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27/08/17 às 15:24

Mãe expõe sofrimento desde desaparecimento da filha há um ano

Cabeleireira Mariane Cristina está desaparecida desde 28 de agosto de 2016, em Cuiabá

Vinícius Lemos, Mídia News

Edição para o AguaBoaNews, Clodoeste Kassu

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Mãe expõe sofrimento desde desaparecimento da filha há um ano

A diarista Ana Domingas não contou à neta sobre o desaparecimento da filha

Foto: Alair Ribeiro/MidiaNews

Há um ano, a diarista Ana Domingas Santana, de 54 anos, escuta todos os dias uma pergunta que considera a mais difícil de responder.
 
 “Vovó, quando a minha mãe vai voltar?” é o questionamento rotineiro feito pela neta dela, de três anos. A resposta da mulher é sempre a mesma: diz que a filha – a cabeleireira Mariane Cristina Santana de Almeida, de 28 anos – retornará em breve.
 
Mariane Cristina está desaparecida desde 28 de agosto de 2016. Era início de noite de domingo, quando ela avisou ao pai que iria à igreja, no bairro Parque Cuiabá, na Capital. A cabeleireira se arrumou, deixou a filha mais nova com os pais e saiu. Não voltou mais.
 
A última vez em que ela foi vista, conforme uma testemunha, foi na noite daquele domingo, quando saía da igreja. Ela teria entrado em um automóvel Celta branco e desapareceu.
 
Desde então, a diarista contou que tem vivido dias difíceis e luta para conseguir encontrar informações sobre o paradeiro da filha, que ela acredita que esteja viva.
 
“É um ano de angústia e sofrimento. Há dias em que estou bem, mas em outros estou muito mal. Não saber o que aconteceu com seu filho, é muito difícil, é muito sofrimento. Às vezes, nem acredito que isso aconteceu. Todos os dias, pra mim, parece que ela vai entrar por essa porta e falar que ela estava em algum lugar, com alguém que não a deixava falar com a gente”, disse, emocionada.
 
Mãe de quatro filhos, incluindo Mariane, ela revelou que apenas o pai da jovem perdeu a esperança de encontrá-la viva. “Os meus filhos, meus irmãos e minha mãe também acham que ela está em algum lugar, mas não sabemos onde. Eu não acredito que ela esteja aqui em Cuiabá”, afirmou.
 
 
"É um ano de angústia e sofrimento. Há dias em que estou bem, mas em outros estou muito mal."

 
A Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) instaurou inquérito civil para apurar o caso. No entanto, não houve nenhuma informação concreta sobre o desaparecimento dela.
 
Houve apenas relatos de pessoas que supostamente teriam visto a jovem, mas a Polícia Civil não conseguiu localizá-la e não descarta a possibilidade de que as informações tenham sido trotes.
 
Há dois suspeitos de serem os responsáveis pelo sumiço da jovem. Eles teriam agido em conjunto. No entanto, conforme a mãe da jovem, ainda não há provas contra os homens.
 
“A Polícia não possui nenhum fato concreto, que possa fazer com que as investigações andem”, lamentou a mãe de Mariane.
 
Em razão da falta de novidades sobre o desaparecimento, a mãe adotou, ao longo dos meses, métodos próprios para tentar obter novas informações sobre o paradeiro da filha.
 
“A gente colou cartazes em Cuiabá e Várzea Grande e também chegamos a procurá-la por conta própria. Mas, agora, o que fazemos é utilizar camisetas com o rosto dela, para que as pessoas, caso a vejam, saibam que ela está desaparecida”, disse.
 
O desaparecimento
 
De acordo com a diarista, na data em que desapareceu, Mariane teve uma manhã normal e não demonstrou nenhum comportamento atípico.
 
“Eu saí de casa de manhã, para trabalhar em uma peixaria, e antes passei na quitinete onde ela morava. Avisei que estava saindo e pedi para ela ir para a minha casa, para olhar a filha dela, que sempre ficou sob os meus cuidados”, explicou.
 
“Ela respondeu: ‘Tá bem, mãe’, sem nem abrir a porta. Depois, eu fui para o meu trabalho”, detalhou.
 
Horas depois, a cabeleireira foi para a peixaria, com o pai e os filhos. “Eles ficaram a tarde inteira lá. Por volta das 18h30, minha filha, meu marido e meus netos foram embora. Depois, o pai dela me disse que estava em casa e só ouviu ela falar que deixaria as crianças dormindo e iria para a igreja”, comentou.
 
