Notícias / Agricultura

22/07/19 às 09:59

Projeto de lei reduz em dez vezes alíquota para calcário agrícola

Proposta baixa de 2% para 0,2% a alíquota da Compensação Financeira pela Exportação Mineral (CFEM). Para autor da proposta, senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), mudança expandirá produção do insumo utilizado em lavouras

De Brasília repórter Camila Costa

AguaBoaNews

Imprimir Enviar para um amigo
Projeto de lei reduz em dez vezes alíquota para calcário agrícola

Foto: Divulgação

Projeto de lei em tramitação no Senado Federal reduz de 2% para 0,2% a alíquota da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) aplicada sobre o calcário agrícola. Trata-se de uma contraprestação paga pelas empresas mineradoras à União pelo aproveitamento de recursos minerais.

Essa compensação incide sobre o faturamento líquido, no caso da venda do minério bruto e beneficiado, ou sobre o chamado custo intermediário de produção, quando o mineral é utilizado pelo próprio minerador no processo de produção.

Se aprovada, a proposta estenderá ao calcário agrícola os incentivos fiscais previstos na Medida Provisória 789, sancionada em 2017. Durante a tramitação da MP, o Congresso aprovou a alíquota de 0,2% para o potássio, os fosfatos e, também, para o calcário. No entanto, no momento da sanção da medida, este último foi retirado da lista e teve sua alíquota mantida em 2%.

Para o autor do projeto, senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), o texto corrige essa diferenciação entre os insumos e pode contribuir para o crescimento do consumo do calcário para uso agrícola no país. Na prática, a medida busca incentivar o agronegócio, uma vez que o calcário é utilizado como corretor de solo por produtores de alimentos e de insumos de energéticos, como grãos e cana de açúcar. Segundo o Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM-2030), do Ministério de Minas e Energia, o uso do mineral pode crescer de 43 milhões, em 2018, para 54,8 milhões de toneladas, em 2022.

“[Com a alíquota de 2%], o custo é maior para produtores e consumidores e representa um desestímulo ao uso do calcário”, afirma o senador. 

Ele explica que usar o calcário como corretivo para o solo é uma opção mais barata do que aplicar fertilizante. “Se o produtor fizer uma boa correção [do solo, com o calcário], ele usa menos adubo, que é mais caro do que o calcário. Então, é preciso reduzir o custo do calcário para estimular o seu uso”, defende o senador.

O calcário é um dos principais corretivos de acidez dos solos brasileiros e tem sido usado em menor quantidade do que é recomendado. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Calcário (Abracal), as lavouras e pastagens do país necessitam de aproximadamente 70 milhões de toneladas por ano, 38,57% a mais do que foi utilizado no ano passado (43 milhões de toneladas).

No Rio Grande do Sul, essa diferença também foi significativa. O consumo no ano passado ficou em 3,65 milhões de toneladas, enquanto o indicado seria quase o dobro: 7 milhões de toneladas/ano.

Alimento mais barato

Segundo o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Calcário do Rio Grande do Sul (Sindicalc) e da Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola (Abracal), Fernando Carlos Becker, deve-se considerar ainda que o calcário é nacional e tem baixo preço. Os fertilizantes, em sua maioria (70%), são importados e comercializados em moedas estrangeiras, sobretudo o dólar. Além disso, os fertilizantes precisam ser utilizados com frequência, enquanto o calcário agrícola pode chegar a um intervalo de até 12 anos de uso, dependendo do tipo de solo.

“Se a União passar a recolher 0,2% sobre o calcário, essa vantagem reverte para o próprio agricultor. A medida diminui os custos na agricultura – essa é a principal vantagem. Consequentemente, o alimento ficará mais barato”, avalia. Becker afirma ainda que essa sempre foi uma demanda do setor, no sentido de equiparar a alíquota do calcário agrícola com a de outros minerais. “Sempre lutamos por isso, pela aprovação [do PL], e o calcário não pode ser jogado na vala comum dos 2%. Na agricultura de precisão, é imprescindível corrigir o solo. Se essa correção não for feita, a produtividade cai”, complementa.

Produtividade

Um dos indicadores de que o solo está carente de nutrientes é, justamente, a acidez. Esses nutrientes podem ter sido perdidos pelas raízes das plantas, pelas chuvas ou irrigação, pela erosão do solo ou pela a utilização de fertilizantes mais ácidos. Isso pode provocar a redução na eficiência da absorção de água e de adubações, causando aumento dos custos com insumos, além de limitar a produtividade.

Corrigir a acidez do solo é uma das principais funções do calcário agrícola, mas não a única. “É um insumo agrícola que tem múltiplas funções. É empregado como fornecedor de nutrientes, cálcio e magnésio, particularmente, mas também é empregado com a finalidade de corrigir a acidez ativa de solo, que a gente costumeiramente chama de PH do solo. Também neutraliza um elemento que é abundante no solo, que é o alumínio, elemento esse tóxico às plantas”, afirma o professor de Química e Fertilidade do Solo do curso de Agronomia da Universidade de Brasília (UnB), Jader Galba Busato.

Segundo o especialista, é preciso, no entanto, estar atento à quantidade adequada para cada tipo de plantação. “O uso em excesso é tão prejudicial quanto a carência do calcário. Por isso, a importância de se realizar procedimentos de amostragem do solo para que um técnico veja a quantidade adequada para o tipo de cultura”, alerta Busato.
 

comentar  Nenhum comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Agua Boa News. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Agua Boa News poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
 
 
Sitevip Internet