Caminhoneiros que protestam contra a alta do diesel entraram no 7º dia seguido de bloqueios de rodovias em Goiás, apesar de o governo federal já ter anunciado o envio do Exército e da Força Nacional para desmobilizá-los.
De acordo com a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), às 12h30 deste domingo (27) havia 44 trechos bloqueados no estado – três a menos que no dia anterior. Já a última atualização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta 22 pontos. Não houve registro de conflito entre forças de segurança e manifestantes.
Neste sábado (26), integrantes da Força Nacional foram deslocados de Uberlândia (MG) para atuar na desobstrução de vias federais em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal, e em Catalão. A frota conta com sete veículos blindados, dois caminhões, dois ônibus e 150 homens.
A PRE informou que ainda não recebeu nenhum tipo de reforço ou mesmo de ordem para desfazer os bloqueios e que não existe nenhum ponto em que haja interdição total.
Força Nacional é enviada para atuar no desbloqueio de rodovias em Goiás
A TV Anhanguera apurou que a Justiça determinou multa de R$ 20 mil por hora para caminhoneiros que ocupam 5 rodovias federais em 13 cidades da região central. Além disso, mais duas liminares seguem a mesma interpretação. A PRF informou, porém, que todas as decisões falam sobre bloqueios totais, o que não se encaixa nos existentes.
Os protestos impedem a circulação de mercadorias. Por isso, voos foram cancelados por falta de combustíveis, os preços da gasolina e do etanol subiram, a distribuição de botijões de gás está prejudicada, a frota do transporte público em circulação foi reduzida e o funcionamento do comércio foi alterado.
Também houve a redução da entrega de alimentos na Central de Distribuição de Goiânia (Ceasa), a morte de animais por falta de ração e suspensão de aulas na rede pública no Entorno do Distrito Federal. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) criou um comitê para gerenciar a crise e adotar estratégias que permitam que seus 11 hospitais não fiquem sem remédios e outros insumos.
Ainda neste sábado (26), o governador de Goiás, José Eliton (PSDB), decretou situação de emergência por conta dos protestos. Com a medida, na prática, a administração estadual pode, entre outras ações, disponibilizar recursos para o custeio de procedimentos emergenciais e utilizar as forças de segurança para garantir a livre circulação dos meios de transporte.
Eliton disse que o decreto é necessário para tomar "providências para evitar a interrupção de serviços essenciais à população, comprometendo a ordem pública, a segurança, a paz social e o bem estar das pessoas".
Além disso, afirmou que os bloqueios têm provocado "inúmeros transtornos", principalmente no que diz respeito "ao transporte de alimentos, medicamentos, combustíveis e outros bens de primeira necessidade".
Não há um prazo para que o decreto permaneça em vigor. Ele será revogado assim que "cessada a situação de emergência". Em seguida, serão determinadas as "medidas necessárias ao retorno da normalidade". Neste contexto, serão apurados atos que tenham causado prejuízo ao patrimônio público.
O governador de Goiás, José Eliton, durante anúncio de decreto de situação de emergência por conta do protesto de caminhoneiros (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Publicado neste sábado (26) em edição extra do Diário Oficial do Estado, o decreto prevê:
- Alocação de recursos orçamentários para o custeio das ações emergenciais
- Contratação emergencial de fornecimento de bens e de prestação de serviços necessários ao restabelecimento da normalidade
- Requisição de equipamentos, materiais, mercadorias, medicamentos, veículos, combustíveis e outros itens que sejam necessários, de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização, se houver dano
- Mobilização das forças de segurança do Estado, inclusive determinando a instituição de regime especial de prontidão, plantão permanente, suspensão de férias e outras medidas que se façam necessárias
- Utilização das forças de segurança do Estado para o apoio e a garantia da livre circulação dos meios de trnasportes necessários à distribuição de gêneros de primeira necessidade e à prestação de serviços essenciais
- Apoio às ações emergenciais adotadas pelos municípios do Estado
- Intensificação, por meio da Polícia Militar, do patrulhamento ostensivo
- Avaliação das vias de trânsito, propondo medidas para evitar ou minimizar os efeitos dos bloqueios
- Contratação de serviço de apoio técnico-administrativo para consecução dos objetivos do decreto
Com a paralisação, começou a faltar combustíveis em vários postos do estado. Cerca de 60% dos estabelecimentos já estão sem etanol em Goiânia, segundo o último levantamento do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Goiás (Sindiposto), divulgado neste sábado (26).