“Ninguém viu com que roupa ela estava quando saiu. O que sabemos é que ela foi com uma bolsa, que sempre carregava. Mas não levou a Bíblia, que ela sempre levava quando ia à igreja”, completou.
 
Por volta das 23h, a família estranhou o sumiço da jovem. O irmão dela, então, teria ligado no celular de Mariane.
 
“A gente achou que ela pudesse estar lanchando, porque sempre fazia isso quando saía da igreja, mas ela não atendeu às ligações. O celular estava desligado e ela nunca ficava com o aparelho sem bateria, por isso estranhamos. Desde então, nunca mais nos falamos”.
 
Uma testemunha, que estava na igreja, informou à Polícia Civil sobre a última vez em que a cabeleireira foi vista.
 
“Essa pessoa disse que a minha filha mandou um áudio para uma pessoa, pelo WhatsApp, e disse: ‘Você vai vir me pegar? Se você não vier, eu já vou’. Depois disso, não demorou e apareceu o Celta branco. O motorista chegou, ela sorriu, entrou no carro e nunca mais apareceu”, detalhou.
 
Alair Ribeiro/MidiaNews
Mariane Cristina desaparecida
Mariane está desaparecida desde agosto do ano passado

 
O carro não foi identificado, em razão da ausência de imagens de circuito interno na região. A placa não chegou a ser anotada por ninguém que viu a jovem entrando no automóvel. A pessoa que estaria dirigindo o veículo também não foi identificada.
 
“Tentamos conseguir as informações do WhatsApp, para saber para quem ela mandou o áudio, mas o aplicativo não disponibiliza a quebra de sigilo”, disse.
 
A diarista acredita que a filha pode ter sido enganada por um desconhecido ou por um conhecido, que a convenceu a entrar no automóvel. “Ela estava muito inocente, pois dois anos antes tinha sofrido um acidente e teve traumatismo cranioencefálico (TCE)”, observou.
 
O acidente ao qual a mãe da cabeleireira se refere aconteceu em 10 de agosto de 2014. Mariane retornava para casa, em um automóvel conduzido pelo então marido, quando o veículo colidiu contra um poste.
 
“O ex-companheiro dela sofreu fratura no fêmur, mas ela foi quem mais sofreu, pois teve traumatismo no crânio e sobreviveu por um milagre”, relatou.
 
Em virtude da colisão, a jovem teve de reaprender a falar, comer e fazer outras atividades do cotidiano. “Depois do acidente, ela ficou 80% do que era. Não foi mais a pessoa de antes. Ficou mais lenta, estava fazendo acompanhamento com psicóloga e outros tratamentos”, contou.
 
Após o acidente, a jovem passou a utilizar uma cânula de traqueostomia o dia inteiro e perdeu grande parte dos movimentos da mão direita.
 
Entre as possibilidades levantadas pela mãe, para o desaparecimento da filha, está uma possível perda de memória. “Desde o acidente, ela passou a se esquecer das coisas muito rapidamente. Então, pensamos que ela pode estar perdida e desmemoriada em algum lugar”, afirmou.
 
Enquanto lutava para reaprender a fazer atividades básicas e se recuperar do acidente, a mãe da jovem conta que Mariane foi abandonada pelo marido. “Depois de um ano, ele largou a minha filha. Isso piorou ainda mais o estado dela, pois ela não aceitava a separação”, disse
 
Uma das lembranças mais recentes que a diarista guarda da filha é sobre uma situação que aconteceu em um sábado, um dia antes de a cabeleireira desaparecer. “Eu não me esqueço. Ela entrou na porta da minha casa e disse: ‘mãe, a partir de hoje não quero mais saber do meu ex. Vou cuidar de mim’”, recordou.
 
Investigações
 
Desde que a DHPP instaurou inquérito para apurar o caso, as investigações pouco progrediram. A mãe da jovem costuma ir à delegacia quase todas as semanas, para pedir respostas ao desaparecimento da filha. Porém, contou que nunca obteve nenhuma resposta.
 
“Há um ano, estou tentando achar alguma informação, mas nada. Nesse período, não houve nenhum avanço nas investigações, nenhum indício concreto. Não houve nada, isso me deixa muito chateada”, disse, emocionada.
 
Segundo ela, a delegada responsável pelo caso explicou que as dificuldades para apurar o sumiço da jovem ocorrem em razão da ausência de pistas sobre o paradeiro de Mariane.
 
“Por causa dessa falta de provas, tanta coisa passa pela minha cabeça.. Hoje em dia, está muito perigoso. As pessoas não têm amor pelo próximo mais. Às vezes, penso que alguém fez algum mal pra ela. Mas eu não acredito que minha filha esteja morta, não. Não sinto isso”, afirmou.
 
