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23/12/18 às 11:15

Polícia reforça força-tarefa para apurar suspeitas de novos crimes cometidos por João de Deus

Policiais apuram origem de pedras preciosas, armas e R$ 1,6 milhão encontrados em imóveis do médium. Preso por acusações de abuso sexual, ele nega ter cometido crimes.

Paula Resende, G1 GO

AguaBoaNews

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Polícia reforça força-tarefa para apurar suspeitas de novos crimes cometidos por João de Deus

João de Deus está preso em Goiás

Foto: Reprodução/TV Globo

Além dos inquéritos que envolvem denúncias de abuso sexual contra João de Deus, a Polícia Civil de Goiás instaurou um novo procedimento para apurar a origem e regularidade das armas, R$ 1,6 milhão e pedras preciosas apreendidas em imóveis do médium em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal. Para investigar todos as suspeitas, a força-tarefa foi reforçada. Preso, o médium nega ter cometido crimes.
 
“A cada passo que a Polícia Civil caminha, a gente se depara com novas situações delituosas e isso vai exigindo maior capacidade no sentido de número de integrantes para dar agilidade à investigação”, disse o delegado-geral da corporação, André Fernandes.
 
Iniciada após as denúncias virem à tona no programa Conversa do Bial, a força-tarefa foi instaurada em 10 de dezembro com quatro delegados. Atualmente já são sete investigadores e, após o Natal, serão oito, além de 50 agentes.
 
“O delegado Thiago Torres é chefe do laboratório de lavagem de dinheiro, tem curso e capacitação na área”, afirmou Fernandes.
 
Pedras preciosas apreendidas em endereços ligados a João de Deus — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Pedras preciosas apreendidas em endereços ligados a João de Deus — Foto: Polícia Civil/Divulgação
 
Dinheiro e pedras preciosas
 
Na sexta-feira (21), integrantes das polícias Civil e Técnico-Científica, da Vigilância Sanitária e do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) foram à Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, onde João de Deus atendia e teria cometido abusos sexuais, e outros três endereços do médium. Foram apreendidos pedras preciosas, medicamentos e dinheiro.
 
“A Polícia Científica acompanhou e produziu laudos complementares. A Vigilância Sanitária também acompanhou porque já tinha essa demanda porque havia comércio de medicamentos no local. Eles apreenderam alguns instrumentos cirúrgicos, mas ainda não temos um laudo”, afirmou a promotora de Justiça Gabriella Queiroz.
 
O delegado explicou que, ao que tudo indica, as pedras preciosas se tratam de esmeraldas. Porém, será feita uma perícia para a devida identificação.
 
Mala com R$ 1,2 milhão apreendida em imóvel do médium João de Deus — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Mala com R$ 1,2 milhão apreendida em imóvel do médium João de Deus — Foto: Polícia Civil/Divulgação
 
Na mesma casa, os policiais descobriram um cofre, que estava vazio, em um esconderijo acessível por meio do fundo falso de um armário. No mesmo porão, havia uma mala cheia de dinheiro. A polícia contabilizou R$ 1,2 milhão.
 
Outros mandados de busca e apreensão foram cumpridos na quarta-feira (19), quando foram encontrados cerca de R$ 400 mil em moedas nacional e estrangeiras. A quantia estava em um armário, dentro de uma mochila e uma caixa. Assim, nos dois dias de revistas, os policiais apreenderam R$ 1,6 milhão em residências do médium.
 
A defesa de João de Deus, que sempre negou as acusações de crimes sexuais, criticou os últimos mandados de busca e apreensão. "A nova busca e apreensão foi determinada com base em denúncia anônima e foi genérica, o que é inadmissível", afirmou o advogado Alberto Toron. Ele declarou ainda que “muito do dinheiro encontrado tem a ver com antigas doações”.
 
Armas apreendidas
 
Também na quarta-feira, os policiais apreenderam cinco armas de fogo, munição e uma arma de pressão.
  • 1 pistola calibre 380 e 11 munições intactas;
  • 1 pistola de pressão;
  • 1 revólver calibre 38;
  • 1 garrucha calibre 22;
  • 2 revólveres calibre 22;
  • 32 munições calibre 38;
  • 11 munições calibre 380;
  • 11 munições calibre 22
Segundo a Polícia Civil, os armamentos não têm registro e um está com a numeração raspada. Além disso, João de Deus não tem permissão para posse de arma.
 
