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09/04/20 às 10:11

OIT: pandemia vai acabar com o equivalente a 195 milhões de empregos

Estudo aponta que, em um trimestre, crise da covid-19 cortará 6,7% das horas de trabalho no mundo; diretor-geral fala em catástrofe econômica e social

Oscar Volpato, Projeto Colabora

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Rua 25 de Março, em São Paulo, deserta durante as medidas de confinamento: trabalhadores do comércio e informais entre os mais afetados pela crise no trabalho (Foto: Ravene Rosa/Agência Brasil
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A Organização Internacional de Trabalho prevê que a crise causada pelo coronavírus acabe com 6,7% das horas de trabalho em todo o mundo no segundo trimestre de 2020 – o equivalente a 195 milhões de trabalhadores desempregados em período integral. “Nós tínhamos uma previsão de cerca de 180 milhões de desempregados no mundo em 2020; comparativamente, em três meses, vamos mais que dobrar esse número. É uma catástrofe econômica e social que precisa de resposta global”, afirmou o diretor-geral da OIT, o britânico Guy Ryder, em debate nesta terça (7/4) promovido pela Academia do Pacto Global da ONU, adiantando número do relatório da organização divulgado também nesta terça.

"É um equívoco criar um falso dilema entre saúde e emprego. É uma crise global em que todos os fatores – sanitários, econômicos, sociais – estão interligados. Mas, com certeza, precisamos vencer primeiro a pandemia para sermos capazes de enfrentar os outros desafios. Agora, não se enganem: as ações para proteger os trabalhadores e os empreendimentos têm que começar imediatamente"
Guy Ryder
Diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho
 
Guy Ryder disse ainda que o estudo da OIT calcula que 81% da força de trabalho de todo mundo já tenha sido afetada pela crise provocada pelo coronavírus. “Devemos ter em mente que 61% da força de trabalho mundial – principalmente nos países em desenvolvimento – está na economia informal, sem qualquer rede de proteção e muitos sem acesso a serviços de saúde”, destacou o diretor-geral da OIT. No total, são quase três bilhões de trabalhadores já afetados pela pandemia. “Trabalhadores e empresas estão enfrentando uma catástrofe, tanto nas economias desenvolvidas quanto nas em desenvolvimento. Temos que agir rápido, decisivamente e juntos. As medidas corretas e urgentes podem fazer a diferença entre sobrevivência e colapso”, frisou.

A projeção inicial de mais 25 milhões de desempregado feita pela OIT há três semanas foi atropelada pela realidade, com a transmissão mais rápida de coronavírus e as mortes causadas pela covid-19. Ryder explicou que a OIT refez seus cálculos para inclusive considerar os milhões de trabalhadores que recebem por hora ou por semana e estão sendo afetados pela crise. De acordo com o novo estudo, 1,25 bilhão de trabalhadores estão empregados nos setores identificados como de alto risco de aumento no número de demissões e reduções nos salários e nas horas de trabalho. “São setores que vão sofrer impactos drásticos e devastadores. E muitos desses trabalhadores estão em empregos mal remunerados e pouco qualificados, onde uma súbita perda de renda é desastrosa para a família”, afirmou o diretor-geral da OIT.

No seminário promovido pelo Academia do Pacto Global, o britânico Guy Riyer fez críticas aqueles que “criam um falso dilema entre saúde e emprego” no enfrentamento da crise. “É uma crise global em que todos os fatores – sanitários, econômicos, sociais – estão interligados. Mas, com certeza, precisamos vencer primeiro a pandemia para sermos capazes de enfrentar os outros desafios. Agora, não se enganem: as ações para proteger os trabalhadores e os empreendimentos têm que começar imediatamente”, disse o diretor-geral da OIT, que participou do seminário sobre o mundo do trabalho diante da covid-19 com Roberto Suárez Santos, secretário-geral, Organização Internacional de Empregadores e Sharan Burrow, secretário-geral da Confederação Sindical Internacional.
 
Rider enfatizou a necessidade de uma saída global para a crise social e econômica que virá. “Nenhum líder político pode se considerar líder de um país apenas, considerando apenas seus interesses. Nenhum líder empresarial pode se considerar líder apenas de sua empresa ou seu setor. As respostas precisam ser globais”, afirmou. Ele destacou ainda que os países emergentes e em desenvolvimento serão os que mais vão sofrer e precisam que governos e organismos internacionais ajam rapidamente. “São milhões de trabalhadores que não têm qualquer proteção social e dependem da renda que fazem dia-a-dia. Ficar em casa sem nada receber ou sair para trabalhar e arriscar a vida é um dilema impossível. Essas pessoas precisam de assistência imediata”, enfatizou o diretor-geral da OIT.

Trabalhadores em setores de alto risco

Em termos regionais, o novo estudo da OIT aponta que a proporção de trabalhadores nesses setores com alto risco de demissões e redução de jornada – acomodações e serviços de alimentação (restaurantes, bares e hotéis), varejo, indústria e atividades comerciais e administrativas – varia de 43% nas Américas a 26% na África. Algumas regiões, principalmente a África, têm níveis mais altos de informalidade, que combinados com a falta de proteção social, alta densidade populacional e capacidade fraca, apresentam sérios desafios econômicos e de saúde para os governos, alerta o relatório.


"Este é o maior teste para a cooperação internacional em mais de 75 anos, desde a segunda grande guerra. Se um país falha, todos nós falhamos. Precisamos encontrar soluções que ajudem todos os segmentos de nossa sociedade global, particularmente aqueles que são mais vulneráveis ou menos capazes de ajudar a si mesmos"
Guy Ryder Diretor-geral da OIT
 
De acordo com a OIT, grandes reduções no nível de emprego estão previstas nos Estados Árabes (8,1%, equivalente a 5 milhões de trabalhadores em período integral), na Europa (7,8% ou 12 milhões de trabalhadores em período integral) e Ásia e Pacífico (7,2%, 125 milhões em período integral). trabalhadores temporários). Grandes perdas são esperadas em diferentes grupos de renda, mas especialmente nos países de renda média alta (7,0%, 100 milhões de trabalhadores em período integral). Isso excede em muito os efeitos da crise financeira de 2008-9.

Guy Rider enfatizou que, em todo o mundo, dois bilhões de pessoas trabalham no setor informal (principalmente nas economias emergentes e em desenvolvimento) e estão particularmente em risco. “Este é o maior teste para a cooperação internacional em mais de 75 anos, desde a segunda grande guerra. Se um país falha, todos nós falhamos. Precisamos encontrar soluções que ajudem todos os segmentos de nossa sociedade global, particularmente aqueles que são mais vulneráveis ou menos capazes de ajudar a si mesmos”, afirmou o diretor-geral da OIT.

O documento da organização estabelece que são necessárias medidas políticas integradas e de larga escala, com foco em quatro pilares: apoio às empresas, emprego e renda; estimular a economia e o emprego; proteger os trabalhadores no local de trabalho; e, usando o diálogo social entre governo, trabalhadores e empregadores para encontrar soluções. “As escolhas que fazemos hoje afetam diretamente a maneira como esta crise se desenrola e, portanto, a vida de bilhões de pessoas”, acrescentou. “Com as medidas certas, podemos limitar seu impacto e as cicatrizes que a crise certamente deixará. Devemos ter como objetivo recuperar melhor para que nossos novos sistemas sejam mais seguros, mais justos e mais sustentáveis do que aqueles que permitiram que essa crise acontecesse”, defendeu Guy Ryder.
 
 
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Está de volta ao Rio após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. É criador da página no Facebook #RioéRua, onde publica crônicas sobre suas andanças pela cidade.

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