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16/05/19 às 21:35 / Atualizada: 20/05/19 às 23:09

Ribeirão Cascalheira - Na BR-158: lavoura, mata nativa e esperança de uma infraestrutura melhor

No terceiro dia de viagens pela rodovia, equipe do Caminhos da Safra percorreu 380 quilômetros

Roger Marzochi, de Ribeirão Cascalheira

AguaBoaNews

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Ribeirão Cascalheira - Na BR-158: lavoura, mata nativa e esperança de uma infraestrutura melhor

Caminhão de reportagem em trecho de terra da rodovia

Foto: Fernando Martinho/Ed.Globo

No terceiro dia do projeto Caminhos da Safra 2019, deixamos o solene Rio Araguaia, que corta a cidade de Barra do Garças, para seguir viagem pela BR-158 até Nova Xavantina. Cerca de 20 quilômetros após o fim da cidade, é possível perceber pelo cheiro que essa é uma área no qual a pecuária ainda tem forte espaço apesar do avanço da soja. A região Nordeste do Mato Grosso vem acelerando a troca por pastagem pela plantação da oleaginosa, especialmente na região de Querência, local em que a reportagem ainda passará.

Mesmo com pastagens a perder de vista, é possível encontrar grandes áreas de reserva natural, especialmente de mata próximos a riachos. A área de reserva legal está na mira do governo de Jair Bolsonaro, que pretende autorizar a derrubada da mata, colocando em risco os rios e o pouco que resta de natureza à indústria agropecuária.
 
  Ao longo da estrada, há uma fábrica de biodiesel, grandes silos de soja e milho, como da empresa Cerenge Armazéns Gerais, mas também há pescadores jogando suas linhas em direção à água em locais como o Rio Corrente, na altura do quilômetro 751. E, ainda, empreendimentos curiosos como a fazenda Jumenta Pêga, que cria mulas e jumentos.

A estrada está bem conservada, mas não se pode conceder nível cinco estrelas. Em alguns trechos o asfalto é bom, em outros, ruim. Quem sabe fazendo jus ao nome do Rio Pindaíba, de repente, surgem deformações na pista e remendos mal feitos.

Quem construiu essa obra de engenharia também não levou em consideração a necessidade urgente de corredores ecológicos. A reportagem encontrou um filhote de tamanduá e uma anta macho adulto atropelados em menos de 20 quilômetros de distância.

A paisagem é belíssima, com a vista ao longe da Serra do Roncador. No quilômetro 730, há ainda o Park Portais do Roncador, com um chapadão incrível, com exuberante vegetação e espigões de arenito degastado por milhares de anos expostos ao sol, vento e chuva.
 
  Após o almoço em Nova Xavantina, cortada pelo Rio da Morte, encontramos o presidente do Sindicato Rural da cidade, o produtor rural Endrigo Dalcin, um entusiasta do agronegócio na região. Ele próprio produz 5 mil hectares de soja e 2,3 mil hectares de milho, além de ter negócios nas áreas de consultoria e armazéns. Segundo ele, há 3 milhões de hectares de pastagens que podem se converter em plantações de soja na região Nordeste do Mato Grosso.

Para ele, o crescimento virá acompanhando de uma série de novas rotas de escoamento da produção. Apesar do caos político do atual governo, Dalcin acredita que projetos importantes sairão do papel. Entre eles, a criação de um canal em meio ao Pedral do Lourenço, uma formação de rochas de 43 quilômetros no rio Tocantins que impede a navegação nos períodos de baixa vazão. Com essa obra, seria possível escoar a soja da região Nordeste do Mato Grosso até Marabá, onde o produto seria embarcado para Barcarena.

Esse caminho depende ainda das obras do contorno da BR-158 sobre a terra indígena xavante Marãwatsédé, área reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que em 2012 ordenou a retirada de produtores que se estabeleceram na área. Para Dalcin, foi uma das maiores injustiças. “Eu acho que foi uma das maiores injustiças com as pessoas, pois preferiram tirar 7 mil brasileiros do lugar para ajeitar a vida de cem índios.”

Com a autorização para a Vale assinar a antecipação da renovação da concessão da Ferrovia de Carajás, a companhia vai usar os recursos que seriam pagos ao governo para finalmente abrir a ferrovia Fico, que ligaria Água Boa a Campinorte em Goiás, um caminho que seria erguido do zero em nada menos que 383 quilômetros. De Campinorte, a carga seria embarcada na Ferrovia Norte-Sul, para seguir até o porto de São Luiz, no Maranhão. Ou para Santos. Para Dalcin, se a assinatura da renovação da concessão for realizada ainda neste ano, a construção da Fico teria início em 2020, ainda com a expectativa de chegar um dia a Lucas do Rio Verde.

Ele acredita que, em breve, também haverá a construção da BR-242, que ligará Sorriso a Querência, no Mato Grosso. Uma obra um tanto quanto polêmica, uma vez que margeia a parte sul da reserva do Xingu. E, ainda, uma hidrovia saindo de Nova Xavantina pelo Rio das Mortes até São Felix do Araguaia, onde esse rio encontra o Araguaia e vai desembocar no Tocantins.

Com as interligações entre a BR-163, a BR-158, ferrovias, hidrovias a portos do Norte, Nordeste e Sudeste, o sonho dos produtores rurais é ter opções para ganhar pela concorrência dos modais. “Vai ter competição de modal, algo que sempre o produtor lutou”, afirma Dalcin. “O futuro é realmente é uma melhoria logística, mas precisamos aumentar a liberação disso. O governo dá conta de fazer? Deixa então a iniciativa privada fazer.”

Eles reclamam, por exemplo, que os trilhos da Rumo chegaram a Rondonópolis mas o frete rodoviário não caiu. E acreditam que o governo Jair Bolsonaro, apesar de sua guerra ideológica e sua “contrarrevolução” cultural que ameaçam setores como a cultura, a educação, a ciência e a tecnologia, serão capazes de desatar o nó da logística. Nem que para isso precise amarrar órgãos ambientais, de proteção indígena e ONGs.

Seguimos pela BR-158 até Ribeirão Cascalheiras, fechando o dia com 380 quilômetros percorridos. Chegaremos a Marabá com a alma repleta de chão.

Ver abaixo os vídeos da reportagem>>>
 

Vídeo Relacionado

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  • por Fábio, em 20/05/19 às 16:49

    Quanto erro de português! Poderiam ao menos escrever corretamente, já que pode ser lido no mundo todo uma reportagem assim.

 
 
 
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