Quando o cinema mudo se consolidou como fenômeno de massa, diretores e produtores esbarraram numa questão até certo ponto prosaica: por se tratar, até então, de linguagem puramente visual, a imagem dos atores era se não o maior, mas por certo um dos mais fortes cacifes dos cineastas para alavancar seus filmes. Ocorre que a um rosto bonito nem sempre correspondia um sorriso à altura.
Para enfrentar esse dilema, diretores convocaram uma espécie de guru do sorriso perfeito — o dentista Charles Pincus. Ao criar seus protocolos da maquiagem dentária como um dos componentes das produções cinematográficas ele tornou-se um dos responsáveis diretos por uma era, de resto em voga até hoje, de sorrisos brancos e perfeitos. Pincus desenvolveu a técnica de aplicar finas plaquetas de porcelana na parte frontal da arcada dos atores, resolvendo a questão dos dentes mal alinhados, escuros e quebrados. Essas finas lâminas de porcelana eram fixadas de forma provisória para as filmagens do dia; feito isso, eram removidas e guardadas para serem recolocadas no dia seguinte.
Se, para o cinema, criavam-se ali os primeiros artifícios para o ídolo não decepcionar os fãs, para a Odontologia a experiência de retificação de sorrisos chamou atenção para a questão da estética como componente do exercício dessa profissão. No final dos anos de 1970 surgiram os poderosos adesivos dentários, que deram impulso, digamos, popular à criação do dentista de Beverly Hills, e tornaram o recurso das facetas de porcelana um novo procedimento para melhorar a estética dental. A utilização desses recursos por celebridades em geral, e não apenas do cinema, criou uma verdadeira febre na busca do sorriso branco e perfeito.
Essas técnicas, quando usadas de forma adequada, podem ser grandes aliadas para quem busca um belo sorriso. Mas é preciso ponderação: a estética é um elemento de bem-estar do ser humano, mas a beleza em si nem sempre é um fim na Odontologia. Dentes bem tratados e uma boca sadia são, também e principalmente, uma blindagem contra doenças que, dali derivando, costumam se manifestar em outras partes do organismo.
A área entre os maxilares é uma sopa de bactérias. Dessas, só uma pequena parte está identificada. É incontável o número de agentes, muitos potencialmente nocivos para a saúde, ainda não indexados. Quando, por más condições sanitárias (escovação mal feita e outros hábitos deficientes de higiene), algumas dessas bactérias se transformam em inimigas da saúde o estrago que provocam pode ser fatal. Há, na literatura médica, até relatos de enfartes cuja cadeia causal se originou na boca.
Deve-se buscar o ponto de equilíbrio entre estética e saúde. Exageros estéticos não podem se sobrepor à saúde bucal. Ambos são elementos que precisam estar harmonizados.