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16/11/17 às 17:25

Taís Araújo fala sobre preocupação na criação dos filhos: 'A cor do meu filho faz com que as pessoas mudem de calçada'

Atriz participou de palestra sobre 'Como criar crianças doces num país ácido', em evento organizado pelo TEDXSão Paulo.

Edição AguaBoaNews, Clodoeste Pereira 'Kassu'

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Taís Araújo fala sobre preocupação na criação dos filhos: 'A cor do meu filho faz com que as pessoas mudem de calçada'

Taís Araújo

Foto: Reprodução/Youtube

Taís Araújo foi uma das palestrantes do evento TEDXSão Paulo, realizado em agosto, na capital paulista. O vídeo da conferência foi divulgado nesta semana pela organização e chamou a atenção pelo discurso de Taís durante os 10 minutos de palestra.
 
A atriz abordou o tema “Como criar crianças doces num país ácido” e levantou assuntos como racismo e misoginia. Ela também destacou a preocupação na criação de seus filhos, João Vicente, de 6 anos, e Maria Antônia, de 2 anos e 7 meses.
 
“A pergunta que mais me fazem é qual a diferença entre criar um menino e criar uma menina. E minha resposta é sempre muito imediata e a mesma: não vejo diferenças entre criar meninos e meninas. Estou criando dois indivíduos. Essa minha resposta, apesar de ser sempre a mesma, é uma mentira", disse Taís.
 
"Eu vejo diferença entre criar meninos e meninas. Gênero é uma questão. Porque, quando engravidei do meu filho, fiquei muito aliviada de saber que no meu ventre tinha um homem. Porque eu tinha a certeza de que ele estaria livre de passar por situações vivenciadas por nós, mulheres. Teoricamente, ele está livre. Certo? Errado”, continuou a atriz.
 
“Errado porque meu filho é um menino negro. E liberdade não é um direito que ele vai poder usufruir se ele andar pelas ruas descalço, sem camisa, sujo, saindo da aula de futebol. Ele corre o risco de ser apontado como um infrator. Mesmo com 6 anos de idade."
 
"Quando ele se tornar adolescente, ele não vai ter a liberdade de ir para sua escola, pegar uma condução, um ônibus, com sua mochila, com seu boné, seu capuz, com seu andar adolescente, sem correr o risco de levar uma investida violenta da polícia. Ao ser confundido com um bandido. No Brasil, a cor do meu filho é a cor que faz com que as pessoas mudem de calçada, escondam suas bolsas e blindem seus carros. A vida dele só não vai ser mais difícil que a da minha filha”, destacou Taís.
 
“Com a Maria Antônia eu me pego pensando o tempo inteiro em como nós mulheres somos criadas para agradar. O quanto nos silenciam e o quanto nos desqualificam o tempo inteiro. Quando penso o risco que ela corre simplesmente por ter nascida mulher e negra, eu fico completamente apavorada.”
Taís citou ainda números de feminicídio no Brasil e disse que, apesar de seus medos, não perde a esperança de poder criar os filhos no país.
 
"Fico elaborando o tempo inteiro uma maneira de criar meus filhos aqui, no meu país. Como criar crianças doces em um país tão ácido. Como criar crianças que acreditem que pluralidade e diversidade são riquezas em um país que é tão plural, tão diverso e tão desigual. Como não jogar sobre elas uma vivência, experiência e até uma mágoa, que é minha? Mas também, como não permitir que elas enfrentem o mundo de maneira ingênua para que não sejam atropeladas pelo racismo que existe na estrutura do nosso país."
 
Taís Araújo finalizou a palestra com um convite. "Para a gente se ajudar mutuamente, para que todos possam ter de fato as mesmas possibilidades. Porque, perante a lei, somos todos iguais, mas na prática, não somos. E isso não é um problema. As diferenças não causam problemas desde que elas não causem desigualdade. Para isso acontecer, tenho a sensação de que a gente tem que começar a olhar para o outro com humanidade, afeto. É um exercício. E entender que o outro é, sim, é uma extensão da gente".

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