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29/08/20 às 11:59

Socorro, tem fogo na fazenda

Pecuaristas contam como enfrentam incêndios em seus pastos, baseados na solidariedade. Um deles até elaborou uma cartilha que distribui a vizinhos e amigos

Vera Ondei

Portal DBO

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A imagem acima foi feita pelos bombeiros de Mato Grosso do Sul, em uma corrida contra o fogo que se alastrou pelo Pantanal a partir do final de julho. Nos últimos dias, as temperaturas mais baixas trazidas por uma frente fria deu algum alívio, mas o alerta contra focos de incêndios continua. E não é apenas no Pantanal. Nas fazendas do Centro-Oeste, a ordem de atenção máxima é uma constante nesta época, até que as primeiras chuvas do final de setembro tirem de vez o fogo da agenda.

O fogo não é mal visto apenas na agricultura. Na pecuária de pastagens cultivadas o fogo é considerado um inimigo de primeira ordem. A conta é simples: fogo significa prejuízo. Um solo queimado leva até 5 anos para recuperar a sua fertilidade e estrutura física, arduamente construída com rotação de culturas, adubação, plantio direto e demais tecnologias hoje utilizadas na pecuária que se pretende cada vez mais intensiva.

Por isso, na estação seca a arma dos produtores, contras os focos de incêndio, é a organização e a solidariedade entre vizinhos. “Aqui, no vale do Araguaia goiano, levantou uma fumaça chegam 10 tanques em pouco tempo”, diz Luciano de Oliveira, dono da fazenda Porto Alegre, no município de Novo Mundo (GO). “Tem que orientar os fazendeiros para terem, em massa, comboios de apagar fogo. É única coisa que realmente funciona. Começou um foco, junta 10 comboios, segura o fogo para entrar a noite e aí resolve o problema quando baixar a temperatura e os ventos.” Oliveira faz recria e engorda de gado e está iniciando a Integração Lavoura-Pecuária plantando soja.


Luciano de Oliveira decidiu escrever uma cartilha para melhor combater incêndios. Foto: divulgação
 
Com a experiência de 20 anos apagando focos de incêndio, o produtor decidiu escrever uma cartilha baseada em suas experiências. Criou um manual próprio de combate a incêndios na fazenda (confira abaixo). Ele serve para orientar os funcionários e já foi oferecido aos vizinhos. Oliveira também espalha a sua cartilha pelos grupos de Whatsapp dos quais participa, entre eles o RedeDBO, um grupo que reúne pecuaristas, consultores e a academia.

“Tenho que te dar os parabéns”, diz Teia Fava, dona da fazenda Estrela do Sul, no município de General Carneiro (MT), próximo a Barra do Garças. “Fizemos uma parceria com os bombeiros, mas essa cartilha está muito mais povoada de informações do que a nossa.” Teia conta que costuma seguir as orientações, deixando o comboio sempre cheio, os tratores abastecidos e a vizinhança em contato. “Sou vizinha de índios. Imagina o cuidado com os pastos.”

Solidariedade na pecuária

Para Paulo Leonel, criador de nelore na fazenda Barreiro Grande, em Nova Crixás  (GO), a ordem é ajudar quem precise. “Isso é uma regra aqui em casa: é muito melhor ajudar a apagar fogo no vizinho e quanto mais longe, melhor”, diz . “Levo os comboios que temos e cercamos o fogo, se deixar chegar em casa não cerca mais. Por isso, há vários anos que não temos esse problema”.

O medo do fogo foi a tônica para os fazendeiros do Pantanal, bioma que atravessa a maior seca dos últimos 50 anos. Antonio Carlos  Rezende, diretor do grupo Rezende, viu de perto o fogo devastar uma área de cerca de 1,4 milhão de hectares, cerca de 10% da área do Pantanal. O pecuarista tem um rebanho de 40 mil animais em Mato Grosso, nas fazendas Santo Antônio das Três Marias e Peixe de Couro, ambas no município de Santo Antonio do Leverger, e nas fazendas Santo Antônio do Ouro Branco e Santo Antônio da Mulateira, em Juscimeira. “Sem dúvida, ajudar apagar fogo no vizinho é muito melhor que ter de chamar os vizinhos para apagar fogo na sua casa”. 

