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29/06/17 às 09:51

Azul Celeste

O brilho dos seus olhos azuis já se misturou ao azul do céu. Aos 89 anos, Lenir Couto da Silva nos deixou esta semana. Devota do Divino Espírito Santo, costumava tirar esmolas nas festividades do Divino, enquanto a sua saúde permitiu. Uma forte queda há quatro anos atrás deixou sequelas em sua saúde, comprometendo a sua locomoção e um pouco da sua memória.  Desde essa época, afastou-se do convívio social.

O azul também predominou na escolha do seu clube. O Clube Esportivo Dom Bosco foi o seu clube de coração. Irmã de Ana Maria do Couto, a May, que foi presidente do Clube Esportivo Dom Bosco em 1971, e que,  talvez tenha sido a primeira mulher no mundo a presidir um clube ligado ao futebol, casou-se com um dom-bosquino ferrenho: Gonçalo Ribeiro da Silva, que foi do conselho deliberativo do clube, e que, por um breve período de transição, assumiu a presidência interina do clube junto a dois outros conselheiros.

Com o jovem oficial da Polícia Militar de Mato Grosso foi amor à primeira vista. Casou-se com o primeiro namorado e grande amor da sua vida, cuja união só a morte do esposo, já com a patente de coronel, separou.

Poucos conheceram o seu lado forte e guerreiro. Sempre esteve ao lado do marido, que foi “sapador” e abriu estradas no “mundão” de um estado ainda não dividido. Ao invés de ficar no conforto do lar, optou por acompanhar o esposo. Morou em acampamentos empoeirados no interior de Mato Grosso e dormiu em redes em regiões inóspitas. Os buracos das antigas estradas a fizeram sofrer um aborto na primeira gestação. Tiveram dificuldade para conseguir ajuda médica adequada à época, o que pode ter causado problemas em sua saúde. O primeiro filho morreu na hora do parto. Dizem que parecia muito com a mãe, com cabelo ruivo e olhos azuis. Foi a segunda perda forte para Lenir. Fervorosa, agarrou-se às orações. Após um tempo conseguiu realizar o sonho de ser mãe: teve três filhos.

Foram várias outras batalhas vencidas durante sua existência, até que, no último dia 26, partiu serena, em casa, deixando para seus filhos e neta, um exemplo de luta, dedicação e dignidade.

Lenir pediu que quando partisse fosse sepultada com o bolero “Sabor a mi” sendo entoado. Gonçalo estaria esperando-a de braços abertos e juntos iriam dançar, como faziam nos antigos bailes de Cuiabá. O seu pedido foi atendido. Agora descansa no jazigo da família no cemitério da Piedade, com a ossada do seu grande amor ao lado. Foi sepultada usando um vestido azul.
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