Cerca de 60% dos postos já não têm etanol em Goiânia, Goiás (Foto: TV Anhanguera/ Reprodução)
Em Goiânia, alguns postos mantiveram o preço médio praticado antes da greve - R$ 4,49 a gasolina, e R$ 2,49 o etanol. No entanto, em outros, o valor já teve aumento. Em um estabelecimento, por exemplo, o litro da gasolina chegou a R$ 4,89.
O preço dos produtos também subiu nas bombas do interior do estado. Em Alvorada do Norte, a gasolina chegou a ser vendida a R$ 6,89 e o etanol a R$ 3,98.
Em nota, o Sindiposto repudiou a atitude de alguns donos de postos que se aproveitaram do desabastecimento para aumentar o preço sem justificativa plausível.
"Aumentos pontuais ocorreram porque as distribuidoras também subiram o valor, que inevitavelmente é repassado para o consumidor, mas o sindicato não vai compactuar com aumentos injustificados, ocasionados simplesmente pelo aumento da procura", diz o comunicado enviado pela entidade.
Outra nota do órgão informou que “não foi noticiado sobre desabastecimento grave em postos de combustíveis de Goiânia”. Segundo o texto, “algumas faltas pontuais de etanol foram verificadas, mas de forma esporádica”.
O Sindiposto disse ainda que teme que, se a paralisação continuar, “um desabastecimento mais severo poderá ser sentido a partir deste fim de semana”. A nota afirma ainda que a “limitação de litros de combustível disponibilizada para os consumidores nos postos, o Sindiposto esclarece que não influencia na política de venda adotada por cada estabelecimento”.
A Superintendência de Proteção aos Direitos do Consumidor (Procon) explicou que o órgão está monitorando os preços cobrados e qualquer prática abusiva será autuada.
Junto com o Ministério Público (MP), o órgão fiscalizou 50 postos de combustível em Goiânia e em Aparecida de Goiânia na sexta, mas ainda não divulgou um balanço da operação.
Sem estoque para abastecer toda a frota, a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) está operando, desde sexta-feira (25), com um número menor de ônibus na Região Metropolitana da capital. A redução é de 30% e deve ser mantida, a princípio, até segunda-feira (28).
A empresa informou ainda, à TV Anhanguera, que há reservas de combusíveis para os ônibus que circulam na capital e Região Metropolitana. Caso a greve continue, pontua a CMTC, há a previsão que o número de veículos circulando diminua.
Paralisação de caminhoneiros prejudica transporte coletivo em Goiânia
A Metrobus, responsável pelo Eixo Anhanguera, informou “que possuí estoques de combustível suficientes para atender normalmente a população pelos próximos dias, sem que haja a necessidade de redução na frota ou alteração nas planilhas de horários praticados”.
Em Catalão, no sudeste goiano, com a falta total de combustível em todos os postos, a empresa responsável pelo transporte coletivo na cidade retirou de circulação 20% da frota. A direção da empresa informou à TV Anhanguera que o estoque é suficiente para que os ônibus circulem apenas até segunda-feira (28).
Com dificuldades para receber querosene de avião, o Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, anunciou, no início da tarde de sexta-feira (26), que estava com restrição de voos. Horas depois, chegou uma carga de 80 mil litros de combustível, mas apenas para reserva.
Na noite deste sábado, a empresa informou que todos os aviões que pousarem só poderão seguir viagem se tiverem combustível suficiente para a próxima etapa do voo. A Infraero também disse que "está em contato com órgãos públicos relacionados ao setor aéreo para garantir a chegada dos caminhões com combustível de aviação aos aeroportos administrados pela empresa".
Às 8h30 deste domingo, o site da Infraero apontava para um único cancelamento: o de um voo que partiria do Rio de Janeiro às 11h30, pela Azul. Clientes podem constar as medidas adotadas pela companhia, lista de voos impactados e informações no site da Azul.
A Latam informou que "as restrições de abastecimento de combustível provocadas pela greve dos caminhoneiros seguem impactando suas operações", mas não detalhou sobre voos em Goiás. De acordo com a empresa, os passageiros podem verificar e confirmar a situação de seus voos diretamente na página Status de Voos.
Já a Gol afirmou que os "passageiros impactados poderão procurar a companhia a fim de remarcar suas viagens, sem a cobrança de taxas e de acordo com a disponibilidade" ou solicitar reembolso pelo site da Gol, aplicativo ou telefones 0300 115 2121 e 0800 704 0465.
Supermercados de Goiás começam a ficar desabastecidos de verduras, frutos e frios por causa do bloqueio de caminhoneiros em rodovias do país. Em Goiânia, comércios limitam o número de produtos vendidos para cada cliente.
O presidente da Agência Goiana de Supermercados (Agos), Nelson Alexandrino, avalia que o desfalque já pode ser sentido em cidades do interior, principalmente em cidades que se abastecem, basicamente, com produtos da capital, como Caldas Novas. Ele acredita que as regiões sul e sudeste são mais afetadas devido ao alto consumo.