Armas e dinheiro achados no quarto de João de Deus  — Foto: Murillo Velasco/G1
Armas e dinheiro achados no quarto de João de Deus — Foto: Murillo Velasco/G1
 
O médium deve ser ouvido novamente nesta semana, por causa das apreensões e de novos relatos de mulheres.
 
“Não sabemos o motivo de ele guardar essas armas, só saberemos o motivo quando realizarmos outro interrogatório. Elas são um fato novo. Não temos nada e nenhuma investigação de que ele pegava arma e ameaçava alguém. Falar sobre isso seria leviano”, afirmou Fernandes.
 
A posse das armas motivou os policiais e promotores a registrarem um novo pedido de prisão do médium. A solicitação foi acatada pelo juiz Liciomar Fernandes da Silva, do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO). Caso seja condenado pelo crime, o médium pode pegar de de 3 a 6 anos de prisão.
 
Inquéritos de abuso sexual
 
Até este domingo (23), a Polícia Civil recebeu o relato de 16 mulheres contra o médium João de Deus. Destes casos, nove se tornaram inquéritos, sendo que um já foi concluído e remetido ao Poder Judiciário. Os médium foi indiciado por violência sexual mediante fraude.
 
As mulheres que o denunciaram aos policiais têm entre 20 e 40 anos. Apenas uma delas é de São Paulo. As demais são de Goiás.
 
Titular da Delegacia Especializada no Atendimento a Mulheres (Deam) da Região Central de Goiânia, a delegada Ana Elisa Martins disse que não há um perfil padrão de vítimas, mas todas eram mulheres em situação de vulnerabilidade.
 
"Ele tinha à disposição uma enormidade de pessoas em busca de socorro, que buscavam ajuda e entendiam que naquela pessoa [João de Deus] estava alguém que fosse salvá-las.Por oportunismo, ele cometeu as práticas de abuso sexual", disse Ana Elisa.
 
Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus fazia seus atendimentos, em Abadiânia, Goiás — Foto: Alessandro Vieira/TV Anhanguera
Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus fazia seus atendimentos, em Abadiânia, Goiás — Foto: Alessandro Vieira/TV Anhanguera
 
Vítimas de 15 estados e 6 países
 
O MP-GO informou que, até sexta-feira, recebeu 596 contatos por e-mail e já identificou 255 vítimas. Dessas, 75 tiveram os depoimentos coletados. As denunciantes são de 15 estados brasileiros e outros seis países.
 
Assim como os delegados, os promotores pretendem ouvir João de Deus ainda nesta semana e denunciá-lo em seguida. Junto com o inquérito já fechado pela Polícia Civil, o órgão deve juntar outros casos recentes, ainda deste ano.
 
"Além do inquérito da Polícia Civil, o MP pretende agregar outros três fatos: dois crimes de violação sexual mediante fraude e um de estupro de vulnerável", afirmou o promotor de Justiça Luciano Miranda Meireles.
 
A promotoria recebeu denúncias de mulheres que teriam sido abusadas em ambientes públicos. Com isso, o órgão vai investigar a existência de testemunhas.
 
O MP também deve investigar a produção de medicamentos na farmácia da Casa Dom Inácio de Loyola. A parte de venda de fitoterápicos segue aberta, mas a produção de remédios foi interditada pela Vigilância Sanitária.
 
Quarto onde mulheres relataram serem abusadas por João de Deus, em Abadiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Globo
Quarto onde mulheres relataram serem abusadas por João de Deus, em Abadiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Globo
 
Prisão
 
Preso no último domingo (16), quando se entregou à Polícia Civil, João de Deus está detido desde então no Núcleo de Custódia, que é considerado de segurança máxima. A unidade integra o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital.
 
A defesa tenta a liberdade de João de Deus. Após solicitações de habeas corpus terem sido negadas pelo Tribunal de Justiça de Goiás e pelo ministro Nefi Cordeiro, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o advogado Alberto Toron recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira (20).
 
O pedido foi sorteado para o ministro Gilmar Mendes, mas, como foi apresentado após o início do recesso do Judiciário, será analisado pelo presidente do Supremo, Dias Toffoli, que está de plantão.
 
A defesa argumenta que o médium é réu primário, tem residência fixa, é idoso e possui doença vascular grave.
 
Em relação à nova ordem de prisão, motivada pela posse de armas e divulgada na sexta-feira, a defesa do médium informou que ainda não sabe se entrará com novo pedido de habeas corpus.

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