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08/06/19 às 16:33 / Atualizada: 08/06/19 às 21:09

Água Boa e um trem para chamar de seu (com atualização)

No próximo dia 15, em Água Boa, uma audiência pública debaterá o projeto para a construção da ferrovia FICO entre a cidade e Campinorte (GO).

Eduardo Gomes – Boamidia

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Água Boa e um trem para chamar de seu (com atualização)

Foto: Karen Malagoli – Assembleia Legislativa

Água Boa nunca deixou de sonhar com o apito do trem. Em momentos intercalados o sonho perde força e em outros volta com intensidade. Nesse instante o assunto dominante na cidade fundada por Norberto Schwantes, no coração do Brasil, é uma audiência pública marcada para o próximo dia 15, com enfoque no projeto de construção do trecho de 383 quilômetros de linhas férreas ligando aquela cidade aos trilhos da Ferrovia Norte-Sul, em Campinorte (GO): é a sonhada Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO) que transporta grãos e outras cargas – por enquanto, na mente do agua-boense.

O sonho começou em 2007, quando o então presidente Lula da Silva lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que previa investimentos de R$ 503,9 bilhões até 2010, em cinco blocos de ação, sendo que o primeiro era voltado para o transporte, com um segmento ferroviário que incluía a FICO.

Trem povoa mentes em Água BoaTrem povoa mentes em Água Boa

Água Boa ficou de orelhas em pé. Estava escrito que o trem apitaria no centro geodésico do Brasil.  O sonho começava e o calendário avançava. Em 2007 nada, 2008 e 2009 também, neca de pitibiriba. Mas todos sonhavam.

Em 29 de março de 2010, com Dilma Rousseff (pré) candidatíssima a presidente – ela insiste na palavra presidenta. Lula lançou o PAC-2, que teria R$ 1,59 trilhão para sacudir o Brasil. Dessa montanha de dinheiro, sairiam os recursos destinados ao setor ferroviário – expansão e restauração da malha. Água Boa intensificou o sonho com o trem. uuuuuuuuuuuuuuuuuuuui… uuuuuuuuuuuuuuuuuuuui….  uuuuuuuuuuuuuuuuuuuui.
 
Parecia que Água Boa entraria nos trilhos. Tanto parecia que na sexta-feira, 16 de abril de 2010, portanto 48 dias após o lançamento do PAC-2 a cidade foi palco de uma audiência pública para debater a FICO. A audiência parecia mais uma reunião do PR, reforçado pela presença do governador Silval Barbosa (PMDB) que fazia sua primeira viagem ao Vale do Araguaia após assumir o governo em 31 de março daquele ano. Os republicanos dominavam o ambiente: o ministro dos Transporte, Paulo Sérgio Passos; o presidente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot; o presidente da Valec – estatal vinculada ao Ministério dos Transportes -, José Francisco das Neves, o Juquinha; o ex-governador e pré-candidato ao Senado, Blairo Maggi; o deputado federal Wellington Fagundes; o prefeito anfitrião Maurício Tonhá; e outras figuras carregavam uma imaginária bandeira do Partido da República.

Juquinha, da Valec pra cadeiaJuquinha, da Valec pra cadeia

Discursos foram muitos. Além deles, generosamente a Câmara concedeu o Título de Cidadão Agua-boense ao ministro Paulo Sérgio, o que foi comemorado por Tonhá, que fez questão de ressaltar que ele e o homenageado nasceram na Boa Terra.

Juquinha estipulou prazo até o final de 2012 para os trilhos chegarem à cidade e garantiu a existência de recursos para tanto. Juquinha acrescentou que a FICO seria parte da Ferrovia Transcontinental, com 4.400 quilômetros ligando o Rio de Janeiro a Boqueirão da Esperança, no Acre, na divisa com o Peru. A Transcontinental, também seria contemplada com recursos do PAC-2.

