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11/01/18 às 09:50 / Atualizada: 11/01/18 às 09:59

Negócio social ensina inglês a pessoas das classes C, D e E com baixo custo e método inovador

Start up criada por Gustavo Fuga, quando ainda era calouro da USP, dá acesso ao ensino da língua inglesa a pessoas que não podem pagar cursos e escolas do idioma; aulas são ministradas por estrangeiros intercambistas e método usa aplicativo no lugar

Vanessa Brito

AguaBoaNews

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Criar um curso de inglês com mensalidade de R$ 59, baseado em metodologia inovadora adaptada aos alunos das classes sociais C, D e E, com aulas presenciais ministradas por professores estrangeiros, que chegam como intercambistas ao país, e aplicativo para exercícios no lugar de livros. Esta foi a solução que o economista Gustavo Fuga criou, em 2012, e se tornou um negócio de impacto social de sucesso, quando era calouro do curso de Economia na Universidade de São Paulo (USP).

A fórmula resolveu seu problema e de muitos brasileiros, sem acesso ao ensino da língua inglesa de qualidade. O nome da escola inovadora criada por ele é 4YOU2, que corresponde à expressão falada em inglês ‘para você também’.

“Nossa maneira de ensinar vai muito além da gramática: acreditamos que a troca que ocorre em sala de aula é fundamental para que o aprendizado do inglês ocorra de maneira dinâmica e divertida. Por isso, através da nossa metodologia adaptativa e nossos professores estrangeiros, conseguimos entregar uma maneira inovadora de ensino e que caiba no seu bolso”, diz o banner do site www.4y2.org .

A 4YOU2 está de acordo com a definição de negócio de impacto social do Sebrae, que objetiva solucionar uma questão social, considerando a viabilidade econômica da intervenção, com base em estratégias e modelos de negócios inovadores.

Dificuldade nacional

No Brasil, o ensino da língua inglesa possui peculiaridades. Na rede de ensino público, apesar de haver aulas de inglês na grade curricular, desde o ensino fundamental 2, só se aprende o básico do básico. Na rede particular, é comum ocorrer a mesma situação. Nas escolas e cursos de língua inglesa também acontece de alunos ficarem anos tendo aulas, estudando gramática, mas não são capazes de manter uma conversação fluente. Gustavo diz que 95% da população brasileira não falam inglês.

Nos países desenvolvidos, ao contrário, os alunos terminam o ensino médio falando fluentemente, lendo e escrevendo, às vezes até mais de uma língua estrangeira. Por que é assim no Brasil?,  se perguntava Gustavo Fuga, aos 18 anos, recém aprovado no vestibular da USP. Até então, morava com a família em bairro de classe média na periferia da capital fluminense, onde não havia cursos nem escolas de línguas estrangeiras.

“Em 2012, estava vivendo em São Paulo e cursava o primeiro ano de Economia na USP.  Precisava aprender inglês para fazer contatos com professores e universitários de outros países, ler livros, assistir palestras, entre outras coisas”, justifica. Ele tinha outro problema: faltavam recursos para se matricular em um curso ou escola convencional de inglês.

Pesquisa e solução

Gustavo começou a pesquisar uma solução para pessoas como ele, que precisavam aprender o idioma, de maneira eficaz, rápida e barata. Visitou cursos e escolas de línguas, conheceu métodos pedagógicos, livros, apostilas, etc Chegou às seguintes conclusões: os cursos são muito caros; os professores não dominam a língua inglesa; e as escolas ganham dinheiro vendendo livros dos métodos adotados.  

O início do empreendimento foi como start up. Teria de inventar um método inovador, de baixo custo e que garantisse o aprendizado. “O desafio era como deixar barato um curso elitista para o povo”, afirma. A partir do problema colocado, ele conta que surgiu a ideia de trazer estrangeiros para doar horas à causa do ensino de inglês no Brasil, como experiência social e cultural. “Nosso objetivo é democratizar a solução”.

A linha pedagógica da 4YOU2, denominada Ensino Adaptativo, seguiu a estrutura europeia, com módulos básico, intermediário e avançado. A diferença é a intensidade e a complexidade, segundo Gustavo. As aulas são sempre presenciais e focadas na conversação e os alunos aprendem praticando gramática, redação, leitura e exercícios no aplicativo personalizado. O desenvolvimento da ferramenta tecnológica contou com apoio de professores e universitários da USP e considera o perfil cognitivo e interesses de cada pessoa. É possível descobrir isto por meio dos exercícios sobre diferentes assuntos, explica.

