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07/08/19 às 10:01

Água Boa - Grupo de Monitoramento do sistema prisional conhece boas práticas e propõe melhorias

Ranniery Queiroz

AguaBoaNews

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Água Boa - Grupo de Monitoramento do sistema prisional conhece boas práticas e propõe melhorias

Foto: Assessoria

Paulo César Talaveiro quer uma vida melhor e está se preparando para isso. Preso há oito anos ele dedica todo tempo possível a aprender o novo ofício de serralheiro. "O trabalho é a melhor coisa aqui dentro. Ajuda a não ficar ruim da cabeça, a aprender alguma coisa. Eu já estou na serralheria há seis anos e quando sair daqui vou trabalhar com isso. Será mais um ofício que terei", disse o preso que mostrou seus inventos ao Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Tribunal de Justiça (GMF/TJMT). A equipe visitou a Penitenciária Major Zuzi Alves da Silva em Água Boa. A unidade tem capacidade para 390 presos, mas atualmente custodia 603.
 
Paulo é apenas um dos 12.500 presos de Mato Grosso que têm uma expectativa de melhorar de vida assim que ganhar o direito à liberdade. E é para este público que o GMF quer dar chances de se reintegrar à sociedade e ganhar dignidade, conseguindo se manter por meio de um emprego, assim, também diminuindo os índices de criminalidade. Este foi o terceiro polo do Estado visitado pelo grupo liderado pelo desembargador Orlando de Almeida Perri e ainda composto pelo coordenador, Geraldo Fidelis e juiz Bruno D´Oliveira Marques. Na unidade de Água Boa eles viram projetos que tem dado certo como a serralheria, o plantio de hortaliças, o trabalho externo de limpeza e manutenção, a oficina de costura onde o Jovelino de 53 anos aposta suas fichas. “Estou preso há 11 anos. Iniciei a costura em 2011 quando foi inaugurado o ateliê. A costura dá uma renda e vai me dar mais uma possibilidade“, disse Jovelino Lopes Viegas.
 
O grupo também conversou com Antônio Honorato, responsável pelo Projeto Novamente. Os presos fazem serviços gerais, desde o combate a formigas, até capina de terreno para o plantio de Teca. Atualmente 39 presos trabalham no projeto que pode crescer. “Se o preso ganhar a liberdade e tiver feito um bom trabalho ele é contratado pela empresa como celetista, temos diversos casos. Queremos expandir também. A empresa pretende montar uma fábrica de painéis e precisará de mais mão de obra”, revelou o encarregado.
 
Enquanto conhecia os projetos os magistrados e o secretário de segurança, Alexandre Bustamante conversavam com os demais presos que faziam pedidos e indicações de melhorias. Outro lugar visitado foi a sala de aula. Ao todo 178 presos estão divididos nas quatro salas. “Quem está estudando é por vontade própria, por isso temos alunos que se dedicam realmente. Eles aproveitam bem o tempo para estudar”, ressaltou a orientadora Vanda Gonçalves. “Recentemente tivemos três presos que passaram no Enen e que agora estão cursando a faculdade. Temos diversos relatos de presos que entraram aqui analfabetos e que aprenderam a ler. Todos pensamos muito na saída dos presos. Não adianta os mantermos aqui sem boas atividades”, relatou o diretor do presídio Valmir Barros Crhist. “Temos diversas dificuldades, mas também temos ótimos resultados. A unidade de Água Boa é uma boa unidade. Oferta trabalho e estudo e queremos ampliar. Não basta isolar o preso, um dia ele voltará à sociedade. Pensando no melhor para todos, devemos investir neles também”, considerou o secretário Bustamante.
 


Ao final da visita técnica o grupo se reuniu com a sociedade no fórum, para unir forças em prol da causa. O desembargador Perri conduziu a conversa e informou que os esforços por ofertar uma saída digna a todos os encarcerados também é obrigação da sociedade. “Se nós não cuidarmos da ressocialização, o egresso inevitavelmente voltará para a facção criminosa. Se sair sem qualificação, quem o empregará serão as facções. As estatísticas mostram que o preso que trabalha reincide muito menos. Temos que atuar junto aos empresários em busca de apoio, ao Poder Público para assumir sua responsabilidade e mudarmos esta situação. Toda a sociedade ganhará com isto”, ponderou o magistrado.
 
 
Ao final do debate ficou claro que as autoridades locais vão conversar muito mais do que já faziam. “É possível que muito em breve ganhemos uma fábrica de concreto e quem desenvolverá o trabalho serão os reeducandos do Presídio de Água Boa. Mão de obra que será qualificada para isso e trará excelentes resultados. Então porque não já pensarmos que os uniformes escolares da rede municipal de ensino podem ser feitos por eles, que as hortaliças de lá podem ser vendidas aqui...temos inúmeras possibilidades”, informou o prefeito de Água Boa, Mauro Rosa.
 
“O desembargador Orlando veio até nós mostrar uma outra forma de olharmos para o Sistema Penitenciário. Precisamos buscar novas alternativas de trabalho para nossos reeducandos. A Câmara Municipal têm maneiras de ajudar já que o quesito Segurança Pública é a maior preocupação da população local. Podemos de imediato tentar a lei que obrigue a contratação de 5% desse público por parte das instituições públicas. Já seria uma saída. Vamos atuar juntos”, ressaltou o presidente da Câmara Municipal de Água Boa, vereador Luis César de Lara Pinto Filho, o Cesinha.
 
“Desde 2016 já fazemos cursos profissionalizantes. Foram 36 com mais de 550 certificados emitidos. A reincidência desse pessoal que estuda é ínfima. Sentimos algumas dificuldades que podem ser sanadas pelas parcerias. Podemos e queremos fazer muito mais, inclusive na confecção de documentos para eles, mas precisamos de parcerias”, informou o presidente do Sindicato Rural do Município, Antônio Fernandes de Melo.
 
“O meio empresarial também pode ajudar, mas não pode ser sozinho. Temos que dividir a conta com Prefeitura e Justiça. O primeiro passo é a qualificação. Eles precisam muito disto”, salientou o presidente da Associação Comercial de Água Boa, Nelcindo Iappe. “É uma iniciativa inovadora. O sistema deve ser mudado e fazer isso em conjunto com a sociedade é um ótimo caminho. Acredito que vai dar certo”, disse o delegado regional, Valmon Pereira da Silva.
 
“Temos muito o que agradecer a presença do GMF aqui. Sou promotora criminal em Água Boa há dez anos. Esta é a primeira vez que vejo uma iniciativa tão construtiva como esta. Quem faz a gestão no dia a dia do Sistema Prisional hoje são os juízes, promotor e agentes penitenciários comprometidos. É muito triste pois ainda falta envolvimento da sociedade. Mas estamos no caminho e agradeço pelo empenho desembargador Orlando", salientou a promotora, Clarissa Lima.
 
O GMF ainda é formado pelo juiz-auxiliar, Jorge Luiz Tadeu, a presidente da Funac, Dinalva Souza, o psicólogo da Funac, Walter Mutran de Oliveira, secretário adjunto de Administração Penitenciária da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT), Emanoel Flores, a advogada do Sistema Penitenciário, Sibele Roika, e o agente penitenciário Jean Carlos Gonçalves.

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