Eupídio Neto de Oliveira, 72 anos, de Ponte Branca (MT), borracheiro aposentado, passou a vida inteira sendo chamado de analfabeto e ficava muito chateado com isso, porque, apesar de ter sido forçado a sair da escola para trabalhar na roça e ajudar em casa, sempre gostou muito dos livros e de se informar.
Aos 14 anos, parou de estudar. A mãe morreu de derrame muito nova, aos 36 anos, e eram muitos irmãos pequenos para cuidar, a roça para zelar e os mais velhos se sacrificaram.
Ele conta que ela levou um susto no pasto. Mais do que isso, ele não sabe bem o que aconteceu.
O tempo passou e ele foi trabalhando na roça, de borracheiro e outros ofícios braçais. Filho de garimpeiro, também se aventurou na mineração de ouro.
Mesmo a mãe sendo dona de casa e o pai garimpeiro, ambos analfabetos, eles incentivavam os filhos a mudar o rumo das coisas e a estudar. Sendo assim, todos os irmãos de Eupídio fizeram isso, menos ele. "Boa parte tornou-se professor", orgulha-se.
Enquanto isso, ele se virava na vida só com o ensino primário. Por já ter feito até a 4ª série, que ele rebatia todos que o chamavam de analfabeto. "Não sou!" - respondia.
Nas horas vagas, pegava livros de literatura de cordel, tais como Lampião e Pavão Misterioso, e se encantava com as histórias. "Meu pai era nordestino e me ensinou a amar cordel".
Em 1975, Eupídio perdeu totalmente a visão de um olho em um acidente na lavoura e já no outro tem apenas 30% de capacidade visual. Mesmo assim, queria ler e aprender.
O tempo passou ainda mais e ele começou a sentir os limites da idade. Diabetes e pressão alta foram chegando. Foi aí que ele pensou que era agora ou nunca que realizaria seu sonho: estudar, se formar, fazer até uma faculdade.
A história de Eupídio é uma dessas que ensinam à gente que nunca é tarde para correr atrás dos sonhos. Ele fez Ensino Fundamental e Médio, em Ponte Branca, pelo EJA, que é o programa de Educação de Jovens e Adultos, da Secretaria de Estado de Educação (Seduc). E, depois disso, resolveu ir para faculdade. Fez Enem, tirou uma nota boa. Pegou a mulher e seus pertences, deixou a casa para trás, e se mudou para Alto Araguaia, onde tem campus da Unemat.
Ele e a esposa moram em Alto Araguaia e ele acaba de defender seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Agora ainda faltam algumas disciplinas para pegar o diploma de Letras Língua Portuguesa.
Na sala de aula, afirma que é querido e respeitado pelos colegas. Não falta aula, faça chuva, faça sol. Anda 1 km e meio a pé para chegar à Unemat e, muitas vezes, no escuro.
Depois que se formar, quer trabalhar em escola, ensinando Língua Portuguesa, de preferência a idosos ou crianças. Aí vai melhorar o orçamento familiar, somando com a aposentadoria que lhe rende 1 salário mínimo.
Eupídio Neto posa com a esposa e professores da Unemat no dia da defesa do seu TCC