A diarista disse que a Polícia Civil já recebeu alguns possíveis trotes sobre o desaparecimento da filha. “Recentemente, uma moça falou que viu a Mariane na Orla do Porto, até detalhou pra mim como ela estava e mencionou uma toalha, que a minha filha usava sempre, por conta da traqueostomia”.
 
Alair Ribeiro/MidiaNews
Mariane Cristina desaparecida
“A Polícia me disse que era trote, mas mesmo assim eu fiquei nervosa. Essa moça disse que a minha filha estava acompanhada de uma pessoa e chorava bastante, mas falou que não chamou a Polícia porque não sabia que se tratava de uma pessoa desaparecida”, completou.
 
Ana Domingas observou que outros relatos, de pessoas que supostamente teriam visto Mariane, foram feitos após o desaparecimento. “Já me falaram duas vezes que tinham visto ela, mas não tiveram coragem de ir na delegacia, para falar certinho. Às vezes, acho que são pessoas que brincam com nossos sentimentos”.
 
Mesmo com as informações que em nada colaboraram para as investigações, a diarista pediu que as pessoas que possam ter visto a jovem informem o fato. “Se alguém vir, realmente, a minha filha, por favor, entre em contato com a DHPP [65 3901-4823 ou 3901-4825]”, disse.
 
Para Ana Domingas, o crime da filha está mal investigado. Porém, ela acredita que as coisas ainda serão esclarecidas. “Uma hora vai aparecer o culpado. Entendo que a Polícia tem muita coisa para fazer, pois existem muitas pessoas desaparecidas”, declarou.
 
“Sei que uma hora isso vai terminar e vão descobrir o que aconteceu, porque nenhum crime fica impune. Nada fica impune diante de Deus”, completou.
 
Os filhos
 
A diarista e o marido são os responsáveis por cuidar dos filhos da jovem desaparecida. Mariane é mãe de um garoto de 11 anos e de uma menina de três. As crianças recebem visitas sazonais do pai, ex-marido da cabeleireira.
 
Segundo a mãe de Mariane, os netos sentem todos os dias a ausência da mãe. “O mais velho já sabe que ela está desaparecida, ele entende, mas não é muito de tocar no assunto ou ficar perguntando. Mas eu sei que ele sofre”, disse.
 
Ana Domingas relatou que um dos momentos mais tristes de seus dias é logo pela manhã, quando a neta mais nova acorda.
 
“Ela já acorda perguntando pela mãe e eu sempre falo que a minha filha viajou. Agora ela tem perguntado: ‘tanto tempo viajando, por que a minha mãe não volta?’. Isso me deixa muito triste”.
 
“Às vezes, eu acho que a minha netinha sonha com a mãe todos os dias e, por isso, sempre me pergunta. Quando eu falo sobre a viagem, ela responde: ‘minha mãe vai voltar, se Deus quiser. Logo minha mãe vai voltar de viagem’. Isso acaba comigo”, contou.
 
 
"Às vezes, eu acho que a minha netinha sonha com a mãe todos os dias"
 
Apesar de evitar falar para a neta sobre o desaparecimento da filha, a diarista comentou que se a jovem permanecer sumida, acabará tendo que contar a verdade para a criança. “Uma hora vou ter que dar uma explicação para ela. Mas não agora. Por enquanto, é melhor ela pensar que a mãe viajou, pois ainda é muito pequena”, observou.
 
A mãe da cabeleireira desaparecida tem se mostrado forte para os filhos e para os netos. Porém, a irmã dela, a dona de casa Madalena Santana, de 61 anos, revelou que a irmã tem sofrido intensamente nos últimos meses.
 
“Tem vez em que ela não amanhece bem e chora muito. Aí nós sofremos juntas e compartilhamos a dor. Só Deus para confortar e dar força e coragem para que as mães que têm filhos desaparecidos continuem a vida. É uma incerteza muito grande. Isso tudo dói. Todos sofremos, a família chora junto e sofre junto”.
 
 Em meio ao sofrimento, Ana Domingas confessou que tem batalhado para seguir adiante, enquanto vive com a angustiante espera por respostas para o desaparecimento.
 
“Eu olho para os meus netos, me dá um desespero. Porque se para mim é difícil, imagina para eles, que sofrem comigo. É muito difícil, cada dia é uma coisa diferente que a gente sente”, contou, emocionada, enquanto segurava um retrato da filha com a neta, então recém-nascida.

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