Artigos / Gabriel Guidotti

03/02/16 às 23:17

Juízo no Carnaval

O Carnaval deste ano marca o 3º aniversário do falecimento de meu avô. Em 2013, na cama de um hospital de Porto Alegre, enquanto as escolas de samba desfilavam seus enredos alegremente, ele dava seus últimos suspiros. Uma imagem que nunca vou me esquecer. Mas sabe o que penso disso? Foi um privilégio estar com ele momentos antes do fim. Privilégio este que muitas famílias, após o Carnaval, jamais terão.
 
Não é nenhuma novidade que a folia é momento de descontrair, beber, se divertir. Essa tríade, entretanto, pode se transformar em uma combinação perigosa quando o corpo perde o discernimento, a razão. Pare e pense por um segundo: vale a pena colocar uma jornada inteira em risco por alguns momentos de prazer? A possibilidade de nunca mais ver seus filhos, pais, avós, já não seria motivo suficiente para, por exemplo, um folião não misturar bebida e direção?
 
Se o Carnaval nos permite sonhar, esquecer os problemas mundanos, serve também para renovar nossa consciência. Álcool em profusão afeta o julgamento. Excesso de pessoas nas praias, bem como outros lugares de lazer, exige certo nível de paciência, pois o relaxamento é um direito de todos, embora os viajantes escolham os mesmos lugares para visitar, o que acaba gerando superlotação. A civilidade entre diferentes deve prevalecer.
 
Para o bom observador, a data é propícia para a análise de comportamentos. Além dos indivíduos beberrões que perdem o controle – e que acabam estragando a festa alheia – há os arruaceiros que brigam, importunam, desrespeitam; matam. Inocentes sofrem pelo caminho. Há meios legítimos para combater essa classe de gente repugnante, que nada mais faz do que olhar para o próprio umbigo. Diversão não significa imersão total em gostos e desejos. Sempre há pessoas que não compartilham a folia da forma excêntrica e dinâmica com que é vendida. Cada um faz o seu Carnaval, sem descuidar da vizinhança.
 
Meu avô foi longevo o suficiente para compartilhar comigo inúmeros segredos e valores. Entre eles, o respeito ao próximo, o amor pela humanidade. Amar significa não tensionar a vida do outro. Significa zelá-la, isto é, não afetá-la por acidentes indesejados. Permita que as famílias de hoje sigam a ordem natural do tempo e não precisem enterrar seus parentes antes da hora certa. Desfrute prazeres com equilíbrio e moderação. Redobre a atenção no trânsito. Somente assim, por meio de uma folia responsável, o Carnaval deste ano será um sucesso. Juízo, por favor, pelo bem de todos nós.
Gabriel Guidotti

Gabriel Guidotti

Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em direito, jornalista e escritor.
Porto Alegre – RS
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