A Polícia Civil informou nesta segunda-feira (30) que uma candidata pagou R$ 850 mil por uma espécie de "combo" para conseguir a aprovação dela no concurso para delegado da Polícia Civil de Goiás e da filha, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2016. Segundo o delegado Rômulo Figueiredo, esse foi o maior valor repassado ao grupo criminoso alvo da Operação Porta Fechada e que atuava em todo o país.
“Uma candidata comprou sua vaga no concurso para delegado e pagou uma espécie de ‘combo’. Ela fez um acordo com a organização criminosa, deu uma casa de R$ 850 mil para garantir a aprovação dela no concurso de delegado e da filha no Enem para uma vaga de medicina”, explicou Figueiredo.
Em nota, a assessoria de imprensa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem, informou que o órgão "não foi notificado e está buscando acesso ao inquérito para poder se manifestar".
A Operação Porta Fechada cumpre 36 mandados judiciais, sendo 17 de busca e apreensão, 11 de condução coercitiva e oito de prisão. Do total de presos, foram dois em Goiânia, um em Nova Glória e três em Brasília. O sétimo mandado é referente a um homem que já havia sido preso em Brasília e o oitavo alvo segue foragido.
Segundo Figueiredo, o grupo alvo da ação fraudou o Enem de 2016 e planejava fazer o mesmo neste ano. A prova será aplicada no próximo domingo (5) e em 12 de novembro.
"Comprovamos que o Enem 2016 foi fraudado. Em todos os concursos eles tentam atuar de uma forma ou de outra. Em alguns casos tem êxito, em outros não. Antecipamos a operação para esta semana visto que estavam planejando, via ponto eletrônico, fraudar o Enem 2017", afirmou à TV Anhanguera.
A polícia afirma que há beneficiários do esquema em todo o país.
"A média cobrada era em torno de 20 vezes o salário para o cargo. Temos registro que em 2016 remeteram 35 milhões de euros para a Europa [o que corresponde a cerca de R$ 130 milhões] ", detalhou Figueiredo.
Fraudes no concurso para delegado
De acordo com o delegado André Bottesini, titular da Dercap, a investigação apontou que, só no concurso para delegado da Polícia Civil, ao menos 16 candidatos se envolveram no esquema.
"Deste total, 13 pagaram e foram aprovados nas 13 primeiras posições do concurso para delegado. Outros entraram em desacordo financeiro com o grupo e desistiram", explicouBottesini.
Entre os editais fraudados está, segundo o delegado, o concurso para delegado substituto da Polícia Civil de Goiás. Por isso, em maio deste ano, a Justiça suspendeu, liminarmente, o certame.
O concurso para delegado substituto em questão foi suspenso pela Justiça, por meio de uma liminar, em maio deste ano.
Entre os alvos está um ex-funcionário do então Centro de Promoção e Seleção de Eventos (Cespe) – atual Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe). Ele é apontado como um dos lideres do grupo especializado em fraudar provas.
Conforme a polícia, ele foi demitido em março deste ano assim que foi intimado a depor em Goiânia, e o esquema começou a ser desvendado. O ex-funcionário era quem cuidava da digitalização das provas e das folhas de respostas e, por esse motivo, conseguia preencher tudo antes e aprovar quem tivesse pago a propina.
"Este servidor subtraía o cartão resposta dos candidatos, que entregavam os mesmos em branco e, após a subtração, os preenchia indevidamente e os devolvia para a correção. Assim, os candidatos eram aprovados sem fazer qualquer prova", disse o delegado.
O G1 entrou em contato, por e-mail e telefone, com a assessoria de imprensa do Cebraspe, às 8h10, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Os envolvidos vão responder por formação de organização criminosa, fraude a certame licitatório, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, em alguns casos.