Notícias / Agricultura

29/12/15 às 09:33

Previsão de chuva ‘boa’ só para fevereiro pode provocar a pior safra de soja da história de MT

Jornal O Pioneiro

Imprimir Enviar para um amigo
Previsão de chuva ‘boa’ só para fevereiro pode provocar a pior safra de soja da história de MT

Situação crítica de lavoura de soja no município de Canarana

CANARANA / QUERÊNCIA - A falta de chuva desenha um quadro bastante crítico para as lavouras de soja em Mato Grosso. Se as previsões de que a chuva 'boa' só chegará em fevereiro se confirmarem, estaremos caminhando para a maior quebra da safra de soja da história do Estado. O Jornal O Pioneiro entrevistou representantes do setor em Canarana e Querência e a confirmação é que a falta de chuva é geral.

Querência estava com previsão de plantar nessa safra 335 mil hectares com soja, contra 315 no ciclo passado. Já a safrinha de milho, que ocupou 100 mil hectares de área na última safra, é uma incógnita para 2016 por conta do atraso no plantio da soja. O potencial agricultável do município de Querência é de 400 mil hectares.

Conforme o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Querência, Eleandro Mariani Ribeiro, o plantio da soja está quase encerrado no Município, mas muitas lavouras estão com problemas na germinação e no desenvolvimento da planta. Ele, que mora há 17 anos em Querência, nunca tinha visto um ano tão ruim de chuva como este. “Tem lugares em Querência onde o produtor disse que tá chovendo bem, mas você fala com outro produtor que diz que não deu uma gota de água, que já faz 10 dias que não chove. Então ele tá igual início ou final do ciclo de chuva, que chove num lugar e no outro não. A chuva ainda não se estabilizou, não é parelha, tá muito instável. Nunca tinha visto, há 17 anos que estou aqui, coisa desse tipo. Já teve anos que produtores tiveram que replantar, mas quando a chuva iniciava mesmo, ela não parava e numa época dessas já tinha caído muita água”.

Se a chuva não chegar, como apontam as previsões, municípios como Querência e Canarana terão uma grande quebra na economia. Para diversificar a economia e amenizar possíveis secas no futuro, Eleandro disse que a solução é diversificar as atividades. Hoje Querência possui cerca de 80 mil cabeças de gado, mas já chegou a ter 300 mil. Com as pastagens degradadas, a melhor maneira de recuperar as áreas era transformando em lavoura. Com a lucratividade da soja, muitos produtores não retornaram para a pecuária, ficando somente com uma atividade. Porém, secas como essa fazem o produtor repensar. “Produtores estão vendo com outros olhos trabalhar com gado novamente e outras culturas”. Eleandro também disse que há produtores bem estruturados que suportam um ano de dificuldade, mas outros, principalmente que já vieram com perdas nos últimos anos, podem não suportar uma quebra. A consequência disso será sentida no comércio e em todo o Município.

Com a quebra que se desenha, o secretário de Agricultura acredita que o aumento da área plantada, que batia recordes ano a ano, pode paralisar. “Já teve uma parada para a safra desse ano e se realmente se consolidar essa quebra, o aumento imediato para a safra do próximo ano também será reduzido”.

O pecuarista Danilo Lacerda de Aguiar, 57 anos, mora há 29 anos em Querência. Ele e seu filho têm dois lotes em um assentamento de Querência. Ele nunca viu uma seca nessa época como a deste ano. “No meu lote não chove de 30 dias pra cima, o poço que temos está secando. Nunca aconteceu isso. O nível dos rios está baixo, nunca teve como agora. As pastagens e a soja estão morrendo. Se a chuva não vier, vou ter que soltar o gado para o córrego e dar um pouco de milho. Difícil”.

Em Canarana a situação não é diferente. Há relatos de produtores que já plantaram três vezes a mesma área. Outros desistiram e vão plantar milho em janeiro. A previsão é que o município plantasse 250 mil hectares com soja, contra 237 no último ciclo. Conforme o presidente do Sindicato Rural, Arlindo Cancian, ainda resta cerca de 10% da área para ser semeada. Geralmente o plantio termina no mês de novembro. Arlindo disse que até sábado, dia 12, fazia 20 dias que não chovia em sua lavoura de soja. Algumas áreas estão há um mês sem nenhuma gota de água. “Moro há 37 anos em Canarana e nunca vi nada parecido. A situação é crítica em todo o Estado, mas mais crítica no Vale do Araguaia. O quadro está se desenhando para a pior quebra de produção da história”, disse Arlindo.

Para o engenheiro agrônomo Pércio Cancian, que atua em Canarana e Região, esta está sendo a maior seca dos últimos 40 anos. Pércio questionou uma notícia que saiu no Globo Rural onde a Conab fala em uma super safra de soja. “No Mato Grosso a maior seca dos últimos 40 anos. O Pará tá igual. O Nordeste seco também. Já o Sul terá perdas por muita chuva”.

De acordo com Marco Antônio Soares, agrometeorologista da Somar Meteorologia, chuva “boa” só ocorrerá em fevereiro. Dados do Inmet, que tem uma estação meteorológica em Canarana, indicam que em outubro choveu 149 milímetros e em novembro 153 mm. O medidor que fica na área experimental da Meta Assessoria, somou 164 mm em outubro e 84 mm em novembro. As chuvas têm sido muito irregulares e em outras regiões do município têm chovido muito menos. Nossa reportagem tentou baixar os dados históricos de chuva no site do Inmet nos meses de outubro e novembro a fim de comparação, mas o sistema estava com problemas. (DR).
 

Secretário de Agricultura de Querência Eleandro  Marini e o pecuarista Danilo Lacerda


Situação de lavoura... Sofrendo com falta de umidade... Foto Pércio Cancian

Matéria publlicada no site do Jornal O Pioneiro em 21 de dezembro.

 

comentar  Nenhum comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Agua Boa News. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Agua Boa News poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
 
 
Sitevip Internet