A obra não saiu do papel e Juquinha passou alguns dias trancafiado numa cela por suspeita de trambiques para levar vantagem com a obra da ferrovia Norte-Sul. O xilindró não foi o único revés sofrido por ele: ganhou bilhete azul na Valec e responde a um desses processos que tramitam com mesma velocidade com que os trilhos avançam para o trem apitar em Água Boa.

Em outubro de 2010 Dilma venceu a eleição para presidente (ou presidenta – vá lá), A Transcontinental saiu de cena, mas a FICO, não: ficou tanto nos planos do governo federal quanto nos sonhos em Água Boa.

Governo faz PPP para ferrovia entre Água Boa e Campinorte (matéria de julho de 2018)
 
Trem cargueiro apitando entre Água Boa e Campinorte. Esse é um dos projetos do governo federal, que, no entanto, não anuncia quando o tirará do papel botando-o nos trilhos. Nesta segunda-feira, 2 de julho, três ministros anunciaram um plano de investimento em transporte ferroviário por meio de Parcerias Público-Privadas (PPP) com duas prioridades: a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO) e o Ferroanel de São Paulo. Esse anúncio deve ser recebido com cautela, porque em outros formatos foi apresentado antes, e 2018 é ano eleitoral.

Os ministros Valter Casimiro (Transportes) e Ronaldo Fonseca (Secretaria-Geral da Presidência) juntamente com o secretário especial do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), Adalberto Vasconcelos, anunciaram que o trecho de 383 quilômetros entre Campinorte (GO) e Água Boa via Cocalinho será construído pela mineradora Vale, ao custo de R$ 4 bilhões. A Vale será compensada com as concessões das ferrovias do Carajás (Pará e Maranhão) e Vitória-Minas (Minas Gerais e Espírito Santo) até 2057 – o contrato em vigor termina em 2027.

Depois de construir a Fico a Vale a devolverá à União, que licitará sua linha ao setor privado, com outorga a ser definida.

projeto da FICO prevê a construção de 1.600 quilômetros ligando Campinorte a Rondônia via Água Boa e outras cidades mato-grossenses. É praticamente a mesma extensão da Ferrovia Rumo ALL que liga Rondonópolis ao porto de Santos, com terminais intermediários.

restante da Fico, entre Água Boa e Rondônia, com 1.200 quilômetros sequer é discutido pelo governo. Caso esse trecho ora anunciado seja construído, seus trilhos ligarão o centro geodésico do Brasil (Água Boa) à Ferrovia Norte-Sul, em Campinorte criando-se assim um corredor leste-oeste de escoamento de commodities, que a partir da Norte-Sul avançará rumo a alguns portos do Arco Norte.
 
Quanto ao Ferroanel, a empresa MRS Logística ganhará a renovação de várias ferrovias em troca de sua obra, com 53 quilômetros. O tráfego ferroviário nesse trajeto é compartilhado pelos trens de carga (inclusive os da Rumo ALL que escoam commodities agrícolas de Mato Grosso) com as linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que transportam passageiros na região metropolitana de São Paulo.

Ministro garante contrato para construção da ferrovia FICO

(matéria de maio de 2019)
 
Wellington com o ministro Tarcísio

“Este ano vamos ter o contrato da Ferrovia de Integração  Centro-Oeste (FICO) assinado”. A garantia foi dada pelo ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, ao senador Wellington Fagundes (PR), presidente da Frente de Logística e Infraestrutura, durante audiência realizada nesta sexta-feira, 10. Wellington afirmou que a implantação dessa ferrovia é uma prioridade para o desenvolvimento de Mato Grosso.

“A FICO está mais forte do que nunca. Este ano vamos ter contrato dela assinado, e combinamos uma ida a Água Boa para dar a notícia à população, mostrando como essa ferrovia vai ser feita. E com certeza é uma ferrovia que estará pronta ainda no governo Bolsonaro”, assegurou o ministro Tarcísio.

