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16/06/19 às 12:46 / Atualizada: 16/06/19 às 13:04

Marabá, Pará - Personagem da estrada: agricultoras tapa-buraco sonham ter marca de alimentos

Francisco Alves Pereira e Dinalva Bezerra recebem de R$ 0,05 a R$ 10 de motoristas que passam pela BR-155, no Pará

Roger Marzochi e Fernando Martinho, de Marabá (PA)

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Marabá, Pará - Personagem da estrada: agricultoras tapa-buraco sonham ter marca de alimentos

As duas chegam a colocar 25 carrinhos de terra dentro de uma cratera na pista.

Foto: Fernando Martinho

Sob um sol forte, de calor úmido, as agricultoras Francisca Alves Pereira e Dinalva Bezerra colocam terra num carrinho no acostamento da BR-155, que liga Redenção a Marabá, no Pará. Protegidas por um amplo chapéu elas levam a terra até a estrada, tapando os imensos buracos da rodovia. “Em um grande buraco ontem colocamos 25 carrinhos de barro. E o carrinho parece que está se acabando de tanto serviço”, diz Francisca. As duas mulheres cruzaram o caminho da reportagem da Globo Rural, que passou pela região com Caminhos da Safra, projeto que percorre as principais rotas de escoamento da produção agrícola brasileira.

Em troca do serviço de tapa-buracos, caminhoneiros pagam a elas de R$ 0,05 a R$ 10. “É um dinheiro que faz a diferença”, diz Francisca, com uma alegria inconfundível. Dinalva também vai avisando que isso não é sua profissão. Ela trabalha no cultivo de mandioca, com a qual faz farinha. “Meu principal sonho é ser uma agricultora reconhecida, porque eu amo roça”, afirma. Ela entrou no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, em 2012, conquistou 49 hectares em uma área a 200 quilômetros de Marabá.
 
Brasil - Maio 2019 Viagem pela BR158 de Cuiabá a Marabá. Primeira etapa do Caminhos da Safra 2019, projeto da Revista Globo Rural. Fotos; Fernando Martinho. (Foto: Fernando Martinho)BR-155 é "recheada" de buracos - (Foto: Fernando Martinho)
 
“Não sei se vou viver da roça, mas eu tinha vontade que esse País desse valor ao trabalho rural, porque ele é muito digno e ele é o que é que mantém o Brasil em pé, porque todo mundo come e tudo vem da terra. A terra devia ser chamada mãe terra. Eu sou apaixonada por terra.”

Tapar buracos lhe ajuda a juntar dinheiro, especialmente em uma época na qual ela estaria parada após a safra. E é um recurso que também vai ajudá-la a construir uma casa no seu sítio e a fazer melhorias na farinheira. A terra lá não é muito boa. É preciso plantar muito arroz para colher só um pouquinho, não dá feijão nem milho. Mas mandioca é danada e cresce lá. Em julho já vai dar para fazer farinha. E ela pretende se mudar para o sítio e conquistar outro sonho: criar a marca Nalvinha & Companhia, com CNPJ, pagando imposto, tudo certinho.

“Os pais vão ir com as crianças lá no supermercado... ‘ei, ceis compra aquela marca alí que eu gosto dela, aquela farinha é boa, aquela mandioca é boa, aquela goma é a melhor’. Tenho um sonho de registrar e abrir um CNPJ. Eu queria viver da roça, criar meus filhos e netos só lá na roça”, diz Dinalva.

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