O crescimento da 4YOU2 foi rápido. No primeiro ano, foram abertas duas unidades na capital paulista. Atualmente são sete unidades, implantadas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraíba. Grande parte dos alunos vem do boca a boca e da propaganda feita no metrô de SP, via Internet, parcerias locais com empresas e escolas da redes pública e particular.

A faixa etária dos alunos da 4you2 vai de 7 anos (kids) até mais de 80 anos. “Queremos mostrar que existe uma nova maneira de aprender inglês”, enfatiza. Atualmente cerca de 2 mil pessoas estudam o idioma no empreendimento social.

“Não recebemos doação. Começamos com capital próprio, recursos que estavam na poupança.  Nosso negócio tem que ser sustentável e precisa de dinheiro. Temos lucro, mas reinvestimos na qualidade do ensino para o aluno”, explica Gustavo. A equipe de colaboradores é composta por 70 pessoas, que trabalham com carteira assinada.

Este ano, a 4you2 vai começar a ensinar outros idiomas, além do inglês. “Queremos dar acesso a outras línguas e promover intercâmbio cultural entre professores estrangeiros e alunos, gerando respeito ao próximo, à diversidade, contato com outras culturas”, justifica. Todos ganham, alunos e professores, ressalta. Em 2018, devem ser implantadas mais quatro unidades em São Paulo.

Inglês global

“Acreditamos no inglês global. Quanto mais sotaques diferentes, melhor”, afirma Gustavo, contrariando aqueles que pensam ser melhor aprender a falar a língua inglesa como britânicos ou americanos.

O empreendimento possui a área de Talentos Internacionais, que seleciona e cadastra candidatos a professores de inglês como intercambistas, por período de seis meses a um ano, no Brasil. Eles recebem visto para intercâmbio, que permite trabalhar como estagiários ou voluntários, podendo permanecer por este período no país.

Até hoje, quase 400 professores, principalmente da Europa e Estados Unidos, já passaram pela 4you2. Professores da África, Oceania e Ásia, também. A cada semestre, a equipe de professores muda. Em seis anos, eles vieram de cerca de 45 países. No momento, há fila de espera de estrangeiros que querem participar da experiência cultural de ensinar inglês no Brasil, informa.

Parcerias e prêmios

O empreendimento também se tornou parceiro de empresas, entidades e instituições, que oferecem ensino de inglês aos funcionários. No momento, o método da 4YOU2 está implantado em nove parceiros, entre multinacionais, empresas médias e pequenas, organizações não governamentais, escolas e faculdades.

Nesse caso, o custo é mais caro e é oferecido a bolsa Impact para aqueles que não têm condição de pagar a contrapartida, mesmo assim fica mais barato do que os cursos existentes no mercado. Gustavo diz que estão prontos para expandir estas parcerias.

A 4you2 recebeu mais de dez prêmios da Finlândia, Suiça, Espanha, Costa Rica, EUA e no Brasil. Foi finalista da premiação Empreendedor Social 2016 do Grupo Folha de S.Paulo.

Lições aprendidas

Ao longo de seis anos, o empreendedor afirma que aprendeu muito sobre como estruturar um negócio de impacto social para distribuir no país, como liderar equipe e impulsionar uma organização. Ele se formou em Economia e, agora, é mestrando em Empreendedorismo na USP.

Gustavo viajou bastante e percebeu que seu empreendimento inspirou iniciativas semelhantes, que estão surgindo. “Não vejo problema em copiarem a ideia, é sinal de que é boa. A execução é que é a diferença. No final das contas, quanto mais pessoas quiserem resolver o problema do ensino de inglês de forma séria, a gente fica feliz e comemora”, afirma. Hoje, organizações, escolas e até projetos governamentais estão querendo parceria com a 4you2.

“A gente não se contenta só com dinheiro, a gente quer deixar um legado para o mundo. Vamos tentar arrumar este mundo bagunçado, pelo menos um pouco, dando seu melhor sempre, não fugindo da luta e não ficando esperando alguém, uma empresa grande ou o governo fazer as coisas”, declara.

“Este é meu chamado. Não dá para esperar mais. Se você tem uma boa ideia, comece logo a colocá-la em prática. Chega de ‘mimimi’ e bota a mão na massa, erra e vai aprendendo”, recomenda.
O desafio é o que alimenta as start ups e empreendedores sociais. “Enfrentamos tentações de cair em propostas convencionais, mas nem respondemos. Mantemos nosso público-alvo e a nossa causa: somos ativistas da educação popular”, conclui Gustavo.

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