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29/08/15 às 20:04 | Atualizada: 29/08/15 às 21:24

Povos indígenas, culturas e educações

Cada sociedade concebe o corpo humano conforme seu sistema de significados, sua cultura. É a partir destes significados que decidem o ideal intelectual, afetivo, moral ou físico que a educação por meio da socialização de suas crianças marca. A cultura ao iniciar este processo torna em “natural e universal” os padrões de comportamento que foram moldados. Contudo, por uma simples observação em nosso meio notamos que o corpo humano é afetado pela religião, pela ocupação, pelo grupo familiar, pela classe e outros fatores sociais e culturais.

. Como foi dito anteriormente, cada sociedade é prenhe de significados que desejam imprimir nas suas crianças e jovens por meio de socializações. E, cada povo em particular tece essa rede de significados. Muitas sociedades indígenas, ainda mantêm uma educação especializada como prática social que une o saber, a vida e o trabalho. Educam-se na vida do dia-a-dia da comunidade, quando fazem suas roças, coletam frutas e escutam as histórias dos mais velhos e realizam e participam de cerimônias coletivas.

Essa educação, que no cotidiano garante aos mais jovens a constituição de uma identidade coletiva, é aprimorada nos momentos ritualísticos e festivos presentes em todas as sociedades. Os rituais indígenas geralmente marcam passagens de uma fase da vida para outra, como nominação (imposição do nome após o nascimento), o funeral, a reclusão (masculina e feminina) ou casamento. Nesses ritos de passagem, cada indivíduo é integrado à sociedade a partir da cultura, e nela se constitui pessoa.

Nas sociedades indígenas, a educação e a instrução se configuram como parte de um mesmo processo de formação de cada pessoa e a interdisciplinaridade é uma constante, pois não há a disciplinarização dos saberes tradicionais, embora haja autoridades específicas responsáveis para instruir determinadas práticas corporais e artísticas, estas são sempre voltadas para a constituição da pessoa de forma processual e educativa, tendo como sustentação sempre ações coletivas.

Para os povos indígenas a escolarização foi uma necessidade pós-contato Diante disto, como ocorre à formação dos professores indígenas dos primeiros anos? Na escola valoriza a identidade em particular ou eles acabam imprimindo os significados dos “outros”? A educação processada nos corpos das crianças é da sociedade não indígena? Relatos de alguns professores indígenas e não indígenas nos cursos de formação trazem uma realidade que desconsidera as sociedades indígenas e provocam a baixa-estima e vergonha nos alunos indígenas e o desmantelamento da cultura desses povos. Qual educação escolar vai ao encontro dos anseios da comunidade?

Portanto, é fundamental possibilitar políticas públicas que inicie ou reafirme um processo de educação escolar indígena  que supere a escola que historicamente tem mantido as diferenças e a desqualificação dos saberes tradicionais, passa por reconhecer esses saberes de forma integral, isto é, interdisciplinar, histórica e intercultural, para a partir dele, questionar quais conhecimentos da sociedade envolvente interessam e como devem ser apropriadas para que possam contribuir para o fortalecimento de cada identidade indígena específica.

Com a comunidade indígena é possível transformar a escola num espaço que reconheça as diversidades socioculturais e estabeleça a interdisciplinaridade, uma possibilidade para a educação intercultural, isto significa uma educação que valoriza as diferenças sem promover a exclusão de formas de pensar e ser e, assim, amplie a visão de mundo e da realidade vivenciada.

E, como disse o líder ativista Airton Krenak é o processo histórico de resistência dos povos indígenas que vai delinear o papel que a educação escolar assumirá como mediadora das relações com a sociedade envolvente contemporânea.
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