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02/04/19 às 08:04 / Atualizada: 02/04/19 às 08:29

Tira-Dúvidas: Coordenadora do Ministério da Saúde esclarece mitos e verdades sobre a hanseníase

O objetivo é fazer com que os brasileiros saibam reconhecer os sinais e sintomas da doença e buscar os serviços para o diagnóstico e tratamento

Agência do Rádio

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Tira-Dúvidas: Coordenadora do Ministério da Saúde esclarece mitos e verdades sobre a hanseníase

Foto: Divulgação

Anualmente, o governo federal lança a campanha do “Janeiro Roxo”, que busca informar a população acerca da hanseníase e estimular os profissionais de saúde com a busca ativa de casos. O objetivo é fazer com que os brasileiros saibam reconhecer os sinais e sintomas da doença e buscar os serviços para o diagnóstico e tratamento. Isso porque o Brasil consta em segundo lugar no ranking de países com casos novos registrados, de acordo o último levantamento da Organização Mundial da Saúde, realizado em 2017. Os dados reúnem casos dede 150 países, que somaram 210.617 notificações no mundo. Desse total, 26.875 foram diagnosticados no Brasil. A boa notícia é que a doença pode ser medicada e curada. Quem explica o que é a infecção é a coordenadora geral da Hanseníase e das Doenças em Eliminação da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, Carmelita Ribeiro.

“A Hanseníase é uma doença que tem manifestação em pele, mas é primariamente neurológica. Ela acomete os nervos periféricos, que são os responsáveis pela sensação de dor, de calor e de frio. Por isso que as pessoas que têm sinais de Hanseníase podem ter uma mancha com alteração da sensibilidade e pode ter um pé dormente e não ter mancha”.

Com quais sinais e sintomas as pessoas devem procurar ajuda médica e possível diagnóstico?

“O que é mais frequente seriam essas manchas no corpo esbranquiçadas, avermelhadas e amarronzadas. Geralmente, essas manchas têm alteração de sensibilidade. Também podem ser áreas que não suam. Além disso, pode ter uma mão que tenha a sensibilidade diminuída na palma, ou que deixa cair as coisas, por ter uma diminuição da força muscular”.

E como é o diagnóstico? É preciso tirar sangue ou fazer algum tipo de biópsia?

“É muito comum as pessoas acharem que para diagnosticar a hanseníase é preciso exame de sangue ou de urina. Não precisa, o diagnóstico é clínico. É o médico examinar a pele, e fazer avaliação neurológica da face, das mãos e dos pés para ver se tem comprometimento neurológico pela doença.” 

Uma dúvida para aqueles que têm medo do tratamento. Ele pode afetar o paciente de alguma forma? 

“O tratamento da hanseníase é a poliquimioterapia, e ela é aceitável por 99% das pessoas. Existem os efeitos adversos do medicamento. Então, se essa pessoa tiver alguma intolerância a algum dos medicamentos da poliquimioterapia, ela deve referir isso ao médico O médico vai fazer o diagnóstico, possivelmente substituindo o serviço onde ela está sendo acompanhada”. 

Quando o paciente em tratamento passa a interromper a transmissão da doença?

“Logo no primeiro mês de tratamento, ela já perde essa capacidade de transmissão. Então, o ideal é que o mais rápido possível seja feito o diagnóstico e o tratamento”.

Quando o paciente termina o tratamento, existe o risco de pegar a hanseníase novamente?

“Digamos que uma pessoa fez o tratamento, curou, mas ela continua em um ambiente onde tem circulação de bacilo, então essa pessoa pode adoecer. O importante é que o serviço examine todos os contatos da pessoa que recebeu o diagnóstico, principalmente os familiares, buscando essa fonte de infecção para quebrar a cadeia de transmissão. Talvez alguém próximo a ela está transmitindo e não recebeu ainda o tratamento.”

Falando sobre transmissão, muitas pessoas acreditam que podem pegar hanseníase por contato com objetos supostamente infectados, beijos e até por animais. Isso é verdade?

