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21/09/17 às 22:09 / Atualizada: 21/09/17 às 22:21

Curitiba - Língua própria e choque cultural: as índias xerentes no futsal dos Jogos Escolares

Nativas de Tocantins, alunas falam idioma akwe e algumas têm medo de escada rolante. Apesar da manutenção de rituais e da caça, hábitos não-indígenas vêm ganhando espaço

Leonardo Filipo, Plácido Berci e Roberto Prugno, Curitiba

Edição AguaBoaNews, Clodoeste Pereira 'Kassu'

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Curitiba - Língua própria e choque cultural: as índias xerentes no futsal dos Jogos Escolares

Time indígena feminino de futsal é destaque nos Jogos Escolares

Foto: Governo do Tocantins

Elas são brasileiras, mas a língua principal não é o português, e sim o akwe. É no idioma indígena dos xerentes que as meninas entre 12 e 14 anos do time de futsal do Cemix Warã conversam entre si. Representantes do Tocantins, elas disputaram os Jogos Escolares da Juventude em Curitiba, que terminam nesta quinta-feira. Depois de duas derrotas, se despediram vencendo Roraima por 3 a 1. Algumas saíram pela primeira vez da cidade de Tocantínea, onde fica a aldeia onde moram. Foram 36 horas de ônibus.
 
- Foi divertido porque a gente brincou. Mas foi cansativo também – disse Aline Ktadi, que disputou a competição pela terceira vez.
 
- A gente começa a jogar bola desde pequenas. Todo mundo joga – disse a aluna em akwe (confira na reportagem do SporTV).
 
Time de futsal do Cemix Warã nos Jogos Escolares de Curitiba (Foto: Philipe Bastos / Governo do Tocantins)
Time de futsal do Cemix Warã nos Jogos Escolares de Curitiba (Foto: Philipe Bastos / Governo do Tocantins)
 
O contato com não-indígenas é normal e o conhecimento do mundo é acessível através da internet. O que não impede o choque cultural, como explica o treinador do time, o carioca Leandro Brito.
 
- Sempre tem, principalmente na escada rolante. Elas pensam que vai comer os pezinhos delas na hora da saída. Algumas já estão disputando o terceiro ano. Mas quem vem pela primeira vez sente o impacto. Outra cultura, cidade grande, totalmente diferente de onde elas moram - disse.
 
Leandro ajuda a desmistificar o estereótipo das tribos indígenas que ele mesmo tinha antes de deixar o Rio de Janeiro há oito anos, quando se apaixonou por uma tocantinense. Em vez de ocas, casas de pau a pique e poucas de tijolos. Na alimentação a caça continua, mas abriu espaço para alimentos industrializados. Os rituais e atividades tradicionais seguem firmes, como a dança da sucuri, a corrida de toras, o cabo de guerra e o arco e flecha. Assim como o akwe, uma das 274 línguas indígenas faladas no país, segundo o censo do IBGE de 2010. Cerca de 500 crianças aprendem primeiro o idioma xerente.
 
- A língua de vocês, o português, começa com seis anos - disse Aline.
 
O próprio nome da escola é uma mistura de português como akwe. Cemix é a sigla para Centro de Ensino Médio Indígena Xerente, e Warã significa “local onde se transmite conhecimento”.
 
Time de futsal do Cemix Warã nos Jogos Escolares em Curitiba (Foto: Philipe Bastos / Governo do Tocantins)
Time de futsal do Cemix Warã nos Jogos Escolares em Curitiba (Foto: Philipe Bastos / Governo do Tocantins)
 
O início da prática esportiva é sempre pelo futebol, mais popular também entre os índios. A mudança para o futsal, numa quadra coberta de cimento, é geralmente complicada.
 
- A dificuldade nossa é porque eles começam no futebol de campo e jogam só descalços. Aí para trazer para o salão, usar tênis, elas pisam que nem patinho novo. Mas estamos trabalhando desde 2013 e colhendo frutos nos últimos três anos, quando fomos campeões estaduais – disse Leandro.
 
Às vezes falta material, como bola, tênis e rede de gol. E como as distâncias são grandes, o transporte de ônibus pode durar até 4 horas. Não raro elas dormem na escola depois do treinamento e voltam para casa no dia seguinte.
 
Aline fez aniversário em Curitiba. Ganhou uma bola de presente do treinador e um passeio no shopping para comer pizza com as colegas de time.
 
- A bola e o alimento são as coisas mais importantes para eles – disse Leandro.

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