Cargas
 
Viabilidade de ferrovia implica em volume de carga transportada. A produção agropecuária de Água Boa e entorno é insuficiente para assegurar a trafegabilidade dos comboios ferroviários. Porém, a soma dos bens transportáveis ao longo do projeto integral da FICO garante sua operacionalização lucrativa.

Água Boa é a referência nesta matéria. Mas, a meta é ligar Vilhena (RO) ao eixo da Ferrovia Norte-Sul. Esse percurso tem demandas por cargas diversificadas em ambos os sentidos. Próximo a Água Boa, em Cocalinho há reserva de minério de ferro de alto teor, que para ser explotado precisa de logística de escoamento para o polo sídero-metalúrgico maranhense. Integrando ferrovias, a FICO torna-se importante peça para o modal de transporte de São Paulo-Zona Franca de Manaus e vice-versa (com caminhões, trens e balsas) desde que seus trilhos alcancem Rondônia.
 
O exemplo da Odebrecht
 
Sem deixar de sonhar, mas com os pés no chão, Água Boa tem que entender o seguinte: a audiência pública discutirá a construção do trecho entre aquela cidade e Campinorte – não a extensão do projeto de Goiás a Rondônia. Trata-se de uma obra ferroviária com 383 quilômetros – curta para a realidade do transporte sobre trilhos. Mesmo com o minério de ferro em Cocalinho a oferta de cargas será pequena. A Vale tem o compromisso contratual de construir esse trecho, mas não deverá fazê-lo em ritmo acelerado, mas em banho-maria – por dever de ofício. Algo parecido com a duplicação da BR-163 no trecho de 850 quilômetros ligando a divisa com Mato Grosso do Sul (em Itiquira) ao trevo com a MT-220, em Sinop. A concessão – por 30 anos – da rodovia foi dada em 27 de abril de 2013, como uma espécie de maná pra construtora Odebrecht, para ser explorada pela Rota do Oeste – empresa de seu grupo. A felizarda Odebrecht ficou responsável por duplicar 453,6 quilômetros. O generoso Dnit, de mãos beijadas, duplicaria o restante.

Resumo: transcorridos seis anos, nem Odebrecht nem Dnit deram conta do recado. Em outras palavras, a Vale pode fazer esse jogo de empurra: levar vantagem com as generosidade que recebeu do governo e dar um nó nos trilhos para Água Boa.
 
O hoje
 
Rejane GarciaÁgua Boa junta o melhor de sua realidade ao sonho.

A vice-prefeita Rejane Schneider Garcia (PSDB) usa redes sociais para divulgar a realização da audiência pública. A mídia local não limita espaço para focalizar o evento.

Nos meios políticos, congressistas e a Assembleia Legislativa estão em cena. O senador Wellington Fagundes divulga a audiência com ares de paternidade. O deputado estadual Nininho (PSD), autor do pedido para a realização da audiência martela na Imprensa convidando a população da região para assisti-la. O ministro Tarcísio garantiu presença e assegurou que assinará o contrato para o início da obra da FICO. A assessoria do governador democrata Mauro Mendes não revela se ele participará ou não da audiência.

Que venha a audiência. Melhor: que venham os trilhos. Melhor ainda: que os trilhos não somente venham, mas que avancem para Rondônia, pois ferrovia é modal para transporte de longa distância. Trem manga curta é inviável.

Matéria atualizada às 21h devido a mudança da Audiência Pública em Água Boa que seria na sexta-feira 14 e foi mudada para dia 15.06 sábado, `no mesmo horário ou seja às 14h.

Crédito das Fotos:

2 – Youtube – Ilustrativa
3 – Arquivo
4 – Boamidia
5 – Agência Senado
6 – Airton Iappe
 

comentar1 comentário

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  • por Sirilo, em 09/06/19 às 13:50

    O Dinheiro foi pra conta dos petistas que assaltaram o Brasil.

 
 

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