André Aguiar, engenheiro agrônomo e sócio diretor da Boviplan, empresa de consultoria em gestão e produção agropecuária, diz que a saída é a organização. Principalmente para pecuaristas de pequeno porte que não possuem equipamentos e mão de obra disponível e treinada para combate ao fogo. “A solução só vem no momento que eles se organizarem como grupo e se apoiarem para conscientizar as pessoas contra o fogo e também para combater os incêndios.”

Ele conta que de uma equipe de 80 pessoas que trabalham nas fazendas que gerencia no Amazonas, 6 são treinadas para o combate a incêndios, além de manter 2 tratores com tanque contra incêndio, pá carregadeira, trator esteira, sopradores e roupas de bombeiro anti-chamas de prontidão. “Semanas atrás estavam todos a postos para controlar fogo numa propriedade vizinha”, afirma Aguiar. “Custos invisíveis que na maioria das vezes não estão previstos nos estudos de viabilidade econômica dos projetos pecuários. E ainda por cima pagando hora extra.”


Cartilha elaborada por Luciano de Oliveira, da fazenda Porto Alegre

COMUNICADO IMPORTANTE:

Dicas para enfrentarem um incêndio nas fazendas, repassem inclusive para os colaboradores.

1) Confiram os tanques de água, ditos comboios, verifiquem as bomba (se for a óleo conferir o nível do óleo, se for de correia e graxa, verificar as correias e o óleo ou graxa);

2) mangueiras do comboio – verificar se não tem vazamento que possa dar entrada de ar na hora de encher de água;

3)PNEUS – verificar estado geral dos pneus, calibragem correta, levar o estepe CALIBRADO, chave de roda, macaco, toco;

4) cardan que aciona a bomba – engraxar, ver se não está ruim, se não está curto demais que possa sair ou comprido demais que possa colidir internamente numa manobra brusca;

6) revisar os tratores;

5) trator sempre abastecido, tanque sempre cheio, engatado e no ponto de sair;

7) quem não tem rádio, saber sempre onde cada companheiro está, pois um tratorista sozinho não faz nada. É preciso o mínimo 2 pessoas para operar um tanque;

8) ao sair, se possível, deixar alguém avisando as principais pessoas que tenham condições e interesse em te ajudar;

9) entender para que lado o vento está levando o fogo, o lado que está sendo empurrado pelo vento é o ponto principal a ser combatido. Mas, num primeiro momento, cada um vai querer salvar sua fazenda primeiro;

10) leve um alicate (de preferência aquele fazendeiro), você vai precisar para abrir uma cerca;

11)  se tiver trator de lâmina, pá carregadeira, patrola, trator de esteira, coloque  para ir fazendo um aceiro de longe. E se ver que tenha brecha coloque um contrafogo. Isso, se tiver uns tanques para dar suporte. Esse aceiro pode ser uma estrada, corredor, brejo.

12) leve uns pedaços de mangueira preta. Num contrafogo você vai acender ela e sair correndo pingando o plástico e pegando no capim. Não esqueça de levar fósforo ou isqueiro;

13) oriente os colaboradores a trabalharem em sincronia. Se for enfrentar diretamente um foco que tenha possibilidade de apagar, um entra em combate, e forma a fila atrás. De quem for acabando a água, esse vai encher novamente e entrar na fila lá atrás novamente, e assim sucessivamente;

13) não enfrentar labaredas muito fortes, que ponham em risco o tratorista e maquinário. Coloque eles para pensarem;

14) trocar ideias num incêndio é muito importante, fazer o reconhecimento da área, posição do vento, localizar pontos de apoio, como corredores, identificar os pontos de abastecimento de água mais próximos, conversar com alguém que conheça a fazenda;

15) quem puder baixe o aplicativo FIELDAREAMENSURE, baixe a imagem da sua região quando estiver conectado na internet que depois ele trabalha off-line, ajuda demais, é um aplicativo GPS, para sua localização e medir áreas e distâncias;

16) uma moto ajuda muito, quadriciclo, pessoas montadas à cavalo, sistema de rádio. Q uem tiver condições é uma ferramenta muito muito eficiente;

17) manter sempre as divisas aceiradas, fazenda NUNCA SOZINHA, fé em Deus, contar com a sorte e evitar o desespero. Fazer um checklist antes de sair, rezar pra noite chegar logo para trabalhar melhor, união e uma boa equipe. Essas são medidas que ajudam bem a enfrentar o problema.

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