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18/08/15 às 10:30

Médico: Sacerdócio ou Profissão?

A profissão que todos os pais e avós sonham para os seus descendentes. Anos e anos de estudos, plantões em hospitais, horários de trabalho alternativos...

Tudo isso vale a pena? 
Sabemos que os primeiros médicos foram os sacerdotes que, nas diversas culturas, inspirados ou credenciados pelos deuses, praticavam a arte de curar. Era, portanto, a Medicina uma atividade divina, exercida pelos deuses por intermédio desses sacerdotes.

Mas Medicina não é apenas isso. Medicina é e sempre será sentimento e arte. Sentimento que nasce do indissociável compromisso de solidariedade com o homem. Arte que aflora da sensação de que o conhecimento científico não encerra em si toda a natureza do nosso ofício. A Medicina transcende ao óbvio tecnicismo, é muito mais que um desejo de conhecimento: é um sonho de transformação. E nós, médicos, somos apenas guardiões deste sonho.

Por mais que a profissão médica esteja envolta numa aura vocacional e de entrega quase que total, é conveniente que o paciente saiba que o médico tem uma vida fora da medicina, o que envolve família, lazer, cidadania e até mesmo necessidades fisiológicas e que assim como qualquer ser humano esta suscetível a riscos de enfermidades.

Já é notório o dizer “O hábito faz o monge”, provérbio português e brasileiro, o qual permite bela interpretação a partir do duplo significado do vocábulo “hábito”, indumentário ou comportamento. Da mesma forma “O hábito faz o médico”. Igualmente, não é o vestuário o determinante, por mais belo o traje, comumente jaleco, por mais requintado o estetoscópio ou outro aparelho. Também não é a insígnia, registro profissional ou diploma, outra possibilidade de sentido para o termo. Não é isso que faz o médico, assim como os monges. Na construção do sujeito médico verdadeiro é exigência imprescindível, além do estudo perene contemporâneo e atualizado, a moral, a ética, a retidão de caráter, a empatia sincera, a alteridade acolhedora, a consciência social, a inclinação humanística e o amor ao semelhante, como missão diária de assim pensar, sentir e agir, enfim, modus operandi, o proceder, na prática médica cotidiana.

A razão é elementar: a medicina não é mais um sacerdócio. A época de Hipócrates acabou. A medicina não é mais exercida somente por sacerdotes, padres, xamãs, curandeiros; é exercida por profissionais, que recebem um pagamento, possuem chefes a quem responder, exigências, responsabilidades e, acima de tudo estão sujeitos a processos por mal prática, que crescem de forma exorbitante nos EUA e estão seguindo o mesmo caminho aqui no Brasil.

Querendo ou não todo médico é um pouco uma figura pública, mesmo que tenhamos aversão a palavra “celebridade”. Temos um conhecimento que se disseminado pode salvar vidas ou pelo menos melhorar muito a qualidade delas. Disseminar esse conhecimento dentro na nossa “audiência” é um bem que fazemos para nossa carreira e para a saúde.

Será que confundem o exercício da medicina com sacerdócio de graça, que não existe em nenhuma religião, ou “profissão de fé” de não receber pelo trabalho realizado? Ou é má-fé inominável? Num país capitalista os salários são regulados pelo mercado. Assalariados não impõem quanto vão ganhar, por que só médicos teriam de dizer que querem menos do que paga o mercado, que aqui é majoritariamente precarizado: sem carteira assinada e sem concurso público?

O sacerdócio na Medicina nada mais é que uma extensão da profissão, visto que está inserido em todo o contexto médico, impossível dicotomizá-lo e ser médico em sua plenitude.

Minha admiração a todos aqueles, que lutam pelo aprimoramento da saúde e tem as mãos e as cabeças iluminadas. E que entendem que ¨Médicos não são deuses, são apenas ferramentas de Deus¨ (Platão).
 
Dr. Orlando Barreto Neto
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