Artigos / Eumar Roberto Novacki

31/07/17 às 13:17

A hipocrisia ambiental

Estamos sim fazendo nosso dever de casa na questão ambiental, pois 66% do território brasileiro hoje é dedicado à preservação da vegetação nativa, montante maior do que todo o território da União Europeia! Mesmo com este cenário, sabendo de nossa importância para a preservação do planeta, assumimos um novo desafio durante a Conferência do Clima de Paris (COP 21), em 2015: zerar o desmatamento ilegal até 2030.
 
Um estudo em andamento pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mostra que os produtores brasileiros preservam mais de 176 milhões de hectares em reserva legal, áreas de preservação permanente e remanescentes. Isso representa mais de 20% do território nacional e mais que o dobro da área cultivada, 9%. Sendo bastante conservador, temos 2 trilhões de reais imobilizados pelos produtores rurais prestando serviços ambientais a todo planeta. O Brasil ainda conta com as unidades de conservação e as terras indígenas, sobretudo na Amazônia.
 
Nosso país possui a legislação ambiental mais rigorosa do planeta. O produtor rural brasileiro é, sem dúvida, o mais penalizado ao suportar um ônus que não existe em nenhum outro lugar do mundo: em alguns casos, só se pode abrir e utilizar 20% da propriedade rural. E tem de assumir sozinho, o custo da manutenção das áreas destinadas à vegetação nativa.
 
É inegável que o país vem se sacrificando para cumprir os acordos internacionais, garantindo a preservação ambiental a duras penas para o orçamento público.
 
Demonizar o produtor rural brasileiro, seja ele grande ou pequeno, ao dificultar o acesso ao seu meio de subsistência, que é a terra, realmente resolverá o problema do desmatamento? Vai realmente zerá-lo? Qual o custo social e mesmo econômico que o povo brasileiro pagará?
 
As perguntas são muitas e as respostas ainda não sanam as questões que interferem diretamente na oscilação das taxas de desmatamento, que caíram vertiginosamente nos últimos 10 anos. Mas uma coisa é certa: o produtor rural brasileiro sabe que precisa produzir com eficiência, com responsabilidade social e principalmente com respeito ao meio ambiente. Sem isso não tem mercado.
 
Os números mostram que o setor produtivo tem sido um grande contribuinte e parceiro das políticas ambientais. Conhecemos o papel do Brasil na conservação da biodiversidade do planeta e na mitigação das mudanças climáticas. Essa política ambiental foi a escolha que nosso país fez no passado. Foi uma decisão acertada e continuaremos nessa direção, mas o retorno que o Brasil tem deste "investimento" é praticamente zero. Sobram ainda críticas de alguns países desenvolvidos, que trocaram "florestas" por desenvolvimento econômico, mas hoje, por "apoiarem" projetos de preservação ambiental, se acham com esse direito. É como se um vizinho visitasse nossa modesta casa, construída a duras penas, e encontrando uma lâmpada queimada, viesse a troca-la. E por essa razão, se achasse também dono e no direto de criticar um acabamento que a seu ver, está mal feito.
 
Convenhamos, não é possível colocar em prática uma política ambiental que promova o desenvolvimento sustentável da Amazônia com migalhas. Não dá para pesar ainda mais a mão do Estado apenas em ações de comando e controle, sem considerar o aspecto econômico e social dos povos da região. Além de críticas injustas, é apenas isso que os países desenvolvidos têm a nos oferecer?
 
O mundo todo fala da importância da preservação das florestas. Mas só nós, brasileiros, pagamos a conta? É urgente e necessário repensar esse processo.
 
Existem falhas na política de preservação ambiental brasileira? Por óbvio que sim. Como em qualquer outro setor, mas o acerto é fruto de muito esforço. Porém, temos mais motivos para nos orgulhar do que fazemos e dos avanços conquistados.
 
Temos uma meta: queremos sair de quase 7% para alcançar 10% da participação brasileira no mercado internacional do agro em 5 anos. Nas missões lideradas pelo ministro Blairo Maggi, mostramos o que estamos fazendo e exigimos respeito. Entendemos que ao menos uma preferência de mercado, seria uma compensação justa aos serviços ambientais prestados pelo Brasil.
Eumar Roberto Novacki

Eumar Roberto Novacki

Eumar Roberto Novacki, secretário Executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
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