serra (MT). Já a Cooperativa Agropecuária do Povo Indígena Haliti Paresi (Coopiparesi) plantou 4 mil hectares divididos entre lavouras de soja e feijão mungo-verde na safra deste ano. A produção de soja foi de uma média de 56 sacas/hectare. 

Além destes principais grãos cultivados na época da safra, durante os meses da safrinha a Coopiparesi planta cerca de 1,3 mil hectares de milho de pipoca, 1 mil hectares de milho de canjica, 100 hectares de milho comum, 890 hectares de gergelim, 400 hectares de feijão azulki e 270 hectares de painço. A renda gerada pela produção agrícola desta cooperativa beneficia cerca de 300 pessoas de 74 famílias indígenas da etnia Haliti Paresi na Terra Indígena Utiariti. 

Já a Cooperativa dos Produtores Rurais da Cultura Mecanizada da Etnia Paresi de Tangara da Serra (Coopermatsene) colheu 1,9 mil toneladas de feijão mungo em uma área de 1.057 hectares. A cooperativa também deverá colher cerca de 9 mil toneladas de soja na safra 2020-2021 cultivada em 2.073 hectares. São 102 famílias indígenas beneficiadas com a atividade agrícola na Terra Indígena Paresi. Além de gerar trabalho e renda nas aldeias, a produção garante a formação profissional dos indígenas em diversas áreas, relata o presidente da Coopermatsene, relata Edinaldo Zozoizokemae. 

Ao falar sobre as conquistas do povo Haliti Paresi a partir dos projetos agrícolas, Edinaldo recorda dos tempos em que a etnia passava por situação de vulnerabilidade social. "Lembrando da minha juventude quando nossa luta diária era por alimentação, pois a maioria do nosso povo sofria com desnutrição, hoje avalio que vencemos essa etapa em virtude do trabalho e da renda conseguidos com esse projeto. Passamos a lutar por igualdade, educação, saúde, vestimenta, melhoria em nossas moradias, luz elétrica, internet, locomoção e respeito”, afirma Edinaldo.
 
Autonomia

A independência financeira proporcionada pelas atividades produtivas fez com que muitos indígenas voltassem a viver nas Terras Indígenas da etnia Paresi, conta Eliane Zoizocaeroce. “Com a implantação dos projetos socioeconômicos dentro do território Haliti Paresi, dentre eles a lavoura mecanizada, as aldeias tiveram como consequência a volta daqueles índios que estavam fora. Eles retornaram para sua aldeia, trabalhando direta e indiretamente nas lavouras ou na criação de galinhas, peixes, pequenas plantações e roças de toco”, relata a líder indígena. 

“Com total respeito à autonomia dos povos indígenas, nosso principal objetivo é contribuir para que eles conquistem novos mercados e alcancem independência econômica, gerando renda para suas famílias e fortalecendo a sua identidade enquanto cultura singular. A carcinicultura realizada pelo povo Potiguara, assim como a produção agrícola do povo Paresi, o cultivo do café especial dos Suruí e a produção de castanha dos Cinta Larga, demonstram que é possível fazer diferente. Por isso temos acompanhado e prestado apoio a projetos de etnodesenvolvimento semelhantes", completa Xavier. 

O coordenador-geral de Etnodesenvolvimento da Funai, Juan Negret Scalia, salienta que dentro da autonomia de cada povo indígena, a fundação procura escolher as cadeias produtivas e alinhar a produção a critérios de sustentabilidade ambiental. "No caso das lavouras dos Paresi, no prazo de sete anos, os indígenas reverteram os arrendamentos, eliminaram os transgênicos, passaram a adotar práticas de controle biológico em metade da área produtiva e estão se aproximando da cadeia de alimentos orgânicos. Esperamos, em breve, comemorar conquistas nesse sentido", destaca Scalia. 

Cultura

Para o presidente da Coopirio, Carlito Paresi, a melhoria da renda com a produção agrícola fortaleceu a identidade do seu povo. “Nossa cultura em primeiro lugar, porque o povo Haliti Paresi sempre esteve preocupado com a sua linguagem, suas festas tradicionais, a casa tradicional onde é feita a oferenda para flauta e flecha sagradas”, afirma Carlito. A presidente da Copihanama, Eliane Zoizocaeroce, pontua que, com o êxodo dos indígenas, a cultura e as práticas cotidianas foram deixadas de lado. “Os projetos de produção agrícola trouxeram meios para fortalecer nossas rezas, oferendas e rituais, que não vinham sendo feitos”. 

O diretor da Coopiparesi, Lúcio Paresi, recorda que antes dos projetos de atividade agrícola as aldeias viviam em grave situação social.  “Nossa comunidade estava com estima baixa, com alto grau de fragilidade. A falta de renda e trabalho atingia diretamente a dignidade da pessoa, da família e da sociedade Paresi, inclusive a vitalidade da cultura”. Sem perspectiva de trabalho e renda, os adultos saíam das aldeias em busca de trabalho nas fazendas vizinhas ou nas cidades, o que havia ocasionado o distanciamento do convívio cultural nas aldeias. 

“Os projetos agrícolas amenizaram de forma significativa esta evasão. Atualmente às práticas tradicionais são muito constantes, como a realização das oferendas e festas tradicionais, construção de hati (ocas) nas aldeias, vivência comunitária e sentimento de orgulho de um povo forte e feliz, com perspectiva de crescimento social e econômico”, relata Lúcio Paresi.

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