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30/08/19 às 09:00

Policiais de Goiás estão entre os presos em operação contra roubo de carga e lavagem de dinheiro por meio de carros de luxo

Gaeco aponta que receptadores de cargas em Goiás pagavam assaltantes até com Camaro e Dodge Journey. Operação Mercúrio acontece em dez estados para cumprir 93 mandados de prisão, entre detidos estão delegado, escrivão e dois agentes.

Rodrigo Gonçalves, G1 GO

AguaBoaNews

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Policiais de Goiás estão entre os presos em operação contra roubo de carga e lavagem de dinheiro por meio de carros de luxo

Loja que vendia carros de luxo em Urbelândia-MG foi fechada durante operação nesta quinta

Foto: Reprodução/TV Anhanguera

O esquema de roubo e receptação de cargas que lavava dinheiro com a venda de carros de luxo resultou também na prisão de policias civis em Goiás durante a Operação Mercúrio, nesta quinta-feira (29). Um delegado, um escrivão e dois agentes, alvos da operação, atuavam, segundo a Polícia Civil, na Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos e Cargas (Deca), em 2014.
 
Segundo o promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Uberlândia-MG, que coordena todo o trabalho de investigação resultante na operação, Daniel Martinez, dois policiais civis estão presos preventivamente e outros dois de forma temporária.
 
“Infelizmente, nós detectamos, durante as investigações, vários episódios de corrupções policiais, um especificamente ocorrido em Aparecida de Goiânia, quando um integrante da organização, residente de Uberlândia, veio receber de uma empresa dois veículos, um Camaro e uma Dodge Journey, e cerca de 30 cheques, como pagamento de uma carga roubada que havia sido vendida”, informou o promotor.
 
De acordo com o coordenador da operação, a Polícia Militar prendeu o policial, na época. Na ocasião, foram apreendidos os carros e os cheques.
 
“No caminho para Aparecida de Goiânia, essa pessoa foi até um galpão onde havia sido oferecida a ela outra carga roubada e acabou presa em flagrante pela Polícia Militar, que localizou os carros e o cheques. Tudo foi apreendido e essa pessoa foi presa, sendo colocada em liberdade depois pelo Judiciário”, contou o coordenador do Gaeco.
 
Foi a partir da liberação do preso que teria se iniciado a investigação do esquema de corrupção que envolveu os policiais civis. “Posteriormente, essa pessoa voltou e pagou R$ 100 mil para reaver todos os cheques e os dois carros restituídos. Foi verificado que os agentes da polícia, que trabalharam no processo sequer listaram os valores dos cheques. Não há sequer um pedido de devolução dos carros”, afirmou Daniel Martinez.
 
“Dois policiais que participaram de toda negociação tiveram a prisão preventiva, e os outros dois não tiveram contato com o investigado, mas concorreram para restituição dos bens. Eles tiveram decretada a prisão temporária para se verificar a extensão da responsabilidade penal deles”, completou.
 
Em nota, a Polícia Civil do Estado de Goiás informou que o “caso tem relação com fatos ocorridos em 2014 na Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas (Decar), e que também são apurados pela Gerência de Correições e Disciplina da Polícia Civil, que apoiou a operação”.
 
Atual titular da Decar, o delegado Alexandre Bruno Barros também comentou sobre a operação. “Isso mostra que, verdadeiramente, estamos vivenciando um tempo bem diferente, em que a corrupção e outras ilegalidades já não fazem parte do nosso meio”, comentou.

Carros de luxo

 
O pagamento de cargas roubadas com carros de luxo, como aconteceu na Grande Goiânia, foi uma das formas detectadas pelo Gaeco.
 
“O pagamento que os receptadores faziam aos assaltantes, núcleo armado da organização criminosa, se dava de três formas: depósito em dinheiro, cheques e grande parte desse valor era através da entrega de veículos de luxo”, disse o coordenador do Gaeco.
 
As investigações apontaram que os carros também eram usados para lavar o dinheiro da organização criminosa.
 
“Esses veículos ficavam nas mãos dos assaltantes. Então, eles criaram um núcleo em Uberlândia para a lavagem de dinheiro constituído por duas lojas de veículos, uma delas fechada pelo Gaeco que vendia carros (de luxo) abaixo do valor de mercado porque os proprietários da empresa sabiam que estavam comprando os veículos de origem ilícita”, informou Daniel Martinez..
 
Receptadores em Goiás
 
Realizada em dez estados, sendo em 26 cidades, a Operação Mercúrio visava cumprir 93 mandados, sendo 39 deles de prisão em 13 municípios de Goiás.
 
Participam da operação os Ministérios Públicos de Minas Gerais – Uberlândia –, de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Tocantins, Pernambuco, São Paulo – Franca – e Paraná – Londrina.
 
As investigações apontam que em Goiás estava concentrado parte do núcleo de receptadores.
 
“Nós pudemos detectar que os principais receptadores desta organização criminosa se encontravam aqui em Goiás. Nós dividimos isso em três grupos, dois grandes grupos econômicos da cidade de Anápolis, que atua no varejo de alimentos, e outro grupo econômico de Goiânia, que atua no agronegócio, e os demais receptadores espalhados pelo interior, vários fazendeiros”, relatou o promotor.
 
“Nossa investigação ataca, principalmente, o núcleo dos receptadores, o núcleo de lavagem de dinheiro e o núcleo jurídico, formado por advogados que integravam a organização criminosa já com o objetivo de dar todo o suporte jurídico e também fazer acertos em delegacias de polícia no caso de prisão”, acrescentou o coordenador do Gaeco.
 
O promotor acredita que a atuação da organização criminosa em todos os estados envolva mais de R$ 40 milhões.
 
"Um prejuízo estimado em R$ 40 milhões, sendo 15 milhões de mercadorias roubadas com emissão de notas fiscais ideologicamente falsas. Três empresas fantasmas em Uberlândia que funcionavam para emissão de notas falsas, essas notas eram o espelho da nota da mercadoria roubada, isso possibilitava que essa mercadoria transitasse livremente pelo Brasil", relatou Martinez.
 
Segundo o MP, as investigações duraram cerca de dez meses. A apuração começou após ações da PF chamadas Catira e Fideliza, deflagradas ainda em 2015.
 
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