“Precisa separar roupa, talheres, precisa ter medo de compartilhar banheiro, coisas íntimas? Não precisa, porque a transmissão ocorre por vias aéreas superiores. Segundo algumas crendices, o peixe de couro transmite a hanseníase, outros dizem que o tatu transmite a hanseníase. É preciso reforçar que o único reservatório do bacilo da hanseníase é a pessoa, só é transmitida de pessoa para pessoa.”

Para finalizar, como a Hanseníase é uma doença contagiosa, é recomendável que as pessoas evitem áreas ou regiões em que os números de casos são altos?

“Não, porque o processo de adoecimento da hanseníase é um processo longo. Eu preciso conviver com essa pessoa que esteja doente, sem tratamento, e na classificação multibacilar. Centro-Oeste, Norte e Nordeste são as regiões que têm uma incidência maior da doença, mas em todas as regiões têm paciente com hanseníase. Então, se tem doente, é porque tem transmissão naquele local.”

O atendimento para a Hanseníase é oferecido pela rede pública de saúde de todo o Brasil. Todos os postos médicos do País têm pelo menos um profissional preparado para o diagnóstico, e a única forma de receber a medicação para o tratamento é pelo Sistema Único de Saúde. A doença tem cura, então fique atento aos sintomas em si mesmo e nos conhecidos. É possível extinguir a infecção. Para mais informações, acesse: saude.gov.br/hanseniase. 



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Doença tem tratamento e cura

Segundo relatos bíblicos, a hanseníase acomete o homem há pelo menos dois mil e quinhentos anos. Mesmo sendo uma doença milenar, muitas pessoas não sabem que a doença tem tratamento e cura, e que é possível ficar sem sequelas. O diagnóstico tardio é uma das principais causas para a evolução de consequências graves, como deformidade de membros. É o caso de Alzira Rodrigues, que no interior da região Centro-Oeste teve que interromper a rotina por causa da infecção em 1968, quando ainda era jovem e estudava no colégio. 

“Descobri que eu tinha hanseníase com 14 anos. Eu fui muito excluída, me tiraram da escola, da vizinhança. Aí o meu pai arrumou um serviço para mim em São Paulo como doméstica. Eu fazia o tratamento enquanto estava aqui, mas depois quando fui para São Paulo, eu fiquei sem tratamento. Hoje eu tenho as mãos e os pés bastante atrofiados. Eu fico o maior tempo em cadeira de rodas.”

Alzira tem 65 anos e vive em Poconé, no Mato Grosso, onde vive com os sete filhos. Ela faz questão de compartilhar a experiência pessoal em serviço voluntário para divulgar informações sobre a hanseníase. Como ela sabe que a falta de tratamento pode ter consequências sérias, como as atrofias nos membros que carrega consigo, se preocupa em avisar outras pessoas sobre a necessidade de se buscar o diagnóstico e o tratamento o quanto antes. Casos como o de Alzira ainda são comuns no Centro-Oeste, uma das regiões com maior incidência da doença no Brasil. A doença, no entanto, esta presente pelas demais áreas do país, que ocupa a segunda posição no último ranking da Organização Mundial da Saúde de novas notificações. De acordo com a coordenadora-geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação do Ministério da Saúde, Carmelita Ribeiro Filha, os números altos no Mato Grosso são resultado da chamada cadeia de transmissão.

“O Mato Grosso é o estado que tem o maior número de casos no nosso país. É um lugar em que circula muito o bacilo. Então, isso vai se perpetuando porque o período de incubação é longo. Ele não é tão rápido. E isso é inerente à própria doença, o bacilo, e também à capacidade da pessoa de responder positivo ou não frente ao bacilo. Então, isso é uma cadeia, vai se prolongando, vai se perpetuando.”

Por isso, o importante é ficar atento aos sinais do seu corpo. Ao surgimento de qualquer mancha em que você perceba a perda ou diminuição da sensibilidade ao toque, calor ou frio, procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, menores as chances de sequelas. A hanseníase tem cura e o tratamento está disponível gratuitamente no SUS. Por isso, não esqueça: identificou, tratou, curou. Para mais informações, acesse: saude.gov.br/hanseniase.
 


 

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