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16/03/18 às 12:25

A complexa história por trás do feriado da Páscoa pelo mundo

Lembrada pelos judeus de uma forma e pelos cristãos de outra, a data ajuda a explicar a história da humanidade após Cristo

Débora Ramos

AguaBoaNews

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A complexa história por trás do feriado da Páscoa pelo mundo

Foto: Divulgação

No primeiro domingo de abril, dia 1, os cristão estarão comemorando a Páscoa, o dia em que a Bíblia diz que Jesus Cristo ressuscitou. A data da celebração muda de ano a ano porque sempre deve cair no domingo depois da primeira lua cheia do equinócio da primavera. É por isso, por exemplo, que a Páscoa de 2019 acontecerá apenas no dia 21 de abril.
 
Segundo o professor Brent Landau, da Universidade do Texas (EUA), esse fenômeno remonta às origens complicadas do feriado e de como ele evoluiu ao longo dos séculos. É uma data similar a outros grandes feriados, como o Natal e o Halloween, que tem mudado de características ao longo dos últimos 200 anos. Em todos eles, elementos cristão e não-cristão continuam se misturando, como a prática de dar presente de Páscoa - hoje associados com chocolates, flores e outros pequenos agrados.
 
Páscoa como um rito da primavera

A maioria dos feriados tem alguma conexão com a mudança das estações do ano. Isso é especialmente óbvio no caso do Natal, por exemplo. O Novo Testamento, uma das duas partes que formam a Bíblia cristã, não dá informações sobre em que época do ano Jesus nasceu. Muitos pesquisadores acreditam, no entanto, que a principal razão para seu aniversário ser lembrado no dia 25 de dezembro é por ser a data do solstício do inverno, de acordo com o calendário romano.
 
Nesse período, os dias se tornam mais longos e menos escuros, o que foi um simbolismo ideal para o nascimento da "luz do mundo", como escreve João em seus textos registrados no Novo Testamento.
 
O caso da Páscoa foi similar, já que também cai em uma data-chave no ano solar: o equinócio vernal (próximo de 20 de março), quando há iguais períodos de luz e de escuridão durante os dias. Para quem vive em latitudes ao Norte do mundo, a chegada da primavera é geralmente esperada com excitação, porque isso significa o fim dos dias frios do inverno. Vale lembrar que as estações para quem está no Sul são contrárias: enquanto a Europa entra no seu período quente, a América do Sul e a Oceania, por exemplo, esperam pelos meses frios.
 
A primavera também significa o retorno à vida das plantas e árvores que ficaram em estado dormente durante o inverno, assim como o nascimento de uma nova vida em vários espécies de animais ao redor do mundo. Dado o simbolismo da nova vida e do renascimento, era natural celebrar a ressurreição de Jesus nessa época do ano.
 
É importante pontuar que, enquanto o nome Páscoa é utilizado em muitas culturas para se referir à data, termo original do grego "Pascha", no mundo anglo falante a celebração possui um nome distinto e que também diz muito sobre as suas origens: "Easter".
 
No primeiro caso, a referência principal da palavra vem da "Páscoa judia" ("Passover", em inglês). Na Bíblia hebraica, ela é a data em que se comemora a libertação do povo judeu da escravidão no Egito, narrada no livro de Êxodo. Ela foi e continua sendo a data mais importante no calendário judaico, celebrada na primeira lua cheia após o equinócio vernal.
 
Na época de Jesus Cristo, a Páscoa tinha um significado especial porque o povo judeu estava novamente sob o domínio de estrangeiros - os romanos. Peregrinos judeus em Jerusalém (hoje entre os territórios de Israel e da região da Palestina, não reconhecida pela ONU como um Estado) transmitiam a cada ano a esperança que o "povo escolhido por Deus" seria libertado em breve novamente.
 
Enfim, em uma Páscoa, Jesus viajou a Jerusalém com seus discípulos para celebrar a data. Ele entrou na cidade em uma procissão triunfal e criou um distúrbio com os comerciantes no templo, duas ações que parecem ter atraído a atenção dos romanos. Como resultado, ele foi executado em aproximadamente 30 após o Anno Domini - o “ano do nascimento do Senhor”.
 
Alguns seguidores de Jesus, no entanto, acreditaram tê-lo visto vivo três dias depois da sua morte, quando foi pregado em uma cruz ao lado de dois ladrões, em um lugar distante chamado Gólgota. Essa experiência fez surgir a religião cristã. Como Jesus morreu durante a Páscoa e seus seguidores acreditam que ele renasceu em seguida, é lógico que a data se comemore em dias próximos.
 
Em inglês, o batismo da celebração como "Easter" parece remeter ao nome da deusa inglesa pré-cristã Eostre, que era celebrado no começo da primavera. A única referência a ela vem dos escritos de Venerado Bede, um monge britânico que viveu no final do século XVII e começo do XVIII.
 
"Bede escreveu que o mês em que cristão ingleses estavam celebrando a ressurreição de Jesus tinha sido chamado de 'Eosturmonath' em inglês antigo, se referindo ao nome de Eostre. E mesmo que mantendo o significado cristão da celebração, eles continuaram designando a data com o nome da deusa", explica o professor Bruce Forbes, de Princeton (EUA).
 
Bede foi tão influente para os cristãos que o nome permaneceu como a forma com que britânicos, alemães e estadunidenses se referem à ressurreição de Jesus.
 
Alguns cristãos, assim, escolheram celebrar o renascimento de Jesus na mesma data em que se lembrava a Páscoa judia, próximo ao dia 14 do mês de Nissan do calendário judaico, ou entre março e abril do romano. Esses cristãos são conhecidos desde então como "quarto-decimais" (“quartodecimanos”, em latim).
 
Ao escolherem essa data, eles deram foco à época em que Jesus morreu e também enfatizaram a continuidade com o Judaísmo com a emergência do cristianismo. Alguns outros cristãos, em vez disso, preferem guardar a data para um domingo, dia em que se acredita que a tumba de Jesus Cristo foi encontrada vazia.
 
Em 325 depois do Ano Domini, o imperador Constantino, que havia se convertido ao cristianismo, concebeu uma reunião entre líderes cristãos para resolver disputas importantes no que foi chamado de primeiro Concílio de Niceia. A decisão mais importante tomada no encontro foi o status que deveria ser dado a Cristo: "totalmente humano" e "totalmente divino". O concílio também resolveu, enfim, que a Páscoa deveria ser fixada aos domingos - não no dia 14 do mês de Nissan do calendário judaico. Como resultado, a data é celebrada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia do equinócio vernal.

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