Reflexos da greve dos caminhoneiros em supermercado de Goiânia, Goiás (Foto: Elisângela Nascimento/G1)
Alexandrino acredita ainda que a situação pode ficar crítica, em todo estado, a partir de segunda-feira. Na capital, ele afirma que deve demorar um pouco mais a faltar produtos.
No entanto, em alguns estabelecimentos de Goiânia também é possível notar os reflexos da greve. Em um supermercado, apesar de faltar, em pouca quantidade, itens como banana e mamão, houve aumento em outros produtos. A batata inglesa, por exemplo, é vendida a R$ 8,59. Ainda assim, só é permitido a cada cliente levar 3 kg.
A escassez de alguns legumes fez com que os preços subissem. Segundo Alexandrino, na quinta-feira (24), o preço da saca da batata subiu de R$ 70 para R$ 300, ou seja 328%, na Central de Distribuição de Goiânia (Ceasa). Já o da cebola, que estava a R$ 18 antes dos bloqueios, passou para R$ 70 o saco, o que corresponde a um reajuste de 288%.
Em contrapartida, houve superpromoção no valor de frutas que perdem muito rápido, visto que os comerciantes não conseguem distribuir o material. "O abastecimento está comprometido em cerca de 30%. Todos os segmentos foram afetados, principalmente os de produtos perecíveis", afirma uma nota da Ceasa.
Os prejuízos totais ainda não foram calculados.
Segundo informou à TV Anhanguera o Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás da Região Centro-Oeste (Sinergás), 70% das distribuidoras de Goiânia estavam desabastecidas neste sábado (26).
Em nota, a assessoria de imprensa da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) informou que, por enquanto, a coleta está ocorrendo de forma normal. No entanto, poderá ser prejudicada a partir de segunda-feira (28) se o fornecimento de óleo diesel não for restabelecido.
A assessoria de imprensa da Rodoviária de Goiânia informou que ainda não houve nenhum impacto nas linhas e quantidade de ônibus por causa da greve.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), foi criado um Comitê de Gerenciamento de Crise, em parceria com o Ministério da Saúde. Em situações específicas para o transporte de insumos, a secretaria pode solicitar auxilio para escolta dos veículos. O intuito é garantir a prestação de serviços essenciais nas unidades de saúde.
As ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também estão sendo afetadas. Por falta de combustível, o deslocamento de pacientes para hospitais estaduais foi comprometido. Cirurgias e internações estão sendo suspensas.
Em nota, a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahphaceg) alertou para o risco de desabastecimento de insumos, como gases medicinais (oxigênio) e medicamentos. Diante da situação, o órgão solicita ao movimento grevista que estes itens "sejam liberados do embargo estabelecido".
A instituição alegou que os 21 hospitais associados, além de parceiros comerciais já constataram queda no estoque e "iminente falta de insumos nas instituições de saúde, o que pode ameaçar a assistência e a vida dos pacientes atendidos".
Por fim, o comunicado salienta que reconhece o direito constitucional de greve, mas afirma que "o direito à saúde e à vida, assim como o dever das instituições hospitalares de prestarem atendimento, deve prevalecer".
O protesto dos caminhoneiros, que começou na segunda-feira (21), ocorre em todo o país e cobra a aprovação do Projeto de Lei 528, que estabelece um o piso para o frete de combustíveis no país. Além disto, a categoria reivindica a redução no preço do óleo diesel e a criação de uma tabela compensatória, que pague aos motoristas por km rodado.
No dia 18 de maio, a Petrobras anunciou o quinto reajuste diário seguido no valor do diesel, que começou a valer no sábado (19). A empresa elevou os preços do diesel em 0,80% e os da gasolina em 1,34% nas refinarias.
No acumulado na semana, a alta chega a 6,98% nos preços da gasolina e de 5,98% no diesel. A decisão de repassar o aumento do valor da combustível cobrado pela Petrobras para o consumidor final é dos postos de combustíveis.
A Petrobras explicou que os combustíveis derivados do petróleo, como o diesel, têm o preço ligados ao mercado internacional e varia diariamente. Com isso, a estatal informou que não tem o poder de formar os preços. "As revisões de preços feitas pela Petrobras podem ou não se refletir no preço final ao consumidor", consta o comunicado.
Além disso, apenas metade do valor do diesel é de responsabilidade da Petrobras, sendo a outra parcela formada por impostos e outros tributos. Por fim, pontuou que "as distribuidoras não têm a Petrobras como seu supridor exclusivo e os demais produtores e importadores praticam sua própria política de preços".