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06/01/18 às 07:14 / Atualizada: 06/01/18 às 07:37

Censo Agro chega a locais isolados e visita mais de 3 milhões de propriedades

Rita Martins e Mariana Viveiros, IBGE

Edição AguaBoaNews, Clodoeste Pereira 'Kassu'

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Censo Agro chega a locais isolados e visita mais de 3 milhões de propriedades

A recenseadora Jaine é recebida pelo Sr. Manoel, na Bahia

Foto: Erivan Barbosa e Licia Rubinstein

Por conta das inúmeras barreiras naturais presentes no extenso território do Brasil, locais de difícil acesso são uma constante no Censo Agro, como propriedades isoladas por florestas, rios ou mesmo pela distância para os centros urbanos. Ainda assim, a pesquisa avança em forte ritmo e já superou os 3,1 milhões de estabelecimentos visitados (60,4% do total estimado), entrando agora em seu quarto mês de coleta.

É o caso da propriedade encontrada pelo agente censitário regional Erivan Barbosa e a recenseadora Jaine Pires ao fim de uma estrada de pouco mais de 10 km de subida, cercada de mato, ruínas e algumas casas abandonadas em Baixa Verde, no município de Livramento de Nossa Senhora, sudoeste da Bahia. O estabelecimento tem 46 hectares bem cuidados e com grande variedade de produtos agropecuários, surpreendendo quem não esperava achar por lá algum morador ou produção agrícola. 

"Em determinado momento, a gente pensou em voltar, mas eu tinha que, pelo menos, ir [até o fim da estrada] porque fazia parte do meu setor [censitário]", conta Jaine, explicando que, em alguns trechos, foi necessário descer da moto e empurrá-la. "O setor já está 80% concluído, e falaram que aquele povoado estava abandonado, mas havia um senhor que criava gado. A gente foi conhecer o local e encontramos apenas um produtor, porque os outros 15 haviam abandonado a região uns 20 anos atrás, por causa da seca", relata Erivan, completando que o povoado, além de isolado, não tem energia elétrica.

O único morador que resistiu em Baixa Verde foi "seu" Manoel Messias, 55 anos, que cuida de 36 cabeças de gado e produz melancia, abóbora, coco, umbu, maracujá, leite e queijo. Ele também vende requeijão, fabricado no próprio estabelecimento, no povoado mais próximo, conhecido como Gado Bravo, que fica a 5 km, distância normalmente percorrida a pé, a cavalo ou de bicicleta. 

A história ilustra muito bem, por um lado, a complexidade operacional de um Censo Agropecuário e os desafios enfrentados pelos recenseadores durante a coleta. Por outro lado, deixa clara a importância que a pesquisa tem ao dar visibilidade e incluir nas estatísticas oficiais nacionais realidades tão escondidas quanto a de Baixa Verde. 

Dos mais de 3,1 milhões de estabelecimentos visitados em todo o país em três meses de Censo Agro, mais de 445 mil foram recenseados na Bahia – pouco mais de 58% do previsto para o estado, que possui o maior número de propriedades deste tipo no Brasil.  Em Livramento de Nossa Senhora, as equipes censitárias somam 18 pessoas, sendo 14 recenseadores, que já visitaram quase 60% dos 4,8 mil locais previstos. 

Inclusão e visibilidade

Além de evidenciar a contribuição e relevância da atividade agropecuária para a economia do país e do estado, o Censo Agro também retrata algo muito valioso, porém imaterial: o amor à terra, que faz produtores dedicarem toda a vida ao trabalho no campo, não importando o tamanho das dificuldades enfrentadas. Um sentimento que contagia e motiva.

"[Sr. Manoel] era o único que amava a terra e o que fazia. Suas abóboras e melancias tinham o dobro do tamanho das dos outros produtores. A gente se emocionou pelo amor que ele tem à terra. Todo mundo abandonou, e ele ficou", diz Erivan, contando que a esposa de Manoel, que mora em outro povoado, o visita uma vez por mês para ajudar nas atividades. 

A "solidão" de Manoel se traduziu em três horas de conversa. "Cada resposta ele contava um caso, uma história", lembra Erivan, revelando a dificuldade em realizar o Censo em determinadas regiões, seja por conta do difícil acesso, seja pela própria aplicação do questionário, onde perguntas objetivas abrem espaço para causos, confidências e desabafos. 

"Em termos de rendimento, foi difícil para mim [a demora do questionário], porém foi uma experiência diferente, nem parecia que estava no ambiente de trabalho. Então, pelas experiências, valeram a pena as três horas", avalia Jaine, que gasta em média 30 minutos por questionário, dependendo da produção do estabelecimento. "Eu estava pensando em desistir [do Censo Agro]. O que me faz ficar é a forma maravilhosa como eu sou recebida pelas pessoas e as histórias de vida que me dão ânimo pra continuar", conclui. 

O ânimo vem em boa hora, para visitar os mais de 300 mil estabelecimentos que ainda faltam ser recenseados